Quem é o empresário que trouxe Kalou e Honda para o Botafogo
A torcida do Botafogo está em êxtase após as contratações de Keisuke Honda e Salomon Kalou. A chegada de um desses reforços internacionais já seria algo a se comemorar. Dois deles na mesma temporada, então... Além dos dirigentes do Alvinegro, os torcedores devem agradecer também a Marcos Leite.
Ex-jogador de futebol com passagens pelas categorias de base dos quatro clubes de São Paulo, Marcos Leite teve uma carreira curta. Após rodar por alguns times pequenos do Brasil, decidiu pendurar as chuteiras ao se cansar dos problemas do "lado b" da profissão.
"Eu comecei na base do Palmeiras, fiquei por dois anos e conheci o Diego Cavalieri, meu parceiro. Depois fui para São Paulo, tudo na base. Fui para o Santos, onde fiquei até o último ano antes do profissional. Profissional eu rodei por Minas Gerais, Santa Catarina... Rodei em vários clubes pequenos até decidir parar, com cerca de 30 anos. Não recebia, tinha muita dor de cabeça com isso", disse Marcos Leite ao UOL Esporte.
Leite sabia que gostaria de seguir no futebol, mas em outra função. Não havia a menor possibilidade de fazer outra coisa na vida. "Fiz cursos, me especializei e passei a trabalhar como empresário em 2014", afirmou. Até o fim de 2019 trabalhou para uma empresa até decidir abria a própria.
E ele precisou de apenas um mês no novo negócio para sair do anonimato. Pouco conhecido do grande público até então, ele entrou no cenário em fevereiro e tornou possível o Botafogo ter Honda no elenco. As negociações foram rápidas e terminou em grande festa no aeroporto no Rio de Janeiro. Desde então, Marcos passou a ser festejado pela torcida nas redes sociais.
"Começamos mesmo no fim de janeiro e logo em fevereiro já negociamos o Honda, negociação grande. Agora veio o Kalou e esse é o foco da nossa empresa neste momento. Claro que vamos trabalhar com atletas mais jovens, leva-los para fora do Brasil. O foco inicial era esse: trazer jogado renomado, de peso, para o Brasil", reiterou.
"Botafogo tem sido um grande parceiro. Quando pensei em trazer o Honda para o Brasil, logo de cara pensei no clube, que é gigante e, ao meu ver, estava carente de ídolos. Torcida precisava de um ídolo. Iniciei as conversas com o Ricardo Rotenberg, que gostou de cara. Me convidou para ir ao Rio para uma conversa. Expliquei e ele achou que seria uma loucura, que seria muito caro. Mas quando fui explicando que o salário do Honda caberia no orçamento, a animação tomou conta. Deu tudo certo e o Honda está feliz da vida", completou.
Nem mesmo o conturbado capítulo com Yaya Touré manchou sua reputação com os botafoguenses, que ficaram do seu lado e criticaram o marfinense. A relação com o ex-jogador do Barcelona ficou estremecida e dificilmente será retomada. A página foi virada.
"Foi uma situação muito decepcionante, uma coisa que não precisava. Eu, particularmente, conversei com o agente dele depois e disse que não teria problema dizer que mudou de ideia. Porque ele deu a palavra dele, ele disse sim ao Botafogo, estava tudo certo. Mesmo depois disso tudo, ele poderia falar que mudou de ideia. Era direito dele fazer isso, mas ele decidiu ir por outro caminho. Não respeitou meu trabalho, eu falava com ele há mais de um mês. Faltou respeito com Rotenberg e com o Botafogo. Ele não pode fazer isso com o Botafogo, me desculpa, não pode. No momento ficamos chateados, mas depois, quando esfria a cabeça, e para pensar, você até agradece que as coisas aconteceram desse jeito. Ainda bem que não deu certo", afirmou.
E para a felicidade do Botafogo ainda havia mais um capítulo. Após Yaya, outro marfinense entrou no caminho do clube. Dessa vez para ficar. Salomon Kalou esperou o fim do seu contrato com o Hertha Berlim para fechar com o Alvinegro. Assim como havia ocorrido no acerto com Honda, Marcos Leite teve papel fundamental ao lado de Ricardo Rotenberg, integrante do comitê executivo de futebol do clube.
"Kalou é engraçado, tem opinião forte contra o racismo, já interagiu bastante com os torcedores nas redes sociais, ele gosta disso. É bem tranquilo, de grupo, vão gostar muito dele, é muito brincalhão e será bem recebido. Jogador que ficou na Europa durante toda a carreira. Ajuda na marcação, tem velocidade, sabe fazer gol. Tenho certeza que vai dar certo", concluiu
A parceria permanecera viva, mas não há nenhuma expetativa para a chegada de novos reforços de peso. Com elenco mais forte para o Brasileiro, o Botafogo dará uma folga para Marcos Leite. Pelo menos por enquanto.
Veja outros trechos da entrevista:
Vida como empresário
Eu comecei sozinho, depois fui para uma empresa em São Paulo. Em 2017 minha esposa teve proposta para se mudar para Nova Iorque a trabalho e fomos. Continuei trabalhando de lá, mas foi difícil por estar fora do mercado. Voltei para o Brasil em dezembro e tive a ideia de montar uma nova empresa, a MR2, que sou sócio com Rodrigo Pontes, volante que jogou no Corinthians e mais dois amigos.
Escolha dos jogadores
Eu sempre acompanhei muito futebol. Todos esses jogadores que trouxe, Honda e agora o Kalou - até o Yaya Touré também - são jogadores que eu sempre acompanho, assisto e gosto. Não é só para fazer negócio, são jogadores que eu contrataria se fosse presidente de um clube. Sei que dentro de campo vão resolver, chamar a responsabilidade, ajudar os mais jovens. No caso do Botafogo, o Luiz Henrique, por exemplo, vai evoluir muito ao lado do Honda e do Kalou. Tinha em mente que seria legal trazer esses atletas para o Brasil. Desperta interesse até do torcedor rival. Foi bem legal quando o Seedorf veio, você via a comoção da torcida e ele jogou muito. Vale muito a pena trazer esse tipo de jogador. Mas precisa colocar na cabeça dele que ele vai ter que se adequar à situação do clube. Sabem que não virão para ganhar muito dinheiro. Precisa entrar com marketing para ele ter uma compensação financeira mais justa, colhendo os próprios frutos.
Trazer medalhões não é comum no Brasil...
Eu acho que daqui para frente pode virar uma tendência. Outros clubes podem seguir essa linha do Botafogo porque a repercussão é muito grande. Honda já se pagou com sócio torcedor. Algo acima de R$ 6 milhões com apenas um jogo na oportunidade. Com o Kalou a expectativa é a mesma coisa. Nome do Botafogo na mídia mundial. Vai atrais sócios, PPV, patrocínios. Isso pode virar tendência.
Como é negociar com esses grandes nomes?
No caso do Honda, por exemplo. Ele é um cara sensacional, muito bacana, tranquilo, correto. Foi bem simples de negociar. Ele perguntou quando o clube poderia pagar, ouviu a proposta, pensou e disse que sim. Ele é bem prático. Não vai exigir nada mais, nada menos. É um cara muito bacana. Gosta de interagir com os torcedores. Kalou também é parecido. Engraçado, tem opinião forte contra o racismo, já interagiu bastante com os torcedores nas redes sociais, ele gosta disso. É bem tranquilo, de grupo, vão gostar muito dele, é muito brincalhão e será bem recebido. Yaya, não, era um pouco mais fechado, não falava muito.
Planos futuros
Relacionamento com o Botafogo vai continuar. Estou pronto para ajudar a hora que precisarem. Meu trabalho continua, ne? Vou continuar monitorando o mercado com lista extensa de atletas. Estarei sempre pronto. Neste primeiro momento o Botafogo já se reforçou e acredito que vai dar uma segurada agora. Grupo está mais forte. Estou olhando o mercado para outros clubes, já estou conversando com outro jogador e vamos ver se vai avançar.
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