Terceiro elemento da histórica troca entre Neto-Ribamar também se arrepende
A troca que levou Neto do Palmeiras ao Corinthians no final da década de 1980 ficou marcada na história do futebol. Enquanto o então jovem meia mudou de ares e se tornou ídolo com a camisa alvinegra, Ribamar, que fez o caminho oposto, não se destacou no time alviverde. A negociação é usualmente citada como uma das mais frustrantes para o torcedor palmeirense, mas comemorada e exaltada até hoje pelos corintianos.
O negócio, no entanto, não envolveu apenas Neto e Ribamar. O lateral Dida também deixou o Parque São Jorge com destino ao antigo Palestra Itália. O quarto elemento foi o também lateral Denys, que teve pouco sucesso no futebol. Ao contrário de Dida, que tinha passagens pela seleção brasileira de base, título brasileiro pelo Coritiba em 1985 e a característica de ser polivalente por atuar nos dois lados do campo.
Talvez tenha sido o meu maior erro ter trocado o Corinthians pelo Palmeiras. No Corinthians eu era o titular, eu já estava consagrado, eu já tinha sido campeão e aí você pega e muda? Hoje eu não faria isso, mas naquela época você não tinha orientação e eu acabei meio que sendo pressionado".
Em entrevista ao UOL Esporte, o ex-lateral relembra a negociação e confessa que hoje se arrepende por ter trocado o Corinthians pelo Palmeiras, além de relembrar o início da carreira no Paraná e o interesse de contribuir para o futebol trabalhando nas categorias de base.
Seu nome é Marcos Aurélio Morais dos Santos, então por que Dida?
Meu pai foi jogador de futebol e ele era um cara muito antenado. Na década de 1950 tinha o Dida, que jogava no Flamengo. Quem substituiu o Dida na seleção brasileira foi o Pelé. Quando eu nasci, a minha irmã, que é um ano mais velha, começou a apontar o dedo para mim e falar "Didi, Didi" e não sei o que lá... Meu pai já emendou e falou: "vamos pôr o apelido nele de Dida". Foi assim, desde garoto. Quando eu cheguei no futebol também encaixou Dida e ficou.
E quando surgiu o goleiro Dida? Como foi isso para você, o Dida mais recente naquele momento?
É engraçado porque se a gente for pensar tinha o Dida mais velho, aquele que jogou no Flamengo, depois eu. Quando surge o Dida goleiro, aí confunde um pouco. Outro dia eu fui na ESPN para fazer uma entrevista e o cara foi me pegar no aeroporto. Aí eu chego e o cara está lá e fala: "pô, é que eu estou esperando o Dida". Aí eu falo, mas o Dida sou eu. Ele estava achando que era o goleiro. Então acontece muito isso. Outra coisa: o Dida ex- goleiro é bem sucedido, seleção brasileira, Milan, Cruzeiro, Corinthians, magro, alto, baiano, mas quem está no futebol, vive o futebol, entende de futebol, não vai se confundir, mas as pessoas mais leigas confundem. Às vezes, você vai para um lugar os caras te anunciam como Dida e o cara está achando que é o goleiro. Eu levo de boa, sem problema nenhum.
Deu para fazer o pé de meia com o futebol?
Se a gente for analisar com o futebol de hoje, não tem comparação. No meu caso, tenho que correr atrás ainda. Eu tenho que fazer os meus negocinhos para me manter, mas tenho uma boa casa, tenho uma estrutura razoável para viver. Está bom. E o mais importante são os amigos que a gente fez, o conhecimento que a gente tem, isso aí a gente leva para a vida. Agora grana, milionário? Só os caras de hoje mesmo.
Como foi a sua ida para o Corinthians?
Como eu fui o destaque do Campeonato Brasileiro de 1985 pelo Coritiba e estava na seleção brasileira sub-20, tinha muita especulação de transferência. Então era para eu ter ido ao Rio de Janeiro, jogar no Vasco ou Flamengo. Depois São Paulo, antes do Corinthians, e em 1986 eu fui campeão paranaense também e o treinador era o Jorge Vieira (que morreu em 2012). Ele foi treinador do Coritiba e a gente foi campeão paranaense. Na reta final do campeonato ele falou: "Olha, eu vou para o Corinthians e vou levar você". Ele falou para todo mundo, falou para mim e para todos os jogadores do Coritiba. Foi assim, meio para motivar.
O Corinthians é a coisa mais fantástica para qualquer jogador de futebol. Quem se considera jogador de futebol e jogou no Corinthians, pode tirar o chapéu porque você vai do céu ao inferno de uma semana para a outra. A lembrança que eu tenho do Corinthians é de ter a maior alegria de ter jogado lá e ao mesmo tempo também o sufoco, porque a torcida é maravilhosa e ao mesmo tempo também cobra muito, principalmente naquele título paulista de 1988. Já o vice paulista em 1987, nós passamos muitas dificuldades. A gente saiu da lanterna para ser vice-campeão paulista, perdemos para o São Paulo na final".
Por que, então, você aceitou a negociação que envolveu a ida do Neto para o Corinthians? E aceitou sair para o Palmeiras?
Eu e o Ribamar (ex-atacante) fomos do Corinthians para o Palmeiras e o Neto e o Dennis, ex-lateral esquerdo fizeram o caminho contrário. O Dennis acabou nem jogando quase no Corinthians. O Jacenir estava emprestado, voltou e acabou jogando. Foi uma troca vantajosa para o Corinthians, porque o Neto acabou se consagrando. No meu caso, eu me mantive ali, mas sem destaque. Não conquistei nada depois, o Palmeiras não ganhou mais nada. Em 1991, eu fui emprestado para o Flamengo por um semestre para disputar a Libertadores e o Brasileiro. Eu fiquei seis meses no Rio de Janeiro. Aí voltei para o Palmeiras, joguei o ano de 1992 e em 1993 eu saio, emprestado para o Cerro Porteño-PAR. Depois, no segundo semestre de 1993, eu fui emprestado para o Grêmio. Lá eu fui campeão gaúcho. Então depois que eu saí do Corinthians, eu não ganhei mais nada.
Hoje eu posso dizer, maduro como a gente está, que talvez tenha sido o meu maior erro ter trocado o Corinthians pelo Palmeiras. No Corinthians eu era o titular, eu já estava consagrado, eu já tinha sido campeão. Aí você pega e muda? Hoje eu não faria isso, mas naquela época você não tinha orientação e eu acabei sendo pressionado. A troca era pelo Neto, então o Corinthians fez a negociação e acabou me envolvendo nessa transação. O Leão também era o treinador do Palmeiras, pediu para que eu fosse para o Palmeiras. Eu não posso dizer que foi ruim, porque como eu fiquei quatro anos no Palmeiras. Também foi uma boa passagem, mas ao mesmo tempo no Palmeiras, eu não ganhei, eu não fui campeão. Foi uma época difícil, aquela fase antes da Parmalat, tanto é que eu saio do Palmeiras em 1992. Em 1993, o Palmeiras ganha tudo".
Você disse que foi um erro ter saído do Corinthians e ido ao Palmeiras. Mas depois de 1992 foi um erro ter saído do Palmeiras que com a Parmalat começou a ganhar títulos?
Não, já era uma outra situação. No Palmeiras, eu não estava rendendo mais e o Palmeiras estava em outra, uma mudança. O clube já trouxe o Roberto Carlos de Araras. A Parmalat já estava investindo em jogadores de nível assim. E não que eu não estivesse nesse nível, mas talvez estava em descendência. Agora, no Corinthians, não. Foi um erro ter trocado pelo Palmeiras. Foi um erro de estratégia mesmo. Hoje, se você falasse, e o 'se' não existe, eu ficaria no Corinthians. As minhas chances de seleção brasileira e de outras coisas seriam maiores.
O Corinthians ganhou tudo e eu estava numa época boa, fase boa. Eu estava experiente, tanto é se você for pensar, de 1990 a 1994, a seleção brasileira que ganha o tetracampeonato é da minha geração. Eu fazia parte da seleção brasileira de 1986, 1990 e 1994, era onde estava todo mundo maduro. No fim, o que acontece? Eu saí do cenário e aí que surgiu Mazinho, que também era o meu reserva na seleção brasileira sub-20, o Jorginho volta para a seleção. Surge o Cafu, que é um pouco mais novo, o Leonardo. Eu poderia estar dentro.
Você já brincou com o Neto hoje na Band que se não fosse pela sua transação com o Palmeiras ele poderia não ter feito sucesso como jogador de futebol?
Já brinquei com ele, sim. Quando a gente bate papo, eu falo: "Neto, você tem que agradecer muito essa troca aí". Eu lembro muito bem. Eu chego no Parque São Jorge, o pessoal me chama na diretoria e fala: "Olha, tem uma situação de uma troca. Nós estamos querendo contratar o Neto do Palmeiras, só que o Leão quer que você vá para lá. O Leão está exigindo que você vá". Eu não tinha motivo para sair do Corinthians, eu falei: "Poxa, o que eu vou fazer no Palmeiras? Eu estou aqui tranquilo". Aí falaram, que eles estavam exigindo que eu fosse. Então a diretoria, os diretores do Corinthians, falaram isso para mim. Inclusive, fui conversar com o presidente que era o 'seu' Vicente Matheus. Ele falou: "Não, você é um garoto bom, você não vai sair daqui, não". Eu falei: "Presidente, eu não quero sair, mas o Palmeiras está exigindo que nessa troca eu vá". Eu sei que uns diretores o enrolaram.
Como assim?
O Palhinha, que era o técnico do Corinthians, me chamou: "Dida, aproveita, é dinheiro, você sabe que o futebol é curto, então tem que aproveitar que os caras te querem. Então, vai lá e conversa com a diretoria. Faz uma proposta que aqui no Corinthians os caras não vão te pagar. Se der certo, deu". Nessa, eu fui induzido, fui conversar com o pessoal do Palmeiras para saber se a gente se acertava e naquela época tinha luvas e salários. Na ambição do dinheiro, eu acabei esquecendo que o ideal era analisar toda a situação. Poxa, no Corinthians eu estava tranquilo, então eu saí porque "ah o Palmeiras vai fazer o negócio, mas se você não for é capaz de melar o negócio".
Você ficou marcado por esta situação de ir para o rival Palmeiras? Naquela época a rivalidade era bem maior.
Fiquei sim, e o que acontece? Eu saio do Corinthians e para o torcedor do Corinthians eu sou o 'traidor' e para a torcida do Palmeiras eu sou o refugo do Corinthians. Eu tive que conquistar um espaço dentro do Palmeiras e não foi fácil. Consegui com respeito por jogar, ser titular, mas era um negócio que qualquer coisinha, qualquer erro. "Pô o cara é o refugo do Corinthians?". Jamais faria isso se tivesse alguém para me orientar na época também, eu ia pensar melhor.
Hoje você faz o que da vida? Está no futebol?
Hoje, trabalho com comércio. Sou vice-presidente do Sindicato dos Jogadores do Paraná, e no comércio eu mexo com carros, compro e vendo. A pandemia atrapalhou muito, está tudo parado. Eu estive no Coritiba, conversando com o presidente. A minha ideia era trabalhar nas categorias de base, mas como coordenador técnico. O que me motivou bastante foi essa mudança do futebol, com a chegada dos treinadores estrangeiros, principalmente o Jorge Jesus, que a gente viu que o nosso futebol ele precisa voltar às origens. Eu conversei com muita gente, inclusive com o pessoal do Coritiba. Precisamos fazer com o que o futebol volte à essência nas categorias de base, principalmente. Fazer com que essa garotada comece a entender de novo o que é o futebol. A nossa geração foi assim e a gente está indo para um lado muito errado, de muita cobrança, mas pouca disciplina. Foi uma reflexão boa. O pessoal do Coritiba gostou, estava interessado, só que aconteceu a pandemia e parou tudo. A minha ideia é também fazer esses cursos da CBF, tenho que tirar essa licença B, que é necessária hoje, mas não é a minha prioridade. Não é um negócio que eu posso dizer que tem que dar certo. Não, se der deu, mas se não der também tudo bem.
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