Topo

Por que Jorge Jesus topou largar o Flamengo e voltar para o Benfica

Leo Burlá e Pedro Ivo Almeida

Do UOL, no Rio de Janeiro e em São Paulo

18/07/2020 04h00

Em um intervalo de pouco menos de três horas na última sexta-feira (17), Jorge Jesus se reuniu com dirigentes do Flamengo, comunicou a decisão de deixar o clube, viu a carta anunciando sua saída da Gávea e foi confirmado como novo treinador do Benfica. A agilidade para trocar oficialmente de clube contrasta com uma novela que se arrastou por semanas. Motivos não faltaram para tanta reflexão do técnico português até o momento de selar seu futuro.

Envolto em debates sobre uma possível saída do Rubro-negro desde dezembro de 2019, ainda em meio à disputa do Mundial de Clubes no Qatar, o "Mister" gostava de atrair os holofotes enquanto alternava entre o silêncio e esquivas sobre perguntas mais diretas sobre os próximos passos da carreira. Em um primeiro momento, nada mudou.

Campeão da Libertadores, do Brasileiro e vice-mundial, ele seguiu no Flamengo na virada de 2019 para 2020. Em meio à pandemia do novo coronavírus, nova novela. Primeiramente, sem sustos, e com a renovação do contrato até meados de 2021. Pouco tempo depois, no entanto, tudo mudou. Cobrado pela família, diante de um cenário que enxergou como sendo de indefinição para o futuro do futebol brasileiro e com um caminhão de dinheiro lhe aguardando em sua terra para uma confortável reta final de carreira, Jesus bateu o martelo e deixou o Rio de Janeiro.

Cobrança da família ainda em 2019

O treinador "balançou" pela primeira vez ainda em 2019. Em setembro, enquanto começava a ser festejado pelo desempenho em campo no comando do Flamengo, o lado pessoal não vivia a melhor fase. A esposa, que não estabeleceu residência no Brasil, sentia sua falta em Portugal. Por alguns meses, o treinador contornou o caso. Porém, em meio à pandemia de 2020, quando regressou ao Rio, o tom subiu. Os familiares queriam o retorno a Portugal.

O técnico Jorge Jesus viu a distância para o país natal ficar ainda maior por conta do momento de isolamento. Sem poder ter os familiares mais perto e com maior frequência, o Mister já sinalizou que poderia ceder aos apelos das pessoas mais próximas.

Sem as sonhadas grandes propostas europeias, Jesus ainda tentou enxergar argumentos para resistir. O Flamengo, por sua vez, sabia que a renovação passava por tudo isso. Em caso de convite do outro lado do oceano, o multi-campeão e badalado treinador poderia se despedir.
Os convites dos grandes centros não chegavam, mas uma conversa de um amor antigo sim. Prometendo um salário que o Flamengo até sinalizou bancar mas recuou pela recessão na pandemia - na casa dos cinco milhões de euros anuais -, o Benfica surgia como porto-seguro para um retorno que o tranquilizaria e reataria os bons momentos com a família.

Bom contrato e relação com presidente do Benfica

A possibilidade de um contrato mais longo - três temporadas - também foi algo sedutor para o treinador, que já está com 65 anos. Disputar novamente a Liga dos Campeões e, que sabe, enfim aparecer no radar dos grandes europeus também foi levado em conta.

Além disso tudo, o Mister tem uma espécie de dívida de gratidão com Luis Filipe Vieira, presidente benfiquista. Foi ele quem deu ao treinador a primeira oportunidade em um grande clube e ambos têm una relação muito íntima de amizade.

Como Vieira está em apuros por conta de denúncias que envolvem sua administração, o técnico topou socorrer o amigo em um momento de dificuldade.

Cumprida a missão de não largar o Flamengo em meio a uma competição, Jesus esperou o encerramento do Campeonato Carioca e - com mais um título - se despediu.

"Vida que segue" no Flamengo

Responsável pelo último papo com Jesus, o vice-presidente de futebol do Flamengo, Marcos Braz, disse que não falaria o que foi dito na reunião de uma hora e meia que teve com o profissional, mas indicou que a vida segue no Rubro-negro. Ele falou das dificuldades enfrentadas por um estrangeiro, deixando claro que voltar para seu país foi decisivo para Jesus. Ele prometeu buscar um substituto a partir de domingo.

"Até pela relação que temos com o Jorge, ninguém iria mexer uma peça no tabuleiro, analisar técnico, antes de um comunicado oficial do Jorge. Não quer dizer que a gente não esteja atento ao mercado. Temos bom conhecimento. Agora, com calma e tranquilidade, a partir de domingo vamos começar a ver o melhor para o Flamengo para a continuação de ano", afirmou.