Atlético-MG: Conselho Fiscal questiona R$ 10 mi gastos com viagens em 2019
O Conselho Fiscal do Atlético-MG enviou uma série de questionamentos ao presidente Sérgio Sette Câmara e ao diretor de finanças Paulo Braz sobre as contas de 2019. Além de indagações sobre a venda do Shopping Diamond Mall e a doação do terreno da futura arena por parte de Rubens Menin, houve outro ponto que chamou a atenção do grupo: o gasto que supera os R$ 10 milhões com viagens e hospedagens no ano passado. A rubrica engloba as despesas com alimentação, hotéis, voos e traslados.
O número foi analisado no Balanço Contábil Analítico de 2019 e chamou atenção dos responsáveis pela inspeção das contas. A cúpula, entretanto, não repassou o documento aos membros do Conselho Fiscal. O grupo teve que ir à sede administrativa para realizar a análise em duas oportunidades. A medida foi adotada para evitar um eventual vazamento de informações consideradas sigilosas.
A diretoria executiva do clube já respondeu ao Conselho Fiscal e sanou todas as questões levantadas. O documento com as respostas, porém, foi entregue a apenas um membro, que ainda não repassou aos demais integrantes.
O valor que supera os R$ 10 milhões se refere aos gastos do Galo como visitante. Em 2019, o Atlético entrou em campo para a disputa de 37 partidas fora de casa. Foram 19 jogos pelo Brasileirão, sete pelo Campeonato Mineiro, cinco pela Libertadores, quatro pela Sul-Americana e dois pela Copa do Brasil. Destes, quatro foram contra o Cruzeiro e, portanto, ocorreram em Belo Horizonte.
Na temporada passada, o Galo teve que fretar voos para jogos como visitante. Isso aconteceu em pelo menos duas oportunidades — a partida contra o Zamora, na Venezuela, pela fase de grupos da Libertadores, e o duelo com o Colón, na Argentina, pela semifinal da Copa Sul-Americana. O primeiro custou cerca de R$ 1,5 milhão, conforme apurado pelo UOL. Os gastos de fretamentos internacionais são em dólar. Vale ressaltar que, em jogos do Campeonato Brasileiro, a CBF cobra R$ 1,470 milhão de cada clube para questões de viagens, o que inclui uma delegação de 23 componentes. Os grupos, contudo, costumam ter mais integrantes. O número varia entre 30 e 40 pessoas.
Para entender os gastos feitos com viagens em 2019, o UOL buscou números de gestões passadas do clube, do Grêmio e até do arquirrival Cruzeiro. Em 2013, por exemplo, a diretoria gastou cerca de R$ 6 milhões com viagens. À época, o Galo jogou 36 vezes fora de casa. Foram 19 partidas no Brasileirão, sete no Campeonato Mineiro, outras sete na Libertadores, uma na Copa do Brasil e duas no Mundial de Clubes, disputado no Marrocos. Destes, três ocorreram em Belo Horizonte e tinham o Cruzeiro como oponente. O valor, corrigido pelo site do Banco Central, é de R$ 8,513 milhões. Um fator importante é a desvalorização do real em relação ao dólar, o que aumenta o valor pago em transações internacionais. No último pregão de 2013, a moeda valia R$ 2,3570. No último pregão do ano passado, o dólar foi cotado a R$ 4,0098.
O Grêmio, conforme apurado pelo UOL, desembolsou R$ 7 milhões. A equipe fez 36 jogos como visitante, sendo 19 no Campeonato Brasileiro, oito no Gauchão, seis na Libertadores e três na Copa do Brasil. Foram somente dois jogos contra o arquirrival Internacional, que também manda as partidas em Porto Alegre.
A reportagem também teve acesso ao balanço analítico contábil do Cruzeiro de 2018, o qual foi usado como comparação. Naquele ano, o clube gastou R$ 2.823.512,48 (R$ 2.997.408,94 conforme correção do Banco Central). Foram disputadas 35 partidas fora de seus domínios, sendo 19 no Brasileirão, sete no Campeonato Mineiro, cinco na Libertadores e quatro na Copa do Brasil. Ao todo, quatro destes confrontos foram em Belo Horizonte — três contra o Atlético-MG e um diante do América-MG.
O Cruzeiro gastou cerca de R$ 3 milhões na temporada passada. O valor foi usado em 34 jogos fora de casa, sendo 19 no Brasileiro, oito no Campeonato Mineiro, quatro na Libertadores e três na Copa do Brasil. Destes, foram três contra o Atlético-MG, dois diante do América-MG e um frente ao Villa Nova. No ano passado, o clube foi à Venezuela para enfrentar o Deportivo Lara pela Libertadores e gastou R$ 600 mil com o frete do avião.
Procurado para falar sobre o caso por meio da assessoria de imprensa, o presidente Sérgio Sette Câmara informou que o "Atlético se sente tranquilo quanto às despesas. O clube tem quatro auditorias trabalhando ao lado da atual gestão". Hoje, de fato, a atual administração conta com a participação de empresas que têm notoriedade em questões financeiras, como a Ernst & Young e a Falconi.
Entretanto, em entrevista recente ao jornal Hoje em Dia, o dirigente falou sobre o caso: "Estão aí querendo colocar, por exemplo, uma interrogação nos nossos gastos de viagem. Coitados deles, eles podem vir fazer investigação onde quiser. O Atlético gastou algo em torno de R$ 10 milhões no ano passado. Só na viagem para a Venezuela foi alguma coisa próximo de R$ 1,5 milhão, por conta daquela guerra civil que tinha lá. No futebol, é caro você levar em 30 e poucos jogos, 40, 45 pessoas. Tem voo, hotel, ônibus, segurança, alimentação... É caríssimo. Eu procurei me informar, o Grêmio foi R$ 9,2 milhões (R$ 7 milhões na verdade), o Vasco foi R$ 11 milhões e tanto, o Inter foi R$ 10,8 milhões. Qual a diferença desses times para o Atlético? Os times conseguem ficar mais barato ou não por conta de uma viagem como essa para a Venezuela. É um gasto de R$ 1,5 milhão. Eles querem desqualificar o Atlético ou me desqualificar por coisinha", disse.
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