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Inspirado em SPFC e Grêmio, Chávare cria projeto para base do Atlético-MG

Júnior Chávare é diretor da base do Atlético-MG - Reprodução/TV Galo
Júnior Chávare é diretor da base do Atlético-MG Imagem: Reprodução/TV Galo

Thiago Fernandes

Do UOL, em Belo Horizonte

24/07/2020 14h11

Um dos clubes que mais se preocupou com o bem estar dos atletas das categorias de base desde a suspensão das atividades em razão da pandemia, em meados de março, o Atlético-MG não ficou 'parado' no tempo e aproveitou o período sem competições para estabelecer as diretrizes de seu novo projeto: o DNA Alvinegro.

Respaldado e encarado como prioritário pelo presidente Sérgio Sette Câmara, ele desenvolve e trabalha com mais intensidade a característica de cada jogador, seja ele do sub-14 ao sub-20, com atenção minuciosa não apenas nas questões técnicas, táticas e físicas, mas também em outras áreas que fazem parte da montagem do perfil e crescimento desses profissionais, como o lado social, psicológico, nutricional e fisiológico.

"Acho que o futuro de qualquer clube de futebol começa pela base. O Atlético-MG tem um DNA para isso e eu sou um grande entusiasta e incentivador deste projeto. Temos uma das principais estruturas da América Latina e um potencial enorme para revelar e formar grandes profissionais, por isso vemos esse projeto como investimento. Temos conversado sobre isso desde meados do ano passado e agora chegou o momento de colocarmos em prática tudo aquilo que foi planejado e debatido com muito esforço e dedicação dos envolvidos", explica o presidente Sérgio Sette Câmara.

O projeto foi desenvolvido pelo diretor executivo da base do clube, Júnior Chávare, inspirado em modelos que deram muito certo em Grêmio e São Paulo, clubes em que o dirigente esteve presente antes de assumir o Galo.

"As pessoas podem afirmar: mas todos os clubes já fazem isso. Na prática, não é bem assim o que acontece. O DNA Alvinegro busca de fato resgatar as origens e aquilo que o atleta tem de melhor, com um acompanhamento mais preciso e individualizado de suas valências. Seguimos protocolos e metodologias das mais diferentes áreas do clube justamente para extrair o melhor de cada profissional. É um investimento que vai ter frutos a médio e longo prazo", destaca.

Na prática, o DNA Alvinegro tem como principal objetivo fortalecer principalmente o crescimento técnico e tático dos atletas por meio dos treinos de fundamentos, com profissionais específicos e preparados para isso. Um exemplo: os laterais trabalham com treinos específicos para laterais, os zagueiros para zagueiros, os volantes para volantes, meias com meias, atacantes com atacantes.

Chávare deu a coordenação do projeto a Thiago Rebello, professor que já atuou em projetos semelhantes em outros clubes e é especialista nesta área. Outros dois nomes de peso formam o time: Everton Nogueira, ídolo da década de 80 do Galo com 198 jogos e 92 gols, e Reinaldo, o 'Rei', considerado um dos maiores atacantes clube e principal artilheiro da história do clube.

Conceitualmente, o dirigente entende que a repetição deste conceito de trabalho vai surtir efeito em poucos meses dentro de campo, pois a repetição e o estudo do que foi feito após os treinamentos levarão os jogadores a esse entendimento. Outro detalhe contado por Chávare é que algumas técnicas de futsal serão aplicadas em determinadas categorias.

"Obviamente que não podemos dar detalhes, isso vai ser visto na prática. Mas esse projeto está inserido de duas a três vezes por semana com cada categoria, com a repetição de dribles, chutes, todos os fundamentos possíveis, além das questões táticas, técnicas e físicas, colocando como principal meta o desenvolvimento do atleta como um todo", aponta Chávare.

Reinaldo, ídolo atleticano e um dos principais atacantes do futebol nacional, brinca com a situação e afirma que o que o Galo vem fazendo seria inimaginável nos seus tempos de atleta. "Se eu ou qualquer jogador da minha época tivesse tido esse tipo de treino, com acompanhamento nos fundamentos e toda a parte técnica e tática, além do fora de campo, com certeza nossas habilidades seriam muito melhores. O DNA Alvinegro envolve todo o desenvolvimento dos garotos e não tenho dúvida que a resposta será gratificante num curto espaço de tempo", detalha.

Galo deu exemplo durante a pandemia

Desde a primeira semana de paralisação das atividades, o Atlético-MG se preocupou em levar paz e bem estar aos atletas de todas as suas categorias. Tanto é verdade que o clube conseguiu enviar para casa, em 72 horas, quase 100 atletas de 12 diferentes estados, com um detalhe: tudo pago, fato este que nem toda agremiação consegue fazer.

Além disso, quando poucos sabiam ainda o que iria acontecer e quanto tempo iria durar - hoje já estamos próximos de 120 dias de quarentena, o Atlético-MG largou na frente e montou um planejamento monitorado de atividades físicas, técnicas e até sociais, com reuniões online semanais envolvendo tudo e todos: treinadores, preparadores físicos, coordenação, assistente social, pedagogia e psicologia, coordenador técnico, coordenador mercadológico, além da própria direção.

Desde o início, os atletas da base que iam do sub-14 ao sub-20 tinham um compromisso de pelo menos quatro horas por dia de treinamentos, seguindo à risca um calendário de atividades e prestando contas aos profissionais de cada período de treino do dia, seja ele com a comissão técnica ou com a parte pedagógica.

"Nos preocupamos muito desde o começo com essa questão social e psicológica, pois a vida mudou de repente para cada um de nós e sabíamos que esses meninos poderiam precisar de um acompanhamento, que foi o que aconteceu", disse Chávare.

Agora com a iminente volta das competições, prevista até então para setembro, o dirigente olha para trás e vê satisfação com o que foi feito. "Nada disso teria acontecido se não tivéssemos o respaldo do nosso presidente Sette Câmara, do nosso diretor profissional Alexandre Mattos, dos colaboradores do nosso departamento e de todos os profissionais que dão o sangue pelo clube. Um depende do outro para a roda girar e acho que até então procuramos fazer as coisas da forma correta, me deixou muito orgulhoso a maneira como tudo foi planejado e executado", completa o dirigente.

No Grêmio, um projeto que 'lapidou' e deu retorno

Júnior Chávare explica que o nome DNA Alvinegro vem das origens do Galo, mas o conceito é inspirado em modelos que deram certo nos clubes por onde ele passou, especialmente no Grêmio, com a criação em 2012 do Projeto 'Lapidar', que nasceu com o objetivo de proporcionar um maior desenvolvimento técnico e tático para os atletas de todas categorias de base, desde os 12 até a fase quase profissional, de 20 anos.

Além de um acompanhamento intenso de uma equipe única e exclusiva de profissionais, a principal virtude do 'Lapidar' era trabalhar os fundamentos específicos nos treinamentos diante de uma didática que detectava o nível de desenvolvimento em que o jogador se encontrava. Além da parte prática, toda essa execução era registrada em vídeos e fotos, minuciosamente estudadas e repassadas aos atletas, como acontecerá agora.

"Essa repetição dentro e fora de campo gera resultados surpreendentes, como por exemplo corrigir a postura e os gestos motores do jogador, assim como precisar se o pé de apoio e a flexão dos joelhos na hora de um chute está devidamente correta", aponta Chávare.

Um dos muitos exemplos que passaram pelo Projeto Lapidar foi o atacante Everton Cebolinha. A insistência de repetição de treinamentos fez com que ele se tornasse, hoje, um profissional completo, jogando pela direita, esquerda, meio, o trabalho de 'um contra um', a perfeição nos chutes de fora da área e, mais um detalhe: a questão psicológica. "Gosta de atuar em jogos grandes, jogos duros e decisivos. Não tem medo de desafios. Isso fez parte do projeto, também a questão psicológica", lembra Chávare.

Do Grêmio, é possível enumerar dezenas de craques que passaram pelo projeto, como Wallace (Udinese-ITA), Luan (Corinthians), Wendell (Bayer Leverkusen), Ramiro (Corinthians), Pedro Rocha (Flamengo) e Arthur (Barcelona). Mais recentemente, é possível citar Tetê, Jean Pierre, Pepê e Lincoln. No São Paulo, dois atletas são citados com destaque dentro deste projeto conceitual: o zagueiro Eder Militão, hoje no Real Madrid, e David Neres, atualmente no Ajax.

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