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Startup criada por ex-jogador analisa futebol na pelada e já chega a clubes

Botafogo-PB, do experiente Léo Moura, é um dos oito clubes profissionais que usam dados da plataforma - Divulgação
Botafogo-PB, do experiente Léo Moura, é um dos oito clubes profissionais que usam dados da plataforma Imagem: Divulgação

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

28/07/2020 04h00

Guarani, Ponte Preta, Náutico, Botafogo-PB, Manaus, Caldense, Operário-PR e Água Santa têm usado um novo sistema de monitoramento e análise de informações no futebol profissional. A plataforma "Joga" nasceu em Santa Catarina para ser uma opção aos tradicionais receptores GPS na intenção de medir e melhorar desempenho e prevenir lesões. O mais curioso disso tudo é que há um ex-jogador por trás da tecnologia.

"Eu fui jogador de categoria de base, esses frustrados aí da vida", brinca Robson Motta.

Após passagens por Cruzeiro e Mogi Mirim nas divisões inferiores, ele parou de jogar aos 17 anos, antes da transição para o sub-20: "Fui fazer faculdade, fiz a escolha de estudar em vez de tentar por muito tempo. Fui fazer computação, bem fora da área, depois fiz mestrado e doutorado na área de inteligência artificial, trabalhei um pouco no mercado, acumulei experiência, guardei dinheiro e decidi empreender."

Mogi Mirim sub-17 2001 - Reprodução/Facebook - Reprodução/Facebook
Robson é o terceiro de pé da esquerda para a direita no Campeonato Paulista sub-17 de 2001, pelo Mogi Mirim. O que mais vingou do time é Renato Cajá, quarto agachado na mesma direção
Imagem: Reprodução/Facebook

Robson uniu a paixão pelo futebol ao convívio com a tecnologia para criar o projeto há três anos: "Em 2017, começava a ter visibilidade o GPS no futebol, câmeras, estatísticas... Era um pós-7 a 1, o Brasil dando mais relevância para isso e parando de achar que sabe tudo. Era uma oportunidade legal de começar um projeto dentro da realidade brasileira."

Um amigo da época do futebol que trabalhava como fisiologista da base do Guarani abriu as portas para testes da tecnologia com jogadores, refinamento de dados e criação de algoritmo.

Em seguida, a startup do ex-jogador foi acelerada por um programa da gigante sul-coreana Samsung, o "Samsung Creative Startups" — o verbo "acelerar", neste caso, é usado quando uma ideia inovadora precisa de dinheiro ou habilidades específicas para ganhar o mercado. No caso da "Joga", os dados dos atletas são coletados nos relógios inteligentes da Samsung. Também há a opção do uso dos relógios em coletes.

Smart watch  - Divulgação - Divulgação
Smart watch controlado por profissional do Náutico
Imagem: Divulgação

A entrada da multinacional no negócio criou a necessidade de expansão.

Para contar aos amigos

"Por que não criar uma camada para qualquer jogador com um relógio desses monitorar sua pelada?" foi a reflexão que fez o projeto chegar ao futebol amador. Não se trata de melhorar a performance em detalhes, mas usar o relógio ou o celular para ver o ritmo minuto a minuto, o desgaste, velocidade, resistência, mapa de calor, localização das arrancadas, entre outras métricas. Isso vira um ranking. E aí vem a zoeira.

"O lado legal de mostrar os dados de uma pelada é que nós temos experiencia de jogar, ganhar ou não, mas não de perceber como temos melhorado. O aplicativo tem destaques do jogo da pessoa, mapeamos de 20 a 30 métricas, falamos que foi a melhor partida da pessoa em algum fundamento, tipo "é o jogo que você correu mais nesse ano". Daí a pessoa se sente bem e quando parar para a cerveja vai mostrar aos amigos", brinca o criador da startup.

Os criadores da plataforma também passaram duas semanas na Coreia do Sul para um período no Suwon Bluewings, o time de futebol da Samsung no país, e fazer testes no mercado internacional. Foi lançado o serviço em inglês e hoje mais de 90 países usaram a tecnologia.

Plataforma Joga - Reprodução - Reprodução
Plataforma gera métricas e até mapa de calor e cria rankings entre os participantes
Imagem: Reprodução

No contexto da pandemia, sem futebol profissional e sem peladas, outra inovação foi desenvolvida, como conta Robson Motta: "Criamos uma plataforma intermediária entre profissionais e peladeiros, que é nas escolas de futebol. São games de futebol, uma estratégia em que você aprende se divertindo, isso gera treinamentos e você ganha pontos de acordo com seus acertos. É uma experiência engajadora para as escolas nessa época de pandemia, em que elas tentam reter receitas e manter os alunos."

Oito times profissionais, quatro de base, um feminino, dez escolinhas e mais de 10 mil peladeiros já tiveram o desempenho analisado pela ferramenta. E aí, tem coragem?