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Técnica que pediu demissão critica visibilidade a goleiro Bruno

Rose Costa pediu demissão após anúncio do goleiro Bruno - Arquivo Pessoal
Rose Costa pediu demissão após anúncio do goleiro Bruno Imagem: Arquivo Pessoal

Do UOL, em São Paulo

31/07/2020 12h27

A técnica Rose Costa, que pediu demissão do Rio Branco-AC após a notícia da contratação do goleiro Bruno Fernandes, disse hoje que não poderia ter tomado outra decisão além de deixar o clube. Em entrevista ao programa 'Redação SporTV', ela afirmou que o sentimento é de tristeza.

"O sentimento é de tristeza. O esporte feminino se traduz nessa relação de preconceito que ainda existe no país. A história do futebol feminino vem de lutas, de conquistas. Lá em 1941, quando as mulheres foram proibidas de praticar o futebol, a gente vem trabalhando essas conquistas. [...] É com tristeza que esse episódio acontece, mas não poderia ter tido outra decisão. Minha história como atleta, como mulher, como profissional de educação física me impede de trabalhar no mesmo ambiente que tenha reconhecidamente um feminicida. Qual exemplo para as próximas gerações? Eu tenho uma grande preocupação nesse sentido."

De acordo com Rose, o esporte é um exemplo para gerações futuras e ela tomou a decisão de não participar do projeto.

"Especificamente nesse caso, temos, aos meus olhos porque não sou formada em direito, mas educação física, a omissão de grande parte da sociedade em achar que tudo é normal, tudo é legal. Eu justifico que ele foi condenado, que ele cumpriu nem metade da pena e que ele pode voltar para o esporte de rendimento. Para mim que sou acadêmica entendo que o esporte é exemplo para as gerações futuras, e grande parte da sociedade acha que isso é normal. Então, o que temos é a voz. No meu caso eu tinha o poder de decisão de não fazer parte disso, e foi essa decisão que eu tomei", afirmou.

A técnica disse não duvidar que Bruno tem o direito de se reinserir na sociedade. Ela, no entanto, questiona se atuar em um clube com visibilidade é mesmo a melhor oportunidade para o atleta.

"Meu entendimento é que, quando existe a ineficiência da lei, temos que fazer valer os princípios morais. Ele tem direito a se reinserir na sociedade, não tenho dúvida disso. Será que uma oportunidade como goleiro principal de uma das equipes de maior visibilidade na sociedade é o melhor lugar para dar essa oportunidade? Uma situação de contato direto com a mídia, onde ele é exemplo. Ele já entrou no clube como exemplo, batendo foto com criança. O que me garante que ele merece essa oportunidade? O sistema jurídico também permite que ele aprenda outros ofícios. Ele pode ser reinserido na sociedade em outras funções", comentou.