Brasileiro é chamado de "melhor que Godín" e cogita se naturalizar uruguaio
A Conmebol anunciou no mês passado as novas datas para a Copa Sul-Americana, com reinício previsto para outubro e encerramento só em 2021. Já classificados para a segunda fase (que ainda espera os terceiros colocados dos grupos da Libertadores para um sorteio), Vasco e Bahia têm chance de encarar um zagueiro brasileiro que atua por um time uruguaio e vem ocupado as manchetes do país.
Léo Coelho, de 27 anos, defende o Fénix há pouco mais de um ano. São 24 partidas até agora, com notáveis cinco gols marcados. O mais curioso é que três destes gols foram feitos em uma única partida no ano passado - o primeiro hat-trick de um zagueiro no país em 17 anos.
Titular e às vezes capitão do Fénix no Campeonato Uruguaio e na Sul-Americana, o zagueiro chamou atenção por causa dos elogios rasgados de seu treinador, o experiente Juan Ramón Carrasco, de 63 anos. Ele foi meia da seleção uruguaia durante dez anos, teve uma passagem pelo São Paulo em 1990 e, como técnico, passou pelo Nacional, seleção do Uruguai e também pelo Athletico-PR, em 2012.
Carrasco, mais de uma vez, deixou claro como gosta de Léo Coelho. Como nesta declaração à rádio "Sport 890" há duas semanas:
Ele tem tudo: marcação, no mano a mano não dá para passar, tem saída de bola, vai bem na bola aérea defensiva e ainda define como um camisa 9. Coelho é brasileiro, mas nunca foi para a seleção. E para mim, com todo respeito que tenho ao [Diego] Godín, ele está melhor que Godin.
As declarações empolgadas de Carrasco viraram notícia, ainda mais pela comparação com o lendário zagueiro da seleção e da Inter de Milão. Em outra entrevista recente, o treinador sugeriu que a Federação Uruguaia tentasse a naturalização de Léo Coelho. Ele não descarta.
"Eu vejo com ótimos olhos as coisas que ele [Carrasco] fala, mas sou um pouco realista. Difícil me comparar com o Godín, ele joga em um cenário mundial, em seleção. Mas é um privilégio, uma honra estar sendo falado assim. Se eu render dentro de campo, outras pessoas vão dar razão a ele. E a naturalização é uma coisa a ser pensada. O Uruguai me recebeu muito bem, estou feliz aqui, seria uma honra vestir essa camisa. É de se pensar, mas eu preciso ter pé no chão e cabeça no lugar", conta, ao UOL Esporte.
O passado ensinou essa humildade: "Eu tenho sonhos, ambições, mas vou degrau por degrau. Há pouco tempo eu estava desempregado e sonhava em fazer do futebol meu sustento. Agora posso sonhar com um cenário melhor."
"Tinha tomado a decisão de não jogar mais"
Léo Coelho foi contratado pelo Fénix em agosto do ano passado, após duas semanas de testes. Ele estava sem clube há quatro meses, desde que tinha deixado o Comercial na Série A3 do Campeonato Paulista. Antes do time de Ribeirão Preto, já havia passado outros quatro meses sem contrato, o que deu a certeza de que era momento de desistir do futebol.
"Eu tinha que colocar dinheiro em casa e estava desempregado, então, tinha tomado a decisão de não jogar mais. Em 2018, eu estava na Portuguesa, aí acabou o Paulista e fiquei oito meses desempregado. No meio disso nasceu meu filho, Arthur. Eu fui atrás, mudei minha carteira de motorista no Detran, para ter essa renda mais rápida da Uber, e tinha acertado em uma loja para vender carros também. Não fiz faculdade, emprego é um pouco mais difícil, eu ia começar no que podia e me virar", relembra o zagueiro.
"Ia começar a trabalhar numa segunda-feira. Na quarta-feira anterior, o telefone tocou para essa chance de um teste no Uruguai. Eu não conhecia o futebol lá, mas abracei essa oportunidade, pareceu uma ideia boa, e as coisas andaram muito bem, mudou a minha vida."
Léo Coelho foi bem nos testes e assinou contrato até 2021. O Fénix não estava bem e ele acabou entrando no time nesse contexto de pressão. Não saiu mais. Até o fim do ano em que pensava virar motorista e vendedor foram 18 partidas, todas como titular. Com isso, vieram a fama de zagueiro artilheiro, os elogios e até sondagens de mercados, como México e Turquia. O clube pede algo em torno de R$ 10 milhões.
Passagem pelo Santos
O zagueiro começou a carreira no Nacional-SP, onde jogou três edições da Copa São Paulo de Juniores e também competições profissionais, com estreia em 2011. Em seguida, defendeu Grêmio Barueri, Penapolense, Paraná e Rio Claro. Numa partida do Campeonato Paulista de 2016, foi titular do time do interior em um empate em 0 a 0 com o Santos e acabou contratado pelo time da Vila Belmiro.
Léo Coelho chegou ao Peixe em maio de 2016 e começou a trajetória no time B. Lesões de Luiz Felipe e Gustavo Henrique abriram espaço para ele treinar com o time profissional sob o comando de Dorival Júnior, mas a estreia nunca aconteceu. Ao fim daquela temporada, acabou liberado.
"Eu treinei bem, teve elogios, mas saímos de férias e quando voltou em 2017 contrataram o Cleber, que veio da Alemanha. Um investimento muito alto, essas coisas acontecem em time grande. Eu tinha subido, mas com a chegada dele desci de novo. Talvez não fosse meu momento ou eu não estivesse preparado mesmo."
Depois do Santos, Léo Coelho atuou por Penapolense, Portuguesa e Comercial. Até que apareceu o Fénix. Ele se define como uma "pessoa ansiosa", por isso procura não saber sobre sondagens e chance de transferência. Ao mesmo tempo, não esconde que gostaria de atuar por um grande clube brasileiro ou na Europa, em países como Espanha e Portugal. Até lá, continua no Uruguai junto com a esposa Natália, o filho Arthur e o cachorro Luke.
"Há um ano e um mês eu estava desempregado. Agora, eu jogo a Copa Sul-Americana como capitão do meu time no Uruguai, que é um país com qualidade de vida excelente. Aqui é caro, mas é ótimo, gosto muito de viver aqui. É um sonho realizado. Infelizmente, essa pandemia atrapalhou, porque a fronteira está fechada e morro de saudades da minha família. Mas estou na torcida para tudo melhorar e voltar ao normal."
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