Quem pode treinar o Barcelona? Clube não contrata 'medalhão' há 23 anos
Com pouquíssimos precedentes na história do futebol, a goleada do Bayern de Munique por 8 a 2 sobre o Barcelona provocará mudanças estruturais profundas no clube espanhol. A primeira delas deve ser a saída do técnico Quique Setién.
Setién chegou no meio da temporada como uma aposta arriscada, teoricamente como um purista do "cruyffismo", mas que sequer conseguiu corrigir os problemas do time de Ernesto Valverde. Sua saída era certa mesmo antes da histórica derrota. Xavi é o maior favorito a herdar seu cargo, numa tentativa do Barcelona de repetir a receita que funcionou com Guardiola e Luis Enrique. Entretanto, não seria este um bom momento para tentar minimizar a margem de erro do próximo ciclo esportivo e buscar no mercado um profissional do "primeiro escalão", cobiçado no mercado e com experiência comprovada?
Mauricio Pochettino, que foi alçado ao grupo dos melhores do mundo ao levar o Tottenham à final da Liga dos Campeões, está no mercado e poderia ser uma opção. Além disso, Pep Guardiola fica sem contrato com o City no ano que vem. Acontece que o Barcelona não faz uma opção assim há 23 anos.
Louis Van Gaal chegou a Barcelona no dia 31 de maio de 1997 como um dos técnicos mais cobiçados da Europa. Em seis anos à frente do Ajax, conquistou três ligas nacionais, uma Liga dos Campeões e revelou Davids, Seedorf e Kluivert. No clube blaugrana, o holandês sucedeu Bobby Robson numa transição bastante incomum: o inglês, que havia conquistado três títulos na recém-encerrada temporada, passou a ocupar um cargo de diretor do clube e inclusive recebeu o novo técnico em sua chegada.
A trajetória de Van Gaal teve relativo sucesso, culminando em um bicampeonato nacional após quatro anos de jejum, mas se encerrou depois de somente três temporadas, após a perda da liga para o La Coruña e inúmeras situações de desgaste com o elenco. Desde então, o Barcelona nunca mais competiu por um treinador.
Imediatamente após Van Gaal, duas soluções caseiras: Serra Ferrer, que havia tido uma boa passagem como treinador do Betis, mas acumulava três anos como diretor das equipes de base do Barcelona; e Carlos Rexach, ídolo do Barça como jogador e que, meses antes, havia contratado um garoto chamado Lionel Messi oferecendo um contrato improvisado em um guardanapo. Ambos não obtiveram sucesso.
Van Gaal então retorna, já sem o mesmo status de outrora, mas cai antes de completar uma temporada. Quem o sucedeu foi Radomir Antic, recém-rebaixado com o Oviedo, mas com certo prestígio na Espanha pelo "doblete" à frente do Atlético de Madri seis anos antes (clube ao qual já havia retornado duas vezes depois disso). Não deu certo novamente.
Eis que na temporada 2003-2004, uma aposta finalmente vinga. Consagrado como jogador, mas ainda novato como técnico, Frank Rijkaard, que estava no livre no mercado por um ano após ter sido rebaixado com o modesto Sparta Rotterdam, conduziu uma profunda e vitoriosa reformulação no elenco do Barcelona. Foi sob sua batuta que chegaram futuros ídolos, como Ronaldinho, Deco e Samuel Eto'o. Com eles, o holandês venceu dois títulos espanhóis e uma Liga dos Campeões.
Após duas temporadas em branco, Rijkaard deu lugar ao ex-jogador blaugrana Pep Guardiola, até então técnico do Barcelona B. Por pouco, o clube não optou por José Mourinho, decisão que colocaria fim à tradição de "apostas" e de quebra seria o fim do clube como conhecemos hoje.
A chegada de Guardiola coincidiu com a saída de Ronaldinho e resultou no início da era mais vitoriosa da história do clube catalão. Quatro anos depois, após vencer todos os títulos possíveis, ele deu lugar a seu auxiliar Tito Vilanova, que chegou a superar alguns dos números de Pep, mas deixou o clube com somente uma temporada de trabalho para tratar um câncer.
Desde então, outros quatro treinadores ocuparam esse posto: Gerardo Martino, Luis Enrique, Ernesto Valverde e, mais recentemente, Quique Setién, contratado após uma passagem apenas razoável pelo Betis. Luis Enrique chegou a conquistar a Liga dos Campeões e marcar época com o trio MSN, assim como Valverde também venceu muitos títulos (quatro, para ser exato). Ainda assim, por não possuírem um histórico pregresso de conquistas em clubes do mesmo porte, viam ampliados os questionamentos sobre suas competências tão logo surgiam os primeiros resultados negativos. Essas escolhas, de certa forma, foram por muito tempo cômodas para o presidente Bartomeu, já que serviam como bodes expiatórios ideais nas turbulências. Nomes renomados provavelmente dividiram essa fatura com ele próprio.
O ineditismo do atual momento, entretanto, demanda mais do que nunca um perfil que inspire a confiança, já que é natural que o clube enfrente alguns contratempos nesse período pós-reformulação. É um ambiente hostil para uma nova aposta. O Barcelona deve entender que por maior que seja, ainda é um clube de futebol. Pensar que todo profissional promissor terá sucesso somente por incorporar a filosofia vitoriosa do clube é uma postura soberba. É necessário aceitar que Guardiolas não são a regra.
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