Quais são as apostas da Atalanta para seguir em alta no futebol europeu
Na última quarta-feira (12), a Atalanta esteve perto de deixar o PSG pelo caminho na Liga dos Campeões da Europa. O time italiano vencia o jogo até os 44 minutos do segundo tempo, mas levou a virada nos instantes finais da partida. Nada mal para um time que apenas estreou na principal competição do Velho Continente.
A equipe de Bergamo, considerada por muitos a sensação da temporada, voltará à Champions League na próxima edição e aposta em uma categoria de base forte, um modelo de futebol sustentável e um técnico idolatrado para mostrar que é mais que uma grande zebra.
O time que encarou de igual para igual o estrelado PSG já vinha mostrando sinais de força na Itália nos últimos anos. Sob o comando de Gian Piero Gasperini, a Atalanta foi quarta colocada no Campeonato Italiano de 2016-17, sétima na temporada seguinte, e terceira colocada nas duas últimas edições - igualando sua melhor campanha histórica. Além disso, a equipe foi vice-campeã da Copa da Itália em 2018-19.
Leonardo Bertozzi, comentarista dos canais ESPN e apresentador do Calciopizza - podcast que discute o futebol italiano -, diz não acreditar que a Atalanta será desmantelada no próximo ano. Ao contrário, o jornalista chama a atenção para a boa capacidade de reposição de peça do time nos últimos anos mesmo com pouco dinheiro, destacando a utilização de jogadores das categorias de base. A Atalanta é atual bicampeã do Campionato Primavera - uma categoria sub-19 do Campeonato Italiano.
"Acho que a Atalanta pode abrir um círculo virtuoso. Jogar a Champions League te dá dinheiro, te dá condição de trabalhar bem no mercado. A roda gira para frente. Na próxima temporada, a Atalanta pode liberar o estádio dela, que está em obras para receber jogos da Champions", declarou o comentarista, que acrescentou:
"Só o fato de estar em terceiro no Italiano por dois anos seguidos mostra que é um trabalho sustentável. (...) De qualquer maneira, não vejo desmanche. A base deve ser mantida e podem chegar reforços. Não acho que o time vá se desmantelar. Tem tudo para se manter competitiva", avaliou Bertozzi, em entrevista ao UOL Esporte.
Também comentarista dos canais ESPN e analista de futebol italiano no Calciopizza, Gian Oddi destaca o tempo de bom trabalho do clube de Bergamo como um indício de que mais conquistas estejam por vir. Ele destacou que o time tem mostrado que sabe usar bem o dinheiro, já que faz mais que seus rivais italianos com muito menos.
Para se ter ideia, a folha salarial da Atalanta gira em torno de 36 milhões de euros por temporada (aproximadamente R$ 230 milhões). Só com Cristiano Ronaldo, a Juventus, atual campeã do Italiano, desembolsa 31 milhões de euros (aproximadamente R$ 197 milhões) por ano. Na avaliação de Oddi, chegar às quartas de final da Champions ajuda o clube a se reforçar financeiramente e, assim, poder brigar por reforços mais qualificados no mercado da bola.
"Chegar às quartas de final da Champions League traz um dinheiro que faz diferença. A Atalanta pode se reforçar com nomes até melhores para as próximas temporadas. Um bom trabalho, como tem sido feito, pode fazer com que o time se mantenha no patamar que chegou. Superar, depende de detalhes. Até porque os concorrentes continuam sendo muito mais ricos", analisou Gian Oddi, também em entrevista ao UOL Esporte.
Treinador-ídolo
Para entender melhor o que acontece em Bergamo, é preciso voltar quatro anos no tempo, quando o clube contratou Gian Piero Gasperini, talvez o grande ídolo do clube hoje. O treinador de 62 anos tinha no currículo um grande trabalho pelo Genoa entre 2006 e 2010, quando levou a equipe à Liga Europa e fez jogadores como Thiago Motta e Diego Milito se notabilizarem no cenário europeu.
Com os grandes resultados obtidos nos últimos anos e após classificar o time para sua primeira participação na Liga dos Campeões, Gasperini virou cidadão honorário de Bergamo e, em um time que perde seus grandes jogadores para rivais a cada temporada, se tornou o principal ídolo da torcida.
"A gente pode pegar a chegada do Gasperini como um marco para o início desse bom trabalho da Atalanta. Meus últimos votos têm sido para o Gasperini como melhor técnico do Italiano. Acho que o trabalho dele faz a diferença, é o grande nome do que está acontecendo. Não chegou um investidor e eles começaram a ganhar. Pelo contrário, por ser mais pobre que seus concorrentes na Itália, eles perdem jogadores toda temporada para Internazionale, Milan, Roma. E mesmo assim, o técnico sabe repor e eles continuam jogando em altíssimo nível", analisou Gian Oddi. Bertozzi também compartilha da visão do colega de emissora.
"O Gasperini é responsável por montar um esquema que potencializa jogadores que, talvez, não atuassem no mesmo nível em outros times. O trabalho dele é notável."
Um time valente
Tanto Léo Bertozzi quanto Gian Oddi destacaram a postura da Atalanta: o time se comporta da mesma maneira diante de adversários fracos e fortes. Dentro da Liga dos Campeões, a equipe mostrou essa característica - e chegou a ser punida por isso.
Na primeira fase, a equipe italiana demorou a se encontrar na competição e acumulou três derrotas nos três primeiros jogos - 4 a 0 para o Dínamo Zagreb (CRO), 2 a 1 para o Shakhtar Donetsk (UCR) e 5 a 1 para o Manchester City.
No returno, o Atalanta encarou seus algozes da mesma maneira e conseguiu vencer o Dínamo Zagreb (2 a 0) e o Shakhtar Donetsk (3 a 0), e empatar com o Manchester City em 1 a 1 para conseguir uma classificação heroica.
"A adaptação à Champions foi muito difícil. Tomou uma goleada do Dínamo Zagreb, por exemplo. Mas, quem chega tão longe na Champions, quer enfrentar os melhores e é uma honra enfrentá-los para quem não tem os melhores", opinou Léo Bertozzi ao analisar a trajetória do clube italiano no torneio continental.
Brilho ofuscado pelo Leipzig?
Um dia depois do fim da grande participação do Atalanta, outro time sem expressão no cenário europeu conseguiu um feito extraordinário: o RB Leipzig venceu o Atlético de Madri por 2 a 1 e vai enfrentar o PSG na semifinal da Liga dos Campeões.
Para Gian Oddi, o feito do RB Leipzig não vai ofuscar a história escrita pela Atalanta. O comentarista entende que são narrativas muito diferentes, separadas principalmente pela quantidade de dinheiro investida em cada clube.
"A comparação entre RB Leipzig e Atalanta vai acontecer, até por uma leitura simplista sobre quem chegou mais longe. Acho que a história do Leipzig talvez vire a grande história da Champions League por ter um técnico de 33 anos no comando, por ser um clube de onze anos de idade. Mas há uma diferença enorme: o RB Leipzig tem um investimento de dinheiro muito grande. Eles trabalham esse dinheiro de um jeito muito diferente do que o PSG, por exemplo. O PSG só compra os melhores que vê. O RB Leipzig faz uma pesquisa, busca bons jogadores, mas não são grandes estrelas do mundo. É um trabalho mais difícil. Mas não dá para comparar com a Atalanta também", concluiu Gian Oddi.
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