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Em Dortmund, Dedê foi de bronca da polícia a flash mob por seu aniversário

Dedê, em seu jogo de despedida pelo Borussia Dortmund em setembro de 2015 - Alexandre Simoes/Borussia Dortmund via Getty Images
Dedê, em seu jogo de despedida pelo Borussia Dortmund em setembro de 2015 Imagem: Alexandre Simoes/Borussia Dortmund via Getty Images

Thiago Fernandes e Vanderlei Lima

Do UOL, em Belo Horizonte e São Paulo

20/08/2020 04h00

Revelado pelo Atlético-MG na década de 1990, Dedê foi ídolo do Borussia Dortmund, time que defendeu por 13 anos. Plenamente adaptado e acolhido, o ex-jogador ainda reside na Alemanha. De modo que, hoje, quando olha para trás, não deixa de ser inusitado recordar que, nos seus primeiros dias no país, ele chegou a receber aquela indesejada visita da polícia em sua casa.

O motivo? Alguns excessos em dias de folga, em que a música alta que vinha de sua casa causava incômodo. O brasileiro teve um pequeno imbróglio com um vizinho em particular que se irritou com a barulheira aos domingos, um dia praticamente sagrado para os alemães. E aí as autoridades foram convocadas.

"Foi um problema com o vizinho mesmo. Não falava a língua, na minha época, não existia nem internet. Então, a gente colocava o CD em casa e ouvia música no domingo, que é um dia pode se dizer mais sagrado aqui na Alemanha. Foi isso o que acontecia aos domingos, eu ouvia música alta e o vizinho ia lá [e chamava]. A polícia foi à minha casa. Graças a Deus, se foi à minha casa, duas vezes, foi muito", disse o ex-lateral esquerdo, hoje com 42 anos, ao UOL Esporte.

Pois bem. Não deixa de ser irônico —e notável— que, em 18 de abril de 2011, quando jogava sua última temporada pelo Dortmund, a algazarra tenha vindo de uma multidão de alemães para comemorar seu aniversário em pleno centro da cidade. Sim, a cidade parou por alguns momentos para celebrar um então icônico jogador local. Detalhe: era uma festa-surpresa. As matérias da época relatam que havia mais de 1.500 pessoas no local. O jogador, por sua vez, entende que o número era ainda maior.

"Então, 13 anos de Borussia Dortmund, com certeza, é uma história, é um respeito. No meu último ano, quando eu completei 33 anos, a torcida fez uma coisa. Em dois dias, organizaram uma coisa até espontânea no meu aniversário: foram para o centro da cidade para comemorar e começar a se despedir de mim, sabendo que eu não iria mais jogar lá. Não foi uma coisa combinada comigo. Aí, na hora, um amigo meu que estava no centro me ligou e falou: 'Dedê, tem mais de 3 mil pessoas aqui. Corra pra cá para você ver' Eles vão ficar loucos'. E acabou que eu fui e participei dessa festa. São momentos que o dinheiro não paga", relatou.

A celebração exacerbada no dia do aniversário é explicada pela marcante passagem de Dedê pelo clube. Estrangeiro com mais jogos em toda a história do Dortmund, 398 ao todo, ele tem uma trajetória vitoriosa pela equipe, com dois títulos da Bundesliga. Em que pese o sucesso conquistado, num arroubo de humildade, o brasileiro diz que não se considera um ídolo.

"Eu me considero um cara que participou da história do Borussia Dortmund, um brasileiro que lutou junto com esse clube. Que chegou na época em que o Borussia tinha acabado de ser campeão da Champions League e estava muito bem. Participei também da pior fase, em 2004/2005, quando o clube praticamente quebrou, e muitos jogadores tiveram que reduzir os salários. Alguns tiveram que ir embora porque não aceitaram, e eu falei: 'Vou ficar, mesmo com propostas de outras equipes'. Eu acho que isso aí foi a cereja no bolo, a identificação minha com o Borussia Dortmund. Isso mostrou para a torcida todo o meu amor e o meu carinho. Passamos três, quatro anos difíceis, mas reconstruímos e reerguemos o clube de novo", acrescentou.

"Não pensei em voltar ao Atlético-MG", explica Dedê

Essa identificação com o Borussia Dortmund foi precedida por um período de dois anos no elenco profissional do Atlético-MG. Ainda assim, mesmo com o breve período vivido no time principal, Dedê também mantém uma relação próxima do clube. Foram sete anos nas divisões de base. E mais: o Galo também deu oportunidades aos seus irmãos — Léo de Deus e Cacá, também ex-jogadores.

"Eu joguei por nove anos no Atlético. Em 1997, é que eu me firmei mesmo. É um clube e uma torcida que me projetaram para o futebol. Só vim para o Borussia por causa do Atlético. Eu peguei uma fase muito boa no Atlético, com Taffarel, Doriva... Fomos campeões da Conmebol. Foi o Leão quem apostou em mim. Eu sou de Belo Horizonte e, para mim, é muito legal isso aí", comentou Dedê, que mesmo com todo o reconhecimento por parte da torcida atleticana, nunca pensou em voltar ao clube que o projetou para o mundo, uma vez que se estabeleceu em Dortmund.

"No começo, sim, quando eu saí do Atlético. Mas, depois de uns seis, sete anos, aí não passou mais por minha cabeça, não. Depois que saí do Borussia, eu tive proposta de voltar e para o próprio Cruzeiro, Botafogo e Flamengo, mas resolvi ficar fora do país. Eu estava acostumado já, e isso valeu muito a pena para mim, com certeza".

Hoje na Alemanha e sem planos de voltar ao Brasil, atua como um consultor informal do Borussia Dortmund em operações no mercado da bola. Na transferência de Reinier, do Real Madrid, para a equipe, por exemplo, deu o seu aval para a diretoria clube. Mas as participações esporádicas são um prelúdio para o futuro nos bastidores do futebol, mesmo que no Galo? Dedê garante que não.

Por ora, Dedê está contente em desfrutar da admiração de duas torcidas das mais fanáticas, e barulhentas, que você pode encontrar. Ciente apenas que, aos domingos, se for para celebrar na Alemanha, vai ter de ser só de um jeito mais discreto, especialmente aos domingos.