Ex-camisa 9 das cambalhotas do Palmeiras hoje vive em sítio: "toco a vida"
Entre 2004 e 2007, Osmar ficou marcado por comemorar dando cambalhotas seus 30 gols pelo Palmeiras. Hoje aposentado, o ex-atacante de 40 anos de idade vive uma vida pacata em Marília (SP), onde ocupa o tempo cuidando de seu sítio e vendo os jogos do Verdão, como suas redes sociais "entregam".
"Eu sempre torci para o Palmeiras, foi o time que me abriu as portas, que me tratou muito bem, a torcida principalmente. Dificilmente eu fui xingado no Palmeiras, não sei se pelos gols ou porque eu dava carrinho. Eu lembro que quando joguei contra o Palmeiras lá no Santo André (em 2004), acabou o jogo, a gente ganhou, eu botei a camisa do Palmeiras e ficava me olhando no espelho, imaginando um dia estar no Palmeiras. Ver o Palmeiras em campo me arrepiava", contou Osmar ao UOL.
Dono de sítio com vida simples
Aposentado desde 2018, quando jogou pelo Mogi Mirim, Osmar é pai de Maria Eduarda e Maycon Gilson, casal de gêmeos de 10 anos de idade, e mora junto de sua mãe em um sítio sem grandes luxos. Com uma carreira atrapalhada por lesões no joelho, ele não passa dificuldades, mas ganhou menos do que planejava e se mantém com o aluguel de um salão que é dono.
"Consegui alguns patrimônios, mas não consegui fazer renda. Hoje eu só tenho um salão de aluguel e vou tocando a vida. Às vezes meu irmão ajuda, moro com a minha mãe, ela tem a pensão dela e a gente vai se virando até não precisar vender o patrimônio que eu tenho. Se eu vender, fico confortável, mas não quero me desfazer das coisas assim. Vou lutando até onde eu aguentar. Este salão de aluguel me rende R$ 2300 por mês só. Hoje virei caseiro de sítio, mas do meu (risos)", explicou.
"Eu sempre soube que minha carreira ia passar, mas não esperava que fosse tão rápido. Eu me machuquei cedo demais, operei o joelho em 2007, fiquei no Palmeiras no começo de 2008 com o Vanderlei Luxemburgo, saí do Palmeiras e tive que operar de novo. Foi muita cirurgia, uma em cima da outra. Sempre quis fazer o meu pé de meia, só esperava que fosse um pouco mais longe, que fosse pelo menos com uns 33 anos assim, no auge, mas não foi o que aconteceu", lamentou.
Redes sociais só com Palmeiras
Tanto o Twitter quanto o Instagram de Osmar são tomados por posts sobre o Palmeiras. Seja com vídeos de sua passagem pelo clube ou comentários do atual momento alviverde, o ex-atacante interage frequentemente com outros torcedores, inclusive participando de lives. Em alguns momentos, precisa até conter a vontade de "cornetar".
"Não sou mais jogador, mas quando a gente está jogando precisa passar uma imagem boa, não pode falar tudo o que quer. Às vezes as pessoas estão erradas, mas se você for falar tudo o que quer, muita gente vai ficar chateada por eu já ter vivido no futebol. Hoje sou um torcedor, sei que todo mundo tem razão, então prefiro me controlar. Ou então você vai entrar em um debate em coisas que não levam a lugar nenhum", pontuou.
Como um bom torcedor, Osmar ao mesmo tempo em que faz suas críticas saiu também em defesa do time depois da conquista do Campeonato Paulista. Teve direito, inclusive, a provocação em cima de amigos corintianos após a decisão.
"Vi o jogo em casa, estava muito confiante de que o Palmeiras iria ganhar, mas quando vai para os pênaltis, quem tiver mais psicológico leva. Você vê muita gente falando: 'pô, mas teve jogador que bateu mal, o Lucas Lima, o outro (Scarpa)'. Mas pênalti mal batido é o que não entra (risos). Eu senti o Palmeiras bem melhor", analisou.
"A torcida do Corinthians pega no pé tanto para xingar quanto para tirar sarro. O Palmeiras foi campeão paulista e tem um monte de colega meu corintiano. Aí vem a desculpa: 'ah, mas é Paulistinha, Paulistinha não tem problema'. Mas se eles ganham dizem que é porque é o Corinthians, porque é 'fera'. E se perdem é Paulistinha, entendeu? (risos)", brincou.
A passagem pelo Palmeiras
A relação profissional entre Palmeiras e Osmar começou na Copa do Brasil de 2004, como adversários. Então pelo Santo André, ele eliminou o futuro clube nas quartas de final, com empates em 3 a 3 e 4 a 4 - Osmar fez gols nos dois confrontos e naquele ano foi adquirido pelo Verdão. Iniciou-se, então, uma relação bem-humorada com o ex-goleiro Marcos, com quem mantém contato até hoje.
"A gente conversa, brinca às vezes e 'enche o saco' no Instagram. (Quando cheguei ao Palmeiras) Tivemos uma conversa por um gol que fiz no primeiro jogo (pelo Santo André), de longe. Ele considera um dos gols mais bonitos que levou na carreira e eu acho um dos mais bonitos que fiz, também. Aí ele me disse: 'contra, você era um leão, quero ver a favor, né (risos)?! O Marcão é um grande parceiro, me deu o maior apoio", relembrou.
Artilheiro do Palmeiras no Brasileiro de 2004 com 11 gols, Osmar passou um ano e meio fora do clube - entre o meio de 2005 e o fim de 2006, com empréstimos por Grêmio, Fortaleza, Oita Trinita (JAP) e Morelia (MEX). Quando voltou, em 2007, o atacante começou a sofrer com os problemas no joelho que encurtaram sua carreira.
"Foram 18 anos de carreira profissional e eu não posso reclamar das coisinhas que eu consegui vindo de onde eu saí, mas eu me machuquei muito rápido, no meu auge. Com 27 anos eu estourei a primeira vez o joelho esquerdo e por incrível que pareça nunca fui o mesmo Osmar de antes. Sempre sentia dor, quando não era uma coisa era outra, dava uma lesão diferente em outra perna. Foi muito curto meu tempo de sucesso, praticamente três ou quatro anos", contou.
A lesão ocorreu no dia de seu último gol em partidas pelo time principal do Palmeiras: 13 de maio de 2007, a derrota por 4 a 2 para o Flamengo - ele marcou aos 19 minutos do primeiro tempo e saiu aos 25, machucado. Ainda que alguns citassem as cambalhotas como um problema para o joelho, Osmar diz que não houve relação entre as comemorações e os problemas médicos.
Quando ficou mais perto de ganhar um título pelo clube que torcia, veio mais uma negociação, agora para o Ipatinga. Osmar jogou as primeiras rodadas do Paulistão de 2008, mas ficou fora dos planos de Vanderlei Luxemburgo, que levaria o Palmeiras à conquista em cima da Ponte Preta. Esta é uma frustração na relação do ex-atacante com o clube.
"Eu tinha condições de ficar no grupo até o final, mas trabalho de bastidores é complicado. Você sabe como funciona e a gente na verdade se torna objeto do clube. Quando chegou uma mensagem dizendo que eu seria negociado, eu falei que não, que eu poderia disputar posição com qualquer um. Não é menosprezo a ninguém, mas sei da minha qualidade. Só o Toninho Cecílio (então gerente de futebol) falou comigo. Não ficou mágoa, mas foi frustrante", lamentou.
"Eu ainda sei fazer gol"
Apesar dos problemas físicos que encurtaram a carreira, Osmar afirma que ainda sabe fazer seus gols.
"Se alguém me deixasse treinando por um mês, tomando vitamina, fazendo musculação, eu dava um chute ainda (risos)", divertiu-se. "Eu posso até não ter tido tanta qualidade, mas a vontade nunca faltou", acrescentou.
Os posts com gols e lembranças são uma forma, também, de amenizar a saudade de uma carreira que Osmar lamenta não ter conseguido levar mais longe.
"O João Paulo, ex-jogador do Guarani, sempre me dizia que o jogador morre duas vezes, quando para de jogar e depois quando tem a outra (morte natural). E é verdade. Parar de jogar não é fácil, não. Eu ainda parei pelas lesões, não queria ter parado e isto deixa a gente um pouco chateado. Eu tinha condições de jogar, de estar em um clube melhor, mas também desanimou os clubes do interior sem estrutura, sem dinheiro para pagar salários. Isto faz com que muitos, não só eu, decidam parar de jogar pela falta de respaldo", encerrou.
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