"Fiz m. com grana": Ex-Fla estragou festa de Bebeto e foi vendido sem saber
No dia 5 de novembro de 1989, Marcelo Ribeiro saiu de cena para dar a Bujica a eternidade. Naquele dia, a jovem revelação da base do Flamengo experimentou a glória de marcar os dois gols da vitória sobre o Vasco em um clássico jamais esquecido pelos rubro-negros.
Os 59.076 torcedores que foram ao Maracanã, no entanto, tinham os olhos voltados para um outro atacante: Bebeto. Meses atrás, o então ídolo do Fla pulou o muro e foi justamente para o maior rival. Na tarde marcada para o reencontro, Bujica brilhou, Bebeto foi expulso, deixou o campo chorando e as lembranças seguem vivas na memória do filho do "Seu Buja".
"A torcida estava danada com ele, né? A diretoria do Flamengo também achou não legal pelo fato dele ter sido cria da casa. Marcou a minha carreira, muita coisa aconteceu e eu entrei na história do Flamengo por conta desse jogo", disse ele ao UOL Esporte.
Atualmente morando em Rio Branco (AC), o capixaba de Cachoeiro do Itapemirim, que hoje trabalha na prefeitura da capital acreana, repassou o dia mágico que lhe conferiu o apelido "Caçador de Marajás" (em alusão ao então candidato à presidência Fernando Collor), relembrou aventuras ao longo da carreira e não escondeu a mágoa por ter sido vendido para um rival sem o seu consentimento. Jogador em um tempo de vacas não tão gordas, o ex-atacante admite que cometeu excessos com a grana que ganhou.
"Eu te confesso que eu fiz muita m.., eu gastei muito dinheiro".
Confira o papo com Bujica:
O dia mágico
"Eu entrei na estreia dele no Vasco jogando contra o Flamengo. O Bebeto foi muito profissional e a opção que ele achou a melhor foi ter ido para o Vasco da Gama e isso tem de ser entendido. O Flamengo venceu esse jogo, eu fiz os dois gols e o Bebeto ainda foi expulso junto com o (goleiro do do Fla) Zé Carlos. O Eurico Miranda falou muito antes do jogo. Alguns diretores, jogadores e torcida chamavam o Junior e o Zico de velhinhos e os dois acabaram arrebentando com o jogo. Não esqueço a hora que o Flamengo entra no campo, a gente sai do túnel do Maracanã, vai cumprimentar a torcida e eu estou junto dos meus ídolos de infância. Foi o último Flamengo e Vasco que Zico e Junior jogaram juntos e eu estava lá: 2x0 Flamengo".
Loucura por Zico
"Apesar de conhecê-lo, eu fico nervoso sempre que falo com ele. Ele representa muita coisa não só para o futebol brasileiro, mas principalmente para a minha carreira. Eu tive a sorte de ter Zico, Junior, Leonardo e Ailton. A geração de 80, a que conquistou o mundial de 1981, é a geração responsável por aquilo que o Flamengo representa hoje. Eu cheguei a jogar com o lateral Leandro no Flamengo também, esses caras marcaram a minha carreira e não tem como fugir disso.
Saída para o Botafogo
"Eu não tive opção, né? Eu não queria ter ido, mas cheguei no clube, fui treinar e fui para a concentração do Flamengo que ficava em São Conrado. Quando eu estava descansando, chegou um funcionário do clube para me buscar e me levou direto para o escritório do empresário Léo Rabello. Chegando no escritório do Léo, ele logo começou a conversar, disse que o Botafogo tinha interesse na minha contratação e imediatamente eu disse que eu não queria ir. Ele disse que não tinha jeito, que o Flamengo já tinha me vendido e recebido o dinheiro. Saí do escritório do Léo Rabello, fui para a casa do Emil Pinheiro (dirigente do Bota) e acertei o meu contrato com ele. Passei na Gávea para recolher o material e já não tinha mais ninguém, só estava o Babão, o roupeiro. Peguei o meu material, me despedi do Babão e fui embora. No outro dia de manhã, me apresentei ao Botafogo para treinar e não mais voltei na Gávea".
Mágoa com ex-presidente
"Eu me senti muito mal, vinha numa crescente e estava iniciando a minha carreira. Tinha feito algumas partidas importantes e uma justificativa que me deram foi que o clube estava precisando de dinheiro. A proposta que o seu Emil Pinheiro fez ao Flamengo foi muito boa, o Flamengo precisando de dinheiro não pensou duas vezes. O seu Emil não falou que ia parcelar em 500 vezes, perguntou quanto era e pagou à vista. Com o Flamengo eu não tenho nenhum tipo de chateação, a não ser com o senhor Gilberto Cardoso Filho (o presidente da época). Depois que eu cheguei lá, a torcida do Flamengo entendeu. Só me comunicaram que eu tinha sido vendido e a torcida do Flamengo entendeu muito bem isso".
Torcedor fanático
"Eu era flamenguista desde que nasci, a família toda é. O meu pai não consegue ver jogo do Flamengo, o Flamengo pode matar o meu pai, ele fica muito nervoso. Quando tem jogos importantes, ele vai pra sala, vê filme na televisão com volume bem alto pra não ouvir barulho externo. minha mãe não permite que a gente passe nenhuma informação para ele se for coisa negativa, pois o seu Sebastião, o seu Buja, fica muito nervoso mesmo, muito. Eu nunca beijei camisa de outro clube, nunca fui disso, só a do Flamengo, eu sou flamenguista e a minha relação é de torcedor mesmo. Às vezes, a gente esquece um pouquinho a condição de ex-atleta e se joga do lado do torcedor. Eu também sou graduado em Educação Física e pós-graduado em treinamento desportivo, então percebo algumas coisas e isso mexendo mais com a cabeça da gente".
Experiência no Peru
"Eu cheguei em 96 no Alianza Lima, foram duas temporadas.O treinador era o "Búfalo" Gil, ex-ponta direita da seleção brasileira e do Fluminense. Na primeira temporada, classificamos o time a Libertadores, mas o Gil foi embora e eu recebi o convite para permanecer. Para quem não conhece o Peru e acha que é um país pequenininho, pouco desenvolvido e que não oferece muita coisa, eu indico sempre. Tem uma gastronomia maravilhosa, Lima tem uma estrutura muito boa e há muitas locais para visitar como Cusco e Machu Picchu. Além de eu ter aprendido um pouquinho o espanhol, aprendi muito com o povo e eu tenho um filho peruano. Como eu era casado na época, minha ex-esposa estava junto, engravidou e o parto foi feito lá".
Vida pós-futebol
"Tem que administrar direitinho, joguei futebol em uma época em que não se tinha muita coisa, não se ganhava muito. Por conta de eu não ter ficado rico jogando futebol, fui buscar uma formação. Independentemente de idade, o ex-jogador tem de buscar uma formação para buscar uma outra fonte de renda. Hoje eu sou coordenador de esporte e lazer da Fundação Garibaldi Brasil de Cultura, Esporte e Lazer (FGB)".
Excessos nos tempos de bola
"Eu te confesso que eu fiz muita merda, eu gastei muito dinheiro porque eu fui muito desprendido. Mas hoje eu preciso trabalhar, eu preciso continuar trabalhando Tem de ter os pés no chão e eu não posso reclamar das oportunidades que tive e aquilo que eu tenho hoje. Eu agradeço muito a Deus pelo que tenho hoje. Se eu parar para pensar que eu fiz m... pra caramba, gastei pra caramba e que exagerei, a coisa fica pior."
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