'Caçador de Urubu' do Flu teve medalhas do tri roubadas, mas fã devolveu
O ano de 1982 esteve longe de ser bom para o Fluminense. O clube ia mal das pernas dentro e fora de campo. Na tentativa de voltar aos melhores dias, o Tricolor garimpou destaques de todo o país, como Aldo, lateral direito do Paysandu. Por ele, o Tricolor mandou sete jogadores e ganhou um 'caçador de urubus' para chamar de seu.
Já em 1983, no dia 11 de dezembro, o Maracanã tinha mais um domingo de Fla-Flu. Os rivais eternos já estavam em campo pelo título do Campeonato Carioca quando a torcida rubro-negra jogou um urubu, mascote do clube, em campo. Aos cinco minutos, o árbitro Arnaldo Cezar Coelho paralisou o jogo para retirar o animal. Suderj, curiosos e outros jogadores tentaram. O zagueiro Ricardo Gomes cercou, mas o caçador do urubu foi Aldo, levantando a massa tricolor e enfurecendo os flamenguistas no Maior do Mundo.
Alguns minutos depois, aos 45 do segundo tempo, Assis recebeu lançamento de Deley e, quando a torcida do Flamengo já comemorava o título, tocou na saída de Raul para se eternizar como o Carrasco do Rubro-Negro. No dia seguinte, entretanto, todo mundo ainda falava do lateral nascido em Macapá.
"Essa ficou famosa (risos). Peguei o urubu e nós ganhamos o título em cima do Flamengo em 1983. O Ricardo Gomes cercou, o urubu passou perto de mim e eu peguei. Aí ficou para a história. Pararam o jogo para tirar o urubu. Botei ele dentro da cestinha lá e os caras levaram. A torcida levou um urubu grande para dentro do Maracanã. Deu sorte. Eu fiquei conhecido como caçador de urubu. Pior que aqui na minha região tem muito", relembrou o ex-jogador em entrevista ao UOL Esporte.
Atualmente morando em sua cidade natal, Aldo hoje investe em construção civil com um ex-companheiro de Flu, o centroavante Jason, que atuou em apenas 21 jogos pelo clube em 1983, mas marcou 13 gols.
O lateral direito também contou a história do roubo de uma mochila, em sua casa em Macapá, com as grandes recordações dos tempos de jogador, como medalhas, camisas e outros itens. Famoso no Amapá e ídolo tricolor, Aldo viu um fã devolver a ele tudo o que tinha perdido.
"Roubaram tudo, aqui em Macapá mesmo, no ano passado. Entraram na minha casa, mas não tinha ninguém, pegaram a mochila com tudo, as minhas coisas estavam todas lá dentro. Levaram algumas medalhas, mas já me devolveram, um rapaz comprou, era meu fã e sabia que só tinha eu aqui com medalha do Fluminense. Ele me devolveu. Eu conheço as pessoas que compram essas coisas de metal por aqui. Os caras sabem que eu sou conhecido aqui no Estado e ninguém quis comprar. Um fã comprou, veio e me devolveu. O rapaz falou: 'Não, isso é do Aldo, eu vou devolver para ele, tem uma história por trás' e me devolveu as medalhas", contou.
Tricolor desde a infância, o ex-jogador relembrou momentos marcantes dos títulos do Brasileirão de 1984 e do tricampeonato carioca de 1983, 1984 e 1985, contou histórias da sua carreira sem fugir das frustrações como a lesão que lhe tirou da Copa do Mundo de 1986 e falou com saudade dos tempos de glória no Fluminense.
Confira o papo com Aldo:
'O melhor time brasileiro de todos os tempos'
"Sem dúvidas foi o Fluminense de 1984. Nós fomos campeões brasileiros, nós ganhamos tudo. A fase do Casal 20 [dupla formada por Assis e Washington] ficou marcada, foi excelente. Eu cruzava e os caras ainda tinham que se preocupar com o Assis ou com o Washington. A diferença era muito grande, os defensores não sabiam quem marcar. Eles levavam vantagem na área, eram muito bons. Nosso time tinha também o Deley, que servia muito bem, o Romerito que era um cracaço. O Fluminense tinha um timaço;"
Lesão custou a Copa do Mundo de 1986
"Eu tive uma fratura de tíbia em 1985. Na época havia uma pré-convocação para ir para a Copa do Mundo de 1986, eu estava muito bem, vinha de ótimos momentos no Fluminense e estava na lista. Em novembro de 1985, eu estava muito bem cotado na posição e aconteceu a lesão. Quebrei a tíbia e fui cortado já pré-convocado. É a minha maior frustração no futebol é não ter disputado uma Copa. Passei um ano para me recuperar e fiquei muito chateado com a situação."
Rivalidade com o Flamengo nos anos 1980
"Fizemos grandes jogos contra aquele Flamengo, mas sempre vencíamos (risos). Fora de campo a torcida deles é muito enjoada. Era uma rivalidade muito grande, acho que vivi os momentos de maior importância do Fla-Flu. Se vai jogar no domingo, já na segunda-feira começam a perturbar. Lá no Rio de Janeiro, eu morava no primeiro andar do prédio. Eles não me deixavam dormir direito com a bagunça na minha porta. Quando o Flamengo perdia, eles iam para a porta do prédio protestar. Batiam até tambor. Tinha o Nunes. Ele queria intimidar as pessoas, dava cotovelada, ia para cima... Falava que ia me pegar. O jogador mais difícil de marcar também era deles: Júlio César Uri Gueller, ponta-esquerda do Flamengo. Ele driblava muito, a gente não sabia o que ele ia fazer com a bola. O próprio Adílio também era difícil demais de parar".
Começo e chegada ao Fluminense
"Desde uns 10 anos jogo futebol. Comecei no Esporte Clube Macapá, no clube da minha cidade. Meu pai jogou lá e obrigava todo mundo a no mesmo time que ele jogou. Fui muito influenciado pelo meu pai. Jogávamos os cinco irmãos no time. Primeiro fui para o Paysandu fazer testes, acabei ficando três anos lá. No Campeonato Brasileiro de 1982, o Fluminense me contratou. O treinador era o Cláudio Garcia, ex-jogador e ex-treinador do Fluminense. Ele me indicou. Aí, em 1984, com o [Carlos Alberto] Parreira, fomos campeões brasileiros. Também teve o tricampeonato carioca em 1983, 1984 e 1985 e joguei com grandes jogadores: Casal 20, Romerito, Paulo Vitor, Branco, Delei, Duílio, Ricardo Gomes, Vica... um timaço".
O garçom do Carrasco
"Eu corria para caramba para cruzar para eles. O ala nunca é valorizado, quem era valorizado era o Casal 20 né, eles quem fazia os gols (risos). Mas virei garçom dos dois sim e teve o lance de 1984 que tive a felicidade de cruzar na cabeça do Assis. São coisas que ficam marcadas na nossa carreira, na nossa vida. Eu nunca vou esquecer".
Relação com o Fluminense
"Antes de jogar no clube eu já era Fluminense. Eu sempre fui tricolor. No Norte torcíamos muito para os times do Rio e aquela camisa me chamou a atenção logo criança. Foi a realização de um sonho jogar e ser campeão no time do coração. Sou um privilegiado."
Saudade e vida após o futebol
"A saudade é de jogar no Maracanã, a gente fala: 'jogador que não jogou no Maracanã não é jogador de futebol' (risos). Eu trabalho na construção civil aqui em Macapá, com o Jason, que foi um centroavante que jogou comigo no Fluminense. Nós somos daqui do Amapá, criamos uma empresa e fazemos obras para o estado e para o município, geralmente reformas nas repartições públicas. É uma empresa cadastrada em órgãos públicos. Naquela época o jogador não ganhava tão bem. A gente treinava muito e jogava e ganhava pouco. Hoje não, em um ano o jogador já está milionário. Precisei administrar mas deu tudo certo, hoje trabalhando consigo viver de maneira confortável."
O que mais irrita no futebol brasileiro atual
"O jogador está muito blindado. Hoje tem uma assessoria de imprensa, um empresário... Isso até estraga o jogador. O jogador de futebol no Brasil geralmente nasce na classe baixa, aí, com um monte de gente em volta, blindado, eles se empolgam e acabam se perdendo. Não tem uma cultura. O empresário faz o que quer com ele. Isso quando acaba não jogando nada porque precocemente vai para a Europa, às vezes nem tem qualidade. Hoje são os empresários que mandam no futebol."
A seleção de Aldo
"Félix; Aldo, Luisinho (Atlético-MG), Luis Pereira e Wladimir; Clodoaldo, Gérson e Rivelino; Jairzinho, Pelé e Tostão. Claro que vou me colocar, pô (risos)."
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.