Titular na zaga do Inter treinou como atacante com Tite e estudou Coudet
Zé Gabriel é titular na zaga do Internacional. Imediatamente após a venda de Bruno Fuchs, o jogador de 21 anos espantou qualquer dúvida e ocupou lacuna na equipe ideal de Eduardo Coudet. Mas o nome dele poderia estar bem mais para o fim da escalação. Há dois anos, Zé Gabriel chegou a treinar no grupo principal do Corinthians com Tite como centroavante.
A trajetória do sergipano de Carmópolis no futebol começou cedo. Com 13 anos foi trazido ao Rio Grande do Sul para jogar o Efipan (torneio de base). Atuaria pelo Inter, mas acabou indo para o São José. O destaque na competição, em que atuou como volante e meia armador, acabou despertando interesse de Athletico Paranaense, Corinthians e Santos. E foi no Parque São Jorge que acabou jogando.
Zé iniciou como volante, virou meia, e, como marcava muitos gols, foi empurrado para o comando de ataque. Passou a ser utilizado como centroavante e ponta direita. Na frente, chegou a treinar com a seleção brasileira sub-17 e participou de atividades com Tite no Corinthians.
"Ele era capitão do time, fazia muitos gols, e pela estatura quiseram levar ele para ser nove. Fizemos três anos muito bons no Corinthians, mas eu notava que não era a posição dele. Conversamos e decidimos que era necessário mudar. Não estávamos felizes com a posição em que ele estava", disse o ex-jogador Tiago Silva — com passagens por Palmeiras, Portuguesa, Juventude, entre outros —, que trabalha como empresário de Zé desde o início da carreira.
A avaliação dele apontava que a melhor posição em campo era recuado. Ainda que um jogador de tamanha técnica pudesse atuar em qualquer lugar do campo. Tanto que, dois anos antes de se firmar como titular na zaga do Inter, ele era centroavante.
"Ele é o tipo de jogador que, pela capacidade técnica que tem, pela qualidade que demonstra, pode jogar em qualquer posição do campo. Se colocar como lateral esquerdo, como volante, meia, ele vai se sair bem. É um jogador com técnica fora do comum. E essa técnica possibilita que ele vá bem em qualquer posição", acrescentou o agente.
Ao fim do vínculo com o Corinthians, Zé assinou com Inter. No clube gaúcho, retomou as posições defensivas do meio e, ainda na base, começou a ter oportunidades como zagueiro pela direita em uma formação com três defensores. Em seguida, foi destaque do time na Copa Ipiranga e subiu ao time principal. Estrearia contra o Ceará, mas se lesionou, acabou jogando pela primeira vez no time de cima diante do Fluminense, junto aos reservas. O Inter perdeu, ele oscilou e passou por um processo de preparo psicológico de olho em novas chances. Que vieram, principalmente em 2020.
Estudo de movimentos e time de Coudet
Entre 2019 e 2020, Zé Gabriel se preparou. Foram dias e dias de sessões de vídeo. Acompanhado pelo agente e tutor na preparação, ele estudou o estilo de jogo do técnico Eduardo Coudet e como se encaixaria no modelo.
"Organizamos uma estrutura. Olhamos a forma que o Coudet joga, onde poderia se encaixar, montamos uma programação de treinos para ele voltar voando. Quando os caras acordarem, você já vai estar muito na frente, eu disse para ele. Essa foi nossa estratégia. Logo o treinador colocou o olho nele, passou a dar atenção, e o resto a gente já viu", contou Tiago.
"A gente ia para casa e ficava olhando os jogos dele, os movimentos que fazia, onde precisava melhorar. E também passamos a olhar os jogos do Racing, o sistema de jogo, onde poderia jogar. Era uma hora e meia de vídeos por vez. Observei que não tinha muitos jogadores no elenco do Inter que poderiam fazer aquela função do zagueiro que encontra o passe para saída. Lemos juntos os jogos e falei que um cara com a qualidade dele seria importante para o treinador", acrescentou.
Seriedade e potencial observados desde cedo
No Colorado, o potencial de Zé Gabriel ficou claro desde o início. As qualidades, a seriedade e a atenção dada a cada jogo e treino sempre chamaram atenção no jogador.
"O Zé Gabriel sempre foi um atleta muito sério, dedicado e concentrado. Ele teve uma boa crescente nos dois últimos anos, evoluiu muito e ainda está no processo de evolução. Ele já atuou na base como zagueiro e volante. Na base, acabou atuando mais como volante. Neste ano passou a atuar mais como zagueiro", disse, ao UOL Esporte, Ricardo Colbachini, atualmente no comando do Pelotas — eles trabalharam juntos no Inter B e no principal.
"A principal função dele é defender, é a zaga. Mas é um jogador com boa qualidade na saída, responsável, firme e concentrado nas ações do jogo. Tenho certeza que ainda irá crescer bastante ao longo do ano", completou.
"O Zé chegou para nós do Corinthians, numa escola de muita cobrança e exigência. Observamos um jogador com uma imposição física gritante, personalidade, liderança, é um jogador que quer vencer. Isso sempre nos chamou muito atenção", contou o auxiliar técnico do time sub-20 do Inter, João Miguel, ao UOL Esporte.
"Trabalhamos vários aspectos com ele, mas ele sempre mostrou uma marcação muito forte e um passe inicial, de construção, muito bom. Conversamos que em algum momento na carreira ele poderia ser utilizado como zagueiro. Na base chegou a atuar numa saída com três. Observávamos que isso poderia acontecer. Hoje o futebol pede um passe inicial muito bom, e ele tem, o passe vencedor, que chamamos, que encontra um jogador bem colocado. Além de ter um contra um muito bom, ser veloz, uma ótima recuperação, e está mostrando tudo que sempre esperamos dele. Um perfil, uma personalidade muito forte, que já chegaria ao principal preparado para o que está vivendo, para cobrança", completou.
O próximo jogo do Colorado será no sábado (29), diante do Botafogo, no Rio de Janeiro. Mais uma oportunidade para manter a boa fase e confirmar toda expectativa do clube.
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