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Champions feminina: Lyon vai à final para manter dinastia e 'dar exemplo'

Wendie Renard comemora gol do Lyon pela semifinal da Champions feminina contra o PSG, em Bilbao (ESP) - Alvaro Barrientos/Pool via Getty Images
Wendie Renard comemora gol do Lyon pela semifinal da Champions feminina contra o PSG, em Bilbao (ESP) Imagem: Alvaro Barrientos/Pool via Getty Images

Leticia Lazaro

Colaboração para o UOL, em São Paulo

30/08/2020 04h00

Uma dinastia. Este é o melhor termo para referir-se à equipe feminina do Olympique Lyonnais, que chega a sua quinta final de Champions League consecutiva. Hoje (30), às 15h (horário de Brasília), o rival é o Wolfsburg e a partida será disputada no País Basco, na Espanha. Enquanto no masculino o Lyon chegou às fases finais como surpresa, no feminino os resultados positivos já eram esperados.

Se dentro de campo elas são absolutas, fora das quatro linhas, o time francês justifica todo o sucesso que obteve durante este século.Presidente do Lyon há 33 anos, Jean-Michel Aulas é considerado pioneiro no futebol feminino da Europa. Ele é o principal nome na criação de uma identidade vencedora para o time feminino do OL.

Em 2004, foi criado o departamento de futebol feminino do Lyon. Em entrevista à rádio francesa Europe1, "JMA" admitiu: o investimento não teve um caráter econômico e, sim, social. Agora, 16 anos depois, o time francês se provou sustentável a ponto de ser a maior folha salarial do futebol feminino no mundo. A média salarial das jogadoras é de 162 mil euros por ano, e a jogadora mais cara do mundo, a norueguesa Ada Hegerberg, joga lá.

Após a vitória diante do rival PSG e a classificação à mais uma final de Champions garantida, Aulas concedeu entrevista ao jornal L'Equipe e falou sobre a importância do trabalho feito pela administração do Lyon.

"Vou contar um segredo, depois da semifinal [contra o PSG], dei a elas um bônus igual ao que demos aos meninos depois da Juventus [nas oitavas da Champions masculina]. É um prazer ser presidente desta equipe", ele contou, referindo-se ao valor pago como premiação após uma classificação. Os valores de bônus pagos para o feminino, normalmente, não chegam nem perto do que as equipes masculinas recebem.

Além dos salários, outro aspecto positivo que chama atenção é a estrutura dada às atletas desde as categorias de base: os garotos e as garotas dividem os mesmos campos, fisioterapeutas, psicólogos e estrutura. E o investimento dá resultado: de acordo com Sônia Bompastor, ex-jogadora e agora diretora da Base do Lyon Feminino, um terço das atletas da equipe principal vieram das categorias abaixo do clube.

O ambiente é igualitário entre homens e mulheres. "Quando você fala sobre o Lyon masculino e feminino você só consegue pensar em um clube único e você sente isso quando está aqui e vivendo na cidade", a zagueira Carolin Simon, hoje no Bayern de Munique, contou em entrevista à Reuters. "Você percebe isso no fato de jogarmos em um estádio grande. Isso não é "comum" no futebol feminino", ela finalizou. O time feminino do Lyon disputa suas partidas no Groupama Stadium, estádio com quase 60 mil lugares.

Superestrelas unidas

Todas essas vantagens, é claro, chamam atenção jogadoras consagradas, que, ao serem contatadas pelo Lyon, veem com bons olhos jogar lá. É o caso de Alex Morgan e Megan Rapinoe, supercampeãs com a seleção americana, que já atuaram pela equipe francesa.

Além disso, é muito comum que jogadoras emergentes no cenário do futebol feminino internacional sejam contratadas pela equipe. As inglesas Lucy Bronze e Alex Greenwood, a norueguesa Ada Hegerberg, a alemã Dzsenifer Marozsán e a canadense Kadeisha Buchanan são exemplos de jogadoras contratadas após tornarem-se destaques em seus países.

Em relação às francesas, o Lyon é a base da seleção. Das 11 jogadoras que iniciaram as oitavas de final da Copa do Mundo de 2019, quando a França eliminou o Brasil por 2 a 1, seis eram atletas do Lyon.

Tantas craques no vestiário, no entanto, não causa problemas de ego no vestiário. Quando questionado sobre o assunto, Jean-Michel Aulas falou sobre a importância do time para as mulheres ao redor do mundo: "Queremos que a representatividade feminina progrida na França e no mundo graças a esta equipe. É um dever dar o exemplo e sabemos disso. A união é incrível", ele respondeu.

Com a união e 16 anos de trabalho, o Lyon vem colhendo os frutos sendo a grande equipe de futebol feminino que o mundo tem. São 14 títulos franceses em sequência, um recorde absoluto para o futebol francês e nove conquistas da Copa da França - a última, inclusive, conquistada há poucas semanas diante do rival PSG.

Na Champions, nove finais, seis títulos, sendo quatro deles nos últimos quatro anos. A final contra o Wolfsburg pode ser apenas mais um capítulo dessa gloriosa história que, além de todas as conquistas, tem uma a qual deve se orgulhar ainda mais: a de ser, há quase duas décadas, a maior referência dentro de uma modalidade.