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Brasileiro que estreou com Messi no Barça viu rota oposta e já se aposentou

Tiago Calvano pelo Minnesota United, em 2014: zagueiro estreou com Messi no Barcelona - Josh Holmberg/Icon SMI/Corbis/Icon Sportswire via Getty Images
Tiago Calvano pelo Minnesota United, em 2014: zagueiro estreou com Messi no Barcelona Imagem: Josh Holmberg/Icon SMI/Corbis/Icon Sportswire via Getty Images

Leandro Miranda e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

03/09/2020 04h00

O dia 16 de novembro de 2003 está marcado na história do Barcelona como a estreia de Lionel Messi pelo time principal. Em um amistoso contra o Porto, para comemorar a inauguração do Estádio do Dragão, o futuro maior jogador da história do Barça, então com apenas 16 anos, foi a campo aos 30 minutos do segundo tempo. Mas ele não foi o único estreante da noite: seis minutos depois, o brasileiro Tiago Calvano também entrou, substituindo Oleguer.

Mas quem é Calvano? É um ex-zagueiro que foi lançado no Botafogo por Paulo Autuori, passou duas temporadas no time B do Barcelona convivendo com astros do futebol mundial, fez quase toda a carreira na Europa, virou amigo de Del Piero na Austrália e pendurou as chuteiras há dois anos, nos Estados Unidos. A carreira não tomou nem de longe o mesmo rumo da de Messi, mas história não falta para o ex-jogador, como ele conta em papo exclusivo com o UOL Esporte.

"Naquela época, como sempre, o Barcelona só tinha fera", diz Tiago, que defendeu a equipe B nas temporadas 2003/04 e 2004/05. "Eu tive a oportunidade de treinar e fazer alguns jogos pelo time A, e foi uma experiência sensacional jogar com Xavi, Iniesta, Messi, Ronaldinho, Deco, Edmílson, Kluivert, Larsson... só fera".

A trajetória até o Barça foi bastante incomum. Revelado no Botafogo, Calvano ganhou a primeira chance no profissional pelas mãos de Paulo Autuori em 2001, mas logo saiu para defender o Perugia, da Itália, onde ficou até 2003. Não jogou, mas conta que aprendeu muito nos treinamentos. Foi aí que surgiu a oportunidade de fazer um teste no Barcelona, já com 22 anos. Foi aprovado e assinou por cinco temporadas.

O jogo com o Porto foi o primeiro pela equipe principal do Barça - e também o primeiro contato com Messi, que ainda era do juvenil, mas foi convocado para o amistoso no Estádio do Dragão. O adolescente de 16 anos era a maior joia da base catalã, mas não conseguiu evitar a derrota por 2 a 0. Tanto ele quanto Calvano entraram com o placar já definido.

"A partir daquele dia, o Messi começou a treinar com o time B", lembra Tiago. "Era um menino de 16 anos... a natureza dele já é ser mais calado, imagina com 16 anos? Indo para o Barça B, onde todos já eram mais velhos, ele quase não falava. Mas eu particularmente me dava muito bem com ele, ele trocava de roupa do meu lado, e pelo fato de a gente ser sul-americano, ali no vestiário a gente conversava tranquilo".

Mas nem só de Messi são as lembranças de Calvano nos dois anos de Barça. Algumas histórias com os craques ele prefere "deixar em off", mas uma com o ponta holandês Marc Overmars pode ser contada. "Depois do meu primeiro treino, ele me chamou para fazer uma hidromassagem, aí sentei do lado dele, eu e mais dois do time B. E ele começou: 'sejam bem-vindos, mas saibam que estão fazendo hidromassagem com Overmars'... começou a falar o currículo dele, não sei quantas vezes campeão, tantos jogos com a seleção... meteu uma bronca, demos risada pra caramba".

Calvano diz que sempre foi consciente do próprio potencial e, após dois anos no time B, admitiu que não receberia oportunidades na equipe principal. "Nunca fui um zagueiro rápido, e para jogar no Barcelona, você tem que ser", avalia ele. Decidiu sair para o Young Boys, da Suíça, e depois defendeu os alemães Duisburg e Fortuna Düsseldorf até 2011. Já com 30 anos, foi para a Austrália no que ele pensava que seria a última etapa da carreira.

Calvano e Del Piero - Steve Christo/Corbis via Getty Images - Steve Christo/Corbis via Getty Images
Calvano comemora gol do Sydney FC com Del Piero, que se tornou seu amigo fora de campo
Imagem: Steve Christo/Corbis via Getty Images

Na Oceania, foi companheiro de time de mais dois atacantes consagrados do futebol europeu: o inglês Emile Heskey, no Newcastle Jets, e o italiano Alessandro Del Piero, no Sydney FC. Com Del Piero, aliás, Calvano mantém contato até hoje, definindo o ídolo da Juventus como "fora de série dentro e fora de campo". Mas depois de receber uma suspensão pesada por encostar no árbitro em um clássico, decidiu deixar a Austrália e encerrou a carreira nos Estados Unidos, em 2018, após defender Minnesota United e Penn FC.

Hoje morando em Orlando e falando seis idiomas, Calvano trabalha como olheiro do Minnesota United, diretor de relações institucionais de uma empresa de material esportivo e ainda na expansão de uma rede de escolinhas de futebol. E de longe, ele acompanha a novela envolvendo o ex-parceiro de vestiário Lionel Messi, em guerra aberta com o Barcelona para deixar o clube sem o pagamento da multa rescisória de 700 milhões de euros.

"Torço para que ele não saia, pela história que tem no clube, seria triste para o Barcelona. Mas a decisão que ele tomar, eu torço por ele, que seja feliz onde for. Futebol não é ciência exata, tem grandes jogadores que vão para certos clubes e acabam não jogando bem, mas se tratando de um gênio do futebol, a chance de dar certo é muito maior. Não tem liga que vai pará-lo".