Camisa 10 do Corinthians rebaixado fala de 2007 e do apelido "Barrílton"
Quando Aílton voltou ao Brasil, na metade de 2007, era para realizar um sonho: jogar no time do coração, ser o camisa 10 e se firmar no Campeonato Brasileiro pela primeira vez. Não deu nada certo: apenas sete jogos, rebaixamento com o Corinthians e um apelido nada elogioso por causa do peso. Em entrevista ao UOL Esporte, ele conta o que deu errado.
Aílton foi contratado pelo Corinthians para suprir a ausência de Willian, então revelação, que tinha sido vendido ao futebol ucraniano. Então, aos 29 anos, o meia retornava ao país após oito anos no futebol do México, onde ganhou a maioria dos títulos da carreira. "Foi minha melhor fase, época muito vencedora", lembra.
Ele tem algumas boas lembranças no Corinthians, mas o rebaixamento naquele Brasileirão acabou virando uma mancha na carreira. "Não me arrependi [de jogar no Corinthians], porque eu sou corintiano. Foi um sonho que eu cumpri; não só meu, mas de muita gente da minha família. Era uma oportunidade que eu não podia deixar passar. Quando eu cheguei, entrei no vestiário, foi uma das maiores alegrias que tive", recorda.
Aílton estreou junto com outros três reforços (Iran, Fábio Braz e Héverton) na derrota por 1 a 0 para o Botafogo, no Pacaembu. O técnico era o interino José Augusto, que segurava as pontas até Nelsinho Baptista assumir 15 dias depois. Em seis jogos, Aílton deu três assistências em cobranças de falta, mas também cometeu um pênalti e foi expulso uma vez. O sétimo e último jogo com a camisa do Corinthians foi o do rebaixamento.
"Em poucos jogos, eu já era o maior passador do time, até estranho quando soube. Mas chegar para substituir um jogador como o Willian, que o Corinthians tinha como um xodó, é muito difícil. Naquele ano, eu também joguei poucos jogos na meia-esquerda", justifica Aílton, que depois do descenso foi embora para a Universidad Católica (CHI).
"Depois ainda voltei para o México, ou seja, minha carreira seguiu normal, a carreira segue. Se todo jogador rebaixado terminar a carreira, um monte de craque estaria sem jogar. Para o Corinthians, sim, o rebaixamento foi até bom, porque colocou o trem nos trilhos; estava todo desgovernado", avalia Aílton.
Para Aílton, daquele semestre desastroso só sobrou um apelido: "Barrílton", uma piada sobre seu suposto sobrepeso — que ele nega. "Depois é que eu fiquei sabendo que eles me chamavam de Barrílton. Imagine, eu tenho 1,70 m de altura e pesava 70 kg, não sei porque me chamavam de Barrílton. Eu estava vindo do Pumas (MEX) e mantive o peso. Mas é normal, quando o time está ruim todo o mundo inventa apelido", pondera.
José Aílton da Silva, nascido em Cajueiro-AL, comemora aniversário de 43 anos na próxima terça-feira (8). Ele trocou o futebol pela construção civil, área em que começou a atuar ainda nos tempos de jogador. A lógica do negócio é simples: o ex-jogador compra terrenos vazios para construir sobrados e os alugar em seguida. Atualmente vive em Orlando, nos Estados Unidos, para que as filhas adolescentes "tenham esta experiência" de morar fora.
Confira o restante da entrevista com o ex-jogador:
UOL Esporte: O rebaixamento com o Corinthians deixou marcas negativas na sua carreira?
Aílton: Qualquer rebaixamento de qualquer time deixa uma marca negativa na carreira. Naquele momento, o rebaixamento era a única coisa que poderia salvar o Corinthians do próprio Corinthians. Tanto é que depois o clube trilhou outro estilo, outro modelo. Muita gente fala mal do Andrés Sanchez, mas a administração dele entre 2007 e o Mundial de Clubes de 2012 é impecável. Nos poucos meses em que eu estava no Corinthians, o clube teve três presidentes, estava uma bagunça muito grande. A única coisa que salvaria o Corinthians do Corinthians mesmo seria algum choque, que foi o rebaixamento. Claro que deixa marca negativa na carreira, o rebaixamento é uma coisa péssima, mas muita gente sobrevive a um rebaixamento, e eu sobrevivi também. Ser rebaixado é algo normal no futebol, não tem nada de escandaloso. O Palmeiras caiu, o Corinthians caiu, e segue a vida, não tem nenhum problema.
Nota da Redação: Os três presidentes a que Aílton se refere são Alberto Dualib, o interino Clodomil Orsi e depois Andrés Sanchez, que se sucederam entre agosto e novembro de 2017. Dualib era investigado pelo Ministério Público Federal e, pressionado por possível impeachment, acabou renunciando ao cargo.
UOL Esporte: Você foi revelado pelo Bragantino. Tem acompanhado a nova fase, com a Red Bull? É muito diferente do que você viveu nos anos 90?
Aílton: Tenho visto, sim. Na minha época, a gente passava muita necessidade lá, muita dificuldade. Eu lembro um jogo em Bragança em que, faltando uma hora para o jogo, a gente comeu arroz, feijão e ovo... O Bragantino foi muito bom enquanto estava o técnico Cilinho, depois que ele foi embora, o Bragantino ficou muito escasso. Cilinho dava muita ênfase aos jovens, a gente tinha alimentação boa. Quando ele foi embora o clube passou por uma situação muito complicada, muito ruim.
UOL Esporte: Em 1996 você foi para o Palmeiras, mas a passagem durou pouco. Por quê?
Aílton: Eu saí do Bragantino para o Palmeiras. Meu primeiro teste foi com o Cafu, que naquele dia não sei por qu estava com os juniores e treinou como lateral esquerdo, não direito. Eu era ponta esquerda. Então, veja, minha situação era difícil, né? O meia titular quando eu cheguei era o Djalminha, depois Alex, Rivaldo, Viola? Cada vez foi afunilando mais. O Palmeiras dizia que eu seria utilizado, o Márcio Araújo [hoje auxiliar de Fernando Diniz no São Paulo] era coordenador e dizia que eu jogaria, mas eu vi que não tinha futuro ali. Era quase impossível jogar naquele time da Parmalat. Para mim, aquele Palmeiras da Parmalat foi o melhor time brasileiro de todos os tempos. Era incrível ver os caras jogarem, era fora do comum.
UOL Esporte: Sua carreira foi toda construída no México, foram oito temporadas lá. Quais as diferenças do futebol mexicano para o brasileiro?
Aílton: O Pumas é como se fosse o Corinthians no México, é uma torcida apaixonada igual à do Corinthians. A diferença é que no México não tem essa pressão como tem em um Corinthians. Você não vai ver gente entrando no vestiário como aconteceu com a gente, o pessoal querendo bater em você... Isso não acontece no México, e é um absurdo. Imagina se fosse assim todas as vezes em que uma agremiação como o Corinthians ou alguma outra torcida do Carnaval caísse para a segunda divisão, se a gente fosse lá bater no pessoal? Isso não existe.
N. da R.: A Gaviões da Fiel, principal torcida organizada do Corinthians e também uma escola de samba, foi a 11ª colocada dos desfiles do Grupo Especial do Carnaval de São Paulo em 2020. A escola não foi rebaixada por meio ponto.
UOL Esporte: O que te fez ficar tanto tempo no México?
Aílton: Foi o mercado: cada jogador encontra o seu mercado, e o meu era o mexicano. O mercado mexicano me abraçou pela forma que eu jogava, e eu consegui desenvolver meu melhor futebol lá mesmo. Tem jogador que joga bem em um lugar, e quando vai para outro não desenrola. Também cheguei a jogar no Bari (ITA), não fui muito bem, e lá na Venezuela tive bons campeonatos no time que era da Parmalat [Deportivo Italia FC; hoje renomeado para Petare FC]. Isso às vezes acontece, e você tem que encontrar o seu mercado fora do país.
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