Coudet foge de "padrão gringo" e abre mão de estilo quando necessário
Eduardo Coudet é um estrangeiro fora do comum no futebol brasileiro. Enquanto o padrão dos treinadores de outros países mostra o apego absoluto a seus conceitos de futebol, o argentino do Inter se mostra maleável. Em campo, ainda que tenha como ideia principal sempre atacar, já entendeu as necessidades que cada jogo apresenta.
Ele mesmo admite isso. No início do ano, quando o Colorado disputava as fases preliminares da Libertadores, Coudet foi questionado exatamente neste sentido. Conhecido por montar equipes que atacam o tempo todo, ele levou o Inter a manter o resultado e arriscar o mínimo possível tanto contra Tolima quanto contra Universidad de Chile fora de casa.
Em coletiva, explicou que por ser uma eliminatória de dois jogos, no início da temporada, ainda conhecendo o grupo de jogadores e suas características, o mais importante naquele momento era conseguir a classificação. Não correr risco de fazer como muitos times importantes já fizeram, cair prematuramente do torneio de clubes mais importante do continente.
E os resultados comprovaram que abrir mão de suas ideias foi um acerto. O Inter empatou ambos os jogos fora de casa em 0 a 0. Trocou passes, recuou, se defendeu, não foi nada do que Coudet sempre defendeu naqueles jogos. Em casa, "se soltou", e bateu os dois rivais.
No Gauchão, a premissa foi sempre a mesma: atacar. Mas no Brasileiro, o argentino já mostrou que não é apegado ao estilo. A meta de sempre ter mais posse de bola que o adversário ou de seguir atacando e construindo mesmo quando estiver na frente no placar deixou de guiar as ações do Colorado contra o Atlético-MG, por exemplo. Depois de sair na frente e tentar uma ou outra chegada, o Inter fechou-se à frente da meta de Marcelo Lomba e defendeu o que pôde o resultado. Acabou vencendo, mesmo que terminasse o jogo com bem menos posse de bola que o rival.
Na última quarta-feira (2), contra o Palmeiras, a busca pelo ataque já nos acréscimos e com 1 a 0 no placar gerou reclamação. Coudet queria exatamente que o time mantivesse a bola e defendesse o resultado, algo que havia feito em outros momentos. Mas não fez, e acabou sofrendo o empate.
A conduta "maleável" o difere de estrangeiros de sucesso no país. Jorge Sampaoli e Jorge Jesus, por exemplo, nunca afastavam-se um centímetro sequer das ideias que têm de futebol.
No contato diário também residem diferenças. Coudet não é o tipo de profissional que chama para si holofotes além dos que tem. Não gosta muito de entrevistas, prefere trabalhar — e muito — em campo. Não quer chamar atenção demais.
Na relação com os superiores, não é o tipo que repete pedidos e exigências. Ainda que tenha citado as necessidades do time uma ou duas vezes, e até "falado demais" em coletivas, tendo atenção chamada pelos cartolas, Coudet sempre faz questão de dizer que está ciente do que pode esperar e que não reclama do que está à sua disposição.
Até mesmo algumas palavras em português já tentou com os jornalistas. E garante que só não fala mais porque dá vergonha e medo de tropeçar em termos mais complicados.
Entre os sorrisos óbvios que brotam pela boa campanha no Inter, o argentino parece totalmente adaptado. Tanto que está alugando uma casa em Porto Alegre para trazer a família — que segue na Argentina — para o acompanhar. Já superou a desconfiança inicial, uma vez que se adaptou ao contexto do futebol brasileiro, e cada vez menos lembra um treinador estrangeiro.
A exigência de intensidade em jogos e treinos, os gritos no campo, as atividades que levam o grupo à exaustão, porém, essas não mudaram nada. E nem irão mudar, independente de ser padrão ou não entre os gringos que chegam ao Brasil.
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