Thiago Neves bateu BMW e levou 3 meses para pagar oficina, conta ex-Flu
Além do futebol apresentado dentro de campo, Luiz Alberto sempre chamou a atenção pelas boas e longas entrevistas que concedia aos jornalistas durante o período em que foi jogador. O ex-zagueiro - que começou no Flamengo e teve passagens de destaque por Fluminense, Santos e Athletico Paranaense - sempre encarou os microfones da mesma maneira que enfrentava os atacantes: sem medo. E ele continua assim.
Aos 42 anos de idade e com as chuteiras já penduradas, Luiz Alberto conversou com exclusividade com o UOL Esporte e voltou a contar boas histórias. Durante o descontraído papo por telefone, o zagueiro confirmou um episódio curioso de seus tempos de Fluminense.
Ao fim de 2007, o ainda jovem Thiago Neves já se destacava com a camisa 10 da equipe, assumindo a titularidade após a venda de Carlos Alberto ao Werder Bremen. Foi assim que o meia atraiu interesse do Palmeiras.
Em agosto daquele ano, Thiago assinou pré-contrato com o Verdão e recebeu R$ 400 mil em luvas. Só que o jogador, à época com 22 anos, renovou seu vínculo com o Tricolor por mais três anos, em outubro.
Ele desmentiu o pré-contrato, ainda que tenha gasto o valor das luvas em um carro novo, uma BMW. O problema é que, logo após trocar de carro, envolveu-se em um acidente de trânsito. Foi aí que Luiz Alberto entrou na história. Dono de uma oficina, o irmão do defensor, Luiz Claudio, ficou responsável pelo conserto.
Só que, em meio ao imbróglio, Thiago Neves criou uma dívida, abatida dos primeiros salários na renovação, já que o Palmeiras abriu disputa jurídica com o Fluminense pelo acordo rompido. E, segundo Luiz Alberto, o meia demorou a pagar pelos serviços da oficina.
"É verdade. Demorou quase três meses para me pagar [risos]. Ele me olhava e falava: 'Ô, Luiz, pode ficar tranquilo, eu vou pagar, eu vou pagar', e não pagava nunca. E o meu irmão... 'Caraca, a nota é alta, a nota é alta'... Eu falei: 'P.., vou falar com ele, né? Vou levar a nota para ele novamente'... Demorou uns três meses para ele pagar, mas pagou. Aquilo ali é um mão de vaca, nunca vi pior que ele! O Thiago Neves é uma figura", brincou Luiz Alberto.
"Sorte" em título da Copa do Brasil 2007
Depois de passar pelo Santos em 2005 e 2006, Luiz Alberto defendeu o Fluminense entre 2007 e 2009. Logo em seu primeiro ano com a camisa tricolor, o zagueiro conquistou um dos títulos mais importantes de sua carreira: a Copa do Brasil. Titular no jogo de ida da final contra o Figueirense, no Maracanã, ele precisou deixar o campo na etapa final por conta de uma lesão.
Por obra do destino, seu substituto, Roger Machado, hoje técnico, foi o responsável por marcar o gol em Florianópolis que deu a vitória (1 a 0) e o título ao Fluminense.
"Eu me machuquei no primeiro jogo no Maracanã, no segundo tempo, tive uma lesão no púbis, é horrível. Fui fazer uma virada de bola, girei o corpo e senti na hora. Eu pensei em continuar no jogo, mas quando começava a dar o passe saía um peteleco, já não tinha mais força, aí levantei a mão e falei com o doutor, fiz um exame e tinha dado uma fissurinha no osso. Aí viajei na quarta-feira seguinte, que era o jogo lá em Floripa, tomei várias anestesias no púbis na véspera do jogo para ver se ia dar pra jogar, saí do hotel, e o Dr. Michel já tinha dado a anestesia. Cara, chegou lá no treino e não durou cinco minutos, foi impressionante quando o efeito da anestesia passou, eu não conseguia andar", lembra Luiz Alberto.
"Aí quem entrou foi o Roger, que fez o gol. Eu falei: 'Roger, tinha que ser você mesmo. Deus sabe de tudo, fez eu ter lesão no púbis para você entrar e fazer o gol'", conta.
Devolveu provocação e imitou saci contra o Bahia
Na mesma campanha da Copa do Brasil, o Fluminense teve pela frente um confronto nada fácil contra o Bahia pelas oitavas de final: 1 a 1 no Maracanã e 2 a 2 na Fonte Nova. Segundo Luiz Alberto, a classificação pelos gols marcados fora de casa teve um tempero em especial, já que ele teve a chance de devolver as provocações feitas pelo atacante Fábio Saci.
"Foi muito engraçado isso aí. Vou contar essa história: primeiro jogo aqui no Maracanã, eles tiraram a maior onda, acho que foi empate aqui, e esse menino aí, nossa, o que ele falava... 'A gente vai massacrar, vai fazer não sei o que', e eu falei 'beleza, né', e lá foi o jogo que o Renato Gaúcho assumiu o time, lá na Fonte Nova, e o jogo pegando fogo e ele botando o terror", diz.
Sabe o que eu fiz? Saí pulando numa perna só [risos]"
"Nossa, quando a gente se classificou, a gente estava comemorando e todo mundo entrando em campo, e aí sabe o que eu fiz? Saí pulando numa perna só [risos]! E o Caco [Horcades, ex-presidente do Fluminense] veio na minha direção e disse: 'Pelo amor de Deus, não faz isso não'. Eu imitei legal. Ele fazia os gols e imitava o saci, foi muito engraçado isso aí", diverte-se.
Renato Gaúcho sim, Cuca não
Jogador de Renato Gaúcho no Fluminense, Luiz Alberto ainda guarda um carinho enorme pelo ex-professor. Ele afirma: não tem como não correr por ele dentro de campo.
"O Renato é uma figuraça. Vou ser sincero pra você: Se você ouvir um jogador falar que não corre pro Renato e que não se deu bem com ele, pode ter certeza que ele fez uma m... grave, não tem como você não correr para aquele cara ali", diz.
Não tem como você não correr pra aquele cara ali"
Em contrapartida, a relação com Cuca - com quem também trabalhou no Fluminense - não foi das melhores. Segundo o zagueiro, o treinador não foi fiel com ele.
"Eu não tenho uma boa relação com ele, não. Ele não foi fiel comigo. No Fluminense, tiveram uns detalhezinhos ali quando ele chegou, mas não tenho mágoa dele não, tá? Mas ele comigo não foi justo, não", disse. "Sobre ser titular?", questionou a reportagem. "Sim, isso aí. Vamos dizer assim: sacaneou lá, né?", acrescentou o ex-zagueiro.
Filho goleiro no Vasco da Gama
Apesar de já ter pendurado as chuteiras, Luiz Alberto continua respirando futebol. O filho dele, de 14 anos, é goleiro do Vasco e pretende seguir os passos do pai. Já o ex-zagueiro tem planos para trabalhar como agente de jogadores. E por que não começar com a própria cria?
"Hoje o meu filho joga, ele tem 14 anos e está muito bem lá no Vasco da Gama. É goleiro, Phillipe Gabriel Pires de Oliveira. Hoje a minha vontade é tomar conta dele, empresariá-lo, e futuramente, com as coisas acontecendo, pretendo pegar mais alguns jogadores, ficar no máximo com uns seis, e trabalhar neste meio", revela.
Segundo Luiz Alberto, a decisão do filho em tentar a carreira de jogador não teve influência do pai. "Ir para o gol foi gosto dele mesmo, ele que escolheu, não incentivei nada, não falei nada, quem tomou a decisão foi ele", conta Luiz Alberto, que já previa um apreço maior do filho pela posição.
"Dos clubes que joguei, quando o levava para os treinos, ele não ficava com os jogadores de linha, os amigos dele hoje todos são goleiros. O único hoje que ele tem uma aproximação maior é o Thiago Silva, é como um tio para ele. O resto é só goleiro: o Weverton, do Palmeiras, Fernando Henrique, é só goleiro", completa Luiz Alberto.
A entrevista de Luiz Alberto ao UOL Esporte
Expulsão na final da Libertadores de 2008
Ali não tinha jeito. E depois, no fundo, eu fui realmente fazer aquilo ali, porque não tinha como parar na frente dele [Guerron], eu já não tinha perna, já estava na prorrogação, segundo tempo, eu saí em diagonal, dei um pique e consegui chegar junto com ele, e pensei: 'Ele está mil vezes melhor que eu fisicamente, nessas alturas é direto fazer a falta nele, se eu parar na frente dele, ele vai tirar para o lado e eu não vou ter tanque, vai driblar eu e o Fernando Henrique e vai fazer o gol, vai acabar o jogo ali e acabar com o nosso sonho'... Foi em cima da linha da grande área, aí eu cheguei, parei a jogada ali e fui expulso, mas também bateu a falta e acabou o jogo, e eu não era cobrador de pênalti. Quando eu saí, o Renato Gaúcho falou assim pra mim na beira do campo: 'Você fez certo, agora a gente tem que rezar para eles não fazerem o gol'. Aí ele cobrou e a bola bateu na barreira e saiu, então eu fui aplaudido porque os torcedores viram que ali não tinha jeito. E eu joguei com o Guerron no Athletico Paranaense, e ele falou assim: 'Caraca, se você não me faz aquela falta eu tinha te driblado, driblaria o Fernando Henrique e fazia o gol, ia calar o Maracanã'. Ele falou isso para mim... E eu falei: 'Eu sabia que você ia fazer isso' [risos].
A "figuraça" do presidente do Boavista (João Paulo Magalhães)
Isso é tudo verdade, nada é mentira. Sim, ele chegava de helicóptero... Por exemplo, onde a gente ia jogar, se desse certo para ele, se tivesse condições pra descer, ele descia no meio do campo de helicóptero, te juro! E na maioria das vezes quem tocava o helicóptero era ele [risos], figuraça, e pagava mesmo em dinheiro vivo [aos jogadores] quando dava.
Aposentadoria
Eu parei em alto nível, foi no Athletico Paranaense e no Náutico, em 2014. Depois ajudei o pessoal do Espírito Santo, o Tupy, e depois o Roberto me pediu para fazer algumas partidas no São Gonçalo, e aí depois eu parei.
Desenvoltura nas entrevistas
Eu fui amadurecendo conforme passavam os anos. Comecei novo, com 17 psra 18 eu já estava no profissional, e aí as coisas foram acontecendo, naturalmente eu fui me soltando nas entrevistas, fui ficando mais tranquilo, e aí aos 25, 26 já não tinha aquela timidez.
Convites pra ser comentarista
Já. Não para ser comentarista, mas pra comentar alguns jogos, muitas vezes. A Fox às vezes me liga para ir ao programa, pra participar, já me convidou pra quando eles estavam cobrindo o Campeonato Argentino. Me chamaram para eu comentar o jogo Boca e River, mas quando recebi o convite sempre tinha alguma coisa para fazer, estava na minha correria aqui aí, sempre tinha alguma coisa pra fazer, mas seria um prazer.
Início de carreira no Flamengo
Muito difícil. Ali era muito difícil de você entrar. Cheguei lá com 12 anos, e tinham muito bons jogadores, o grupo já estava muito fechado, e as coisas foram acontecendo, as portas se abriram, e foi indo até que eu cheguei no profissional. Mas foi difícil, peguei uma geração muito difícil.
Edmundo, Sávio e Romário. Por que não deu certo?
É complicado, muita gente boa junta, cada um tinha uma vaidade. Eu cheguei a pegar eles lá, estava subindo, e cada um tinha uma vaidade, cada um tinha o seu grupo, aí é complicado, não tem como, não adianta.
Vaidade atrapalha?
Sim, muito, você pode ver aí na maioria dos grupos... 'Caramba, esse time era para estar assim [melhor na pontuação]', você pode ter certeza de que alguma coisa está acontecendo.
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