Inter aposta em informação e busca reforços longe de "holofotes do mercado"
O Internacional começou o Campeonato Brasileiro brigando entre os primeiros colocados. Além disso, se vê prestes a voltar à Libertadores e com a Copa do Brasil pela frente. Para encarar tantos desafios, o elenco precisaria ser competitivo, mas não custar caro. Tentando gastar menos e agregar valor ao grupo, o Colorado apostou em decisões compartilhadas e embasadas por muita informação, com alvos longe dos "holofotes do mercado"
Enquanto a maioria dos times abria os cofres para comprar jogadores, o Inter vasculhava alternativas de baixo custo. Não foi atrás dos artilheiros do Brasileirão ou de jogadores alvos de "leilões" no mercado da bola. Encontrou saídas como Boschilia, Rodinei, Saravia, Marcos Guilherme, Galhardo, Moisés, Lucas Ribeiro, Matheus Jussa, Abel Hernández e Leandro Fernández, por exemplo. Todos de graça ou a custo baixo.
Para tomar decisões, encontrar alvos e definir necessidades, o Inter aposta no grupo. Não de atletas, mas de mercado. A direção política, a executiva, o Centro de Análise e Prospecção de Atletas e a comissão técnica trabalham lado a lado compartilhando tomadas de decisão depois de unir todos argumentos possíveis para isso.
"Temos apostado em um processo que está sendo respeitado e envolve vários profissionais do clube. Temos a direção política, a direção executiva, o CAPA com um gerente de mercado e mais três analistas que trabalham diuturnamente dentro deste mercado. Temos reuniões semanais com a comissão técnica em que avaliamos os jogos e o que temos pela frente", contou o vice de futebol do Inter, Alessandro Barcellos, ao UOL Esporte.
"Traçamos perfis. Evidentemente começamos pela questão técnica, a qualidade, mas também a forma de jogar do nosso time e o perfil financeiro do clube. Não adianta eu pensar que queremos um atacante e não limitar isso à possibilidade do clube, seja na questão de valores, desembolso, prazo, todo uma engenharia financeira. Utilizamos filtros para que nosso universo não vá do Messi a um jogador mais barato. Trabalhamos com parâmetros de busca, com muita informação. Analisamos a questão contratual, janelas de transferências, nossos conceitos, e assim chegamos a uma busca aproximada do que queremos", completou.
A avaliação não serve apenas para o presente, mas também para o futuro. Ao traçar um perfil e definir filtros, o Colorado encontra vários jogadores que, em determinado momento, não seriam alvos possíveis. Mas mantém monitoramento sobre eles para quando a chance surgir.
"Trabalhamos muito com banco de dados. O Abel [Hernández] por exemplo. Procuramos o jogador em janeiro, mas naquele momento não foi possível fazer a contratação porque a situação contratual dele era uma. Agora era diferente, mas mantivemos o monitoramento dele e conseguimos a contratação", explicou Barcellos.
"Não deixamos passar nada. Recebemos muitas sugestões, e todas elas são repassadas para análise técnica e avaliadas. Muitas vezes são descartadas, mas nunca sem analisar com calma e muito critério. Utilizamos softwares de comparação com nosso modelo de jogo, com os jogadores das principais ligas do mundo, com o que buscamos. Além disso, unimos informações até mesmo de fora de campo, observamos tudo, matérias, notícias sobre a condição do atleta, histórico de lesões, muitas informações para tomar a melhor decisão", falou.
Elogios de Coudet e decisão compartilhada
Quando chegou ao Colorado, o técnico Eduardo Coudet elogiou o sistema de monitoramento do clube e as decisões compartilhadas que são tomadas para reforçar o grupo.
"O próprio Coudet elogiou o que chama de secretaria técnica. Pela gama de informações que temos de mercado, a qualidade das informações que chegam até ele nos momentos de decisão. Ele tem elogiado bastante. E é um treinador que não era daqui. Eu acredito que o modelo seja muito bom. Outros clubes trabalham assim ao redor do mundo, e nós temos investido cada vez mais nisso. Em informações que nos façam tomar a melhor decisão dentro do que o clube tem por parâmetro", elogiou o dirigente.
"Este processo é muito respeitado, e nossa função aqui é dar elementos para os profissionais que trabalham conosco participarem da decisão em conjunto. A comissão técnica também participa. Não há palavra única ou final, todos trabalham juntos. É importante pensar no nosso modelo de jogo, não queremos ter um determinado atleta aqui imposto por um ou por outro, ou que não tenha aderência a nosso modelo de jogo. Tudo é feito com critério cotidianamente e corriqueiramente", acrescentou.
Necessidade e quebra de paradigma
O modelo do Inter rompe com um paradigma do futebol brasileiro. A "contratação com dono" não faz parte do repertório gaúcho. Não há "jogador do treinador" ou de determinado dirigente. As decisões são tomadas em conjunto. E tudo isso é reflexo da necessidade de acertar nas investidas para manter o controle financeiro.
"O dirigente do futebol brasileiro ainda não é remunerado. Portanto, temos outras obrigações para sobreviver. Eu consigo fazer tudo porque temos uma estrutura profissional, contratada, que recebe para isso. Quando estamos no clube, conseguimos fazer render o tempo, avançamos nos processos. A busca pela profissionalização é constante. Investimos em ferramentas, tecnologia, dados, históricos, informações. Para mim, isto é o grande ponto", contou Barcellos.
"Investimos em recursos humanos e materiais. É claro que nunca se vai substituir o feeling, o conhecimento do campo, mas temos tentado dar mais e mais argumentos para seguir neste rumo", completou.
De acordo com o gestor, tudo é feito para manter o Inter dentro de sua realidade financeira.
"Precisamos ter eficiência no gasto. Temos que errar menos, este é o grande valor disso tudo. Quando se acerta é um grande investimento. Quando o jogador chega, treina, se encaixa, sai atuando, é uma vitória importante. Queremos eliminar este método de acerto e erro", argumentou.
"Quando se tem dinheiro, é mais fácil não errar. Mas quando não tem, como vai se igualar as coisas? Sem dúvida nenhuma a necessidade nos ensina a ter criatividade. Sabíamos que seria um ano complicado, que buscamos recuperação financeira. Quando eu recebi o convite para trabalhar no departamento de futebol, vinha da área de finanças, sabia da realidade do clube. Precisávamos montar um plantel competitivo, forte, mas precisávamos de eficiência. Isso foi seguido à risca por nós, o Rodrigo [Caetano], comissão técnica, CAPA... Há dois corações em um clube. A base e o mercado. Foi muito importante o título da Copa São Paulo e o crescimento da nossa base. E também estas ações que tivemos para reforçar o time. Nem tudo está no planejamento. Tivemos a pandemia, tivemos agora a lesão do Guerrero, há imprevistos que surgem, e isso nos obrigou a ter mais criatividade ainda", explicou.
O CAPA foi criado formado em 2013 e vem sendo aprimorado ao longo do tempo. Antes, já contribuiu em "achados" com perfil semelhante como Patrick, Nonato, Cuesta, entre outros.
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