Roberto Brum ouviu Datena "profetizar" igreja após polêmica com Neymar
O ex-volante Roberto Brum não esquece as palavras irritadas que o apresentador José Luis Datena jogou contra ele, na TV ao vivo, dez anos atrás.
"Se eu sou o Santos Futebol Clube e esse Roberto Brum, por motivos religiosos, não permitiu que os jogadores descessem para encontrar crianças com paralisia cerebral dentro de uma instituição espírita, esse Roberto Brum tinha que ser demitido agora. Se você quer ser líder religioso monta uma igreja, velho!", bradou Datena, na Band.
O apresentador estava indignado com um dos episódios mais controversos protagonizados por Neymar, Paulo Henrique Ganso e Robinho no Santos. Em abril de 2010, os jogadores se recusaram a visitar uma casa de acolhimento a pessoas com deficiência. A justificativa alegada por eles foi que a casa era de orientação espírita e que no momento estaria havendo "rituais religiosos".
A delegação do Santos foi de ônibus ao local, mas um grupo de jogadores, incluindo os três, preferiu esperar dentro do veículo enquanto outros atletas faziam a visita e doavam ovos de páscoa aos atendidos pela instituição.
Como Roberto Brum era considerado um dos mais evangélicos do elenco, acabou sendo acusado de intolerância religiosa.
Mas ele nem estava no ônibus naquele dia, já que tinha preferido não se juntar à ação social. Depois de pedir a demissão de Brum na TV, Datena ouviu de Ganso, Neymar e Robinho que o volante não teve nada a ver com decisão deles de não descer do ônibus.
Dez anos depois, Roberto Brum de fato virou líder religioso e fundou uma igreja. Pastor da igreja "O Senhor está aqui", em Niterói (RJ), Brum lembra com bom humor o atrito com Datena. "Várias pessoas disseram que eu deveria processá-lo, mas deixei para lá. Ele nunca me ligou para pedir desculpas. Mas tudo bem. Acabou profetizando que eu fundaria a minha igreja, e eu fundei".
Ele nega que tenha influenciado outros jogadores do Santos no episódio e explica por que decidiu não se juntar à delegação que visitou a instituição de caridade:
"Quando foi proposta a ida ao centro espírita a primeira vez, disseram que era bom ir porque ia dar sorte pro time. Por isso eu decidi não ir. Deus não se mete no futebol. Sempre fui contra esse negócio de ir em igreja evangélica para a gente ganhar, ou ir na católica, no centro espírita, na macumba... Eu dizia que Deus não faz diferença entre as pessoas e que tínhamos que trabalhar, treinar para ganhar. Eu era taxado de religioso, de pastor na Vila, mas eu era o menos radical ali."
Depois da repercussão negativa da recusa, Neymar, Ganso e Robinho pediram desculpas e retornaram à instituição para encontrar as pessoas com paralisia infantil. Brum, que não tinha feito a primeira visita, também foi junto.
Naquele ano, o Santos venceria o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil. Líder do elenco, Brum acabou demitido no ano seguinte.
Hoje ordenado pastor, o ex-jogador vive com a mulher e os filhos em Niterói, onde comanda projetos assistenciais em comunidades carentes e presídios. "Eu socorro pessoas, socialmente e espiritualmente. Ajudo com alimentos, medicamentos e, às vezes, ajudo com internações".
O pastor também diz ter organizado um campeonato de futebol entre detentos do presídio de Bangu. A ideia seria incentivar os presidiários a se dedicarem aos esportes para terem uma alternativa de vida diversa do crime. "Estava tendo uma onda de rebelião lá, e o subsecretário pediu minha ajuda. Fui lá negociar com as facções para fazer um campeonato entre os pavilhões".
Ex-jogador virou empresário da educação
Com passagens por Coritiba, Fluminense e Figueirense, Brum se aposentou aos 33 anos e logo foi se dedicar a suas atividades missionárias. Em 2015, porém, resolveu empreender no setor educacional. "Se eu não fizesse nada ia voltar a ser pobre", ele brinca. Hoje, administra com a sua família uma franquia do colégio Objetivo, que conta com quase 700 alunos e 150 funcionários, com aulas da educação infantil ao ensino médio.
"Depois de quatro anos só gastando, fazendo a obra de Deus e ajudando as pessoas, eu decidi empreender e realizar o sonho da minha mãe. Minha família toda é ligada à educação. Sou diretor e mantenedor da escola. Minha mãe é diretora, minha tia é diretora-adjunta, minha esposa é diretora financeira, e eu fico com a gestão de pessoas".
Brum orgulha-se de não ter demitido nenhum funcionário, apesar do impacto causado pela pandemia do novo coronavírus e da interrupção das aulas presenciais. A escola segue com aulas pela internet. "Essa é a hora de eu contribuir com o estado e com a sociedade. Quando acabar essa pandemia vamos estar bem mais fortes, os alunos com mais autonomia e os professores com mais domínio sobre a tecnologia".
"Eu valorizo o professor", diz o ex-volante. "Pago uma hora-aula digna. Alguns dos nossos funcionários também são professores universitários e ganham melhor na escola do que na universidade".
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