Del Valle: 10 vezes em que futebol fez marketing espontâneo para marcas

Conforme os gols iam saindo na altitude de Quito (EQU), uma profusão de memes e figurinhas inundavam os grupos de WhatsApp e as redes sociais. Eram imagens da marca de sucos Del Valle das mais variadas formas, numa alusão provocativa por parte dos torcedores rivais do Flamengo, que se esbaldavam com a goleada que era aplicada pelo equatoriano Independiente, que tem no sobrenome justamente a alcunha do produto de bebidas.

O fenômeno foi apenas mais um dos casos de marketing espontâneo que surgiu a partir do futebol e que teve um efeito publicitário muito maior do que se uma empresa tivesse investido uma boa grana de divulgação, por exemplo.

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A reportagem procurou a empresa Del Valle, que faz parte do conglomerado da Coca-Cola, para saber como ela encarou a repercussão envolvendo seus produtos após a histórica goleada de 5 a 0 sofrida pelo Rubro-Negro, a maior de todos os tempos do clube na Copa Libertadores.

A empresa, porém, agradeceu o contato e respondeu, por intermédio da assessoria de imprensa, que "a marca não vai comentar sobre essa história".

Abaixo o UOL Esporte relembrou outros casos de marketing espontâneo que aconteceram no futebol, alguns, inclusive, recentemente. Confira:

Rafinha e o Gatorade

Um episódio que se enquadra e que repercutiu tanto quanto o do Independiente Del Valle aconteceu há pouco, nas finais do Campeonato Carioca deste ano. Ela começou dentro de campo com Nenê, do Fluminense, rebatendo uma provocação de Rafinha, que ainda estava no Flamengo.

Aos jovens do time adversário, o lateral rubro-negro alfinetava perguntando "jogou onde?". Para defendê-los, então, o meia tricolor rebateu: "Ficar no banco e viajar pela Europa não é jogar". Foi o gatilho necessário para ganhar as redes sociais.

Internautas tricolores passaram a chamar Rafinha de "distribuidor de Gatorades" nos tempos de Bayern de Munique (ALE), já que foi banco durante boa parte do tempo de Philip Lahm. Porém, com o título do Flamengo posteriormente, foi a vez do lateral direito dar o troco e incorporar a brincadeira, distribuindo a bebida isotônica durante a comemoração.

"Os caras meteram coisa de Gatorade, tive que levar hoje para os caras. Inclusive, trouxe um de uva aqui para casa", disse Rafinha durante live após a conquista, se referindo à taça de vinho que bebia.

Diego Alves e as "Drogarias Pacheco"

Para felicidade das marcas, a mesma decisão do Estadual ainda rendeu outra publicidade espontânea e gratuita. Desta vez envolvendo o goleiro Diego Alves, do Flamengo, e o atacante peruano Fernando Pacheco, do Fluminense.

Na semana anterior, na final da Taça Rio, o jogador tricolor levou a melhor nas penalidades e, após converter sua cobrança, provocou o arqueiro ao pé do ouvido.

Após o título carioca, porém, Diego Alves devolveu fazendo uma analogia com a rede de farmácias "Drogaria Pacheco".

"No Rio de Janeiro, Pacheco que eu conheço é drogaria", disse à Fla TV.

Maxi López e os relógios Richard

Em 2018, o volante Richard ainda defendia o Fluminense e, após uma derrota por 2 a 0 para o Athletico-PR, pela Copa Sul-Americana, foi questionado sobre o atacante Maxi López, do Vasco, que havia o enfrentado na semana anterior. O jogador tricolor minimizou o argentino:

"Quem é Maxi López? Do Vasco? É um centroavante como todo centroavante. No nosso jogo, não vi nada de Maxi López. Vi um pênalti que não foi. Ele se consolidou no pênalti."

O atacante argentino, porém, não demorou muito pra rebater e, em entrevista ao canal Fox Sports, alfinetou, citando um famoso ator de Hollywood e uma luxuosa marca de relógios:

"Conheço Richard Gere, ator de Hollywood, Richard Mille, o relógio, mas esse Richard [do Fluminense] não conheço. Se ele tiver algo para falar, gostaria que fosse pessoalmente. É bem melhor que falar na frente das câmeras".

Por ironia do destino, sete meses após o episódio, Richard foi contratado pelo...Vasco! O volante, no entanto, não precisou passar pelo "constrangimento" do encontro, já que Maxi López havia deixado o clube.

Carrasco do Fla e a marca de chuveiros

Quando os memes ainda engatinhavam, o argentino Gustavo Lorenzetti, então na Universidad de Chile, já "quebrava a internet", mesmo sem a força atual das redes sociais. O atacante foi o carrasco do Flamengo na eliminação da Copa Libertadores de 2011 e os rivais não perdoaram, fazendo alusões à marca brasileira de chuveiros e outros utensílios domésticos de mesmo nome.

Na ocasião, o Rubro-Negro contava com o craque Ronaldinho Gaúcho.

Bonde da Stella

Um dos episódios mais polêmicos recentes do Flamengo ficou conhecido como o "Bonde da Stella". Ocorreu em 2015, quando o Rubro-Negro vinha de seis derrotas nos últimos sete jogos e estava em situação delicadíssima na Copa Libertadores.

Fotos dos jogadores Alan Patrick, Everton, Marcelo Cirino, Paulinho e Pará - em uma animada festa durante a semana segurando garrafas da cerveja Stella Artois - deixaram furiosos torcedores e dirigentes, que resolveram afastar o quinteto.

Aos poucos, um por um foi deixando o clube. O último foi o lateral direito Pará, que saiu ano passado para o Santos. Na ocasião, o lateral esquerdo Anderson Pico também apareceu nas fotos, mas ele já havia saído do Flamengo.

Honda no Botafogo

Um meme que já nasceu pronto e favoreceu a fabricante de automóveis japonesa Honda foi a contratação por parte do Botafogo do meia nipônico que leva o mesmo nome.

Curiosamente, na chegada do marfinense Salomon Kalou, o Alvinegro fez uma ação de marketing com a rival da montadora, a coreana Hyundai.

Messi e as Havaianas

Um dos grandes astros do futebol mundial, Lionel Messi "quebrou a internet" recentemente ao conceder uma reveladora entrevista ao site Goal, após a permanência no Barcelona, calçando um par de chinelos Havaianas. Diversos memes foram feitos com o tema e a empresa brasileira saiu "no lucro" com o craque sem precisar gastar um centavo.

Abel e Joel fazem o caminho contrário e se beneficiam

Há também quem fez um caminho, de certa forma, contrário, e se beneficiou. Casos dos experientes treinadores Abel Braga e Joel Santana.

Em sua última e decepcionante passagem pelo Flamengo, em 2019, Abel Braga sofreu com muitas críticas. Um dos que mais apontavam falhas no trabalho do treinador foi o comentarista Mauro Cezar Pereira, que resolveu fazer uma alusão ao gosto do técnico por vinhos para popularizar o termo "clube do vinho", ao qual indicava que Braga possuía um ciclo restrito de amigos dirigentes e jornalistas que o "blindavam".

Abel, no entanto, tirou proveito da brincadeira e virou garoto-propaganda de uma marca da bebida.

Mesma situação de Joel Santana, que ouviu brincadeiras por conta de sua dificuldade com o idioma inglês e, depois disso, se tornou peça publicitária de várias empresas que buscaram essa conotação.

"Quando o futebol suga uma marca, está trazendo para a cultura popular"

O UOL Esporte consultou para o tema o executivo de marketing esportivo e CEO da agência de publicidade 14, Bruno Maia, que também foi vice de marketing do Vasco.

Em sua avaliação, o efeito é "imensurável" quando uma marca é "sugada" espontaneamente para a cultura popular do futebol. O publicitário também acredita que o caminho inverso pode ser bem-sucedido, citando exemplos que ocorreram fora do esporte e que, não necessariamente, envolveram uma negociação comercial.

"Não tem como mensurar, porque um dos maiores atributos que uma marca pode conseguir com o futebol é cair na cultura popular. O Porta dos Fundos [canal do YouTube] trata isso muito bem, apropriando-se de uma marca muito antes do merchandising. Um grande exemplo disso foi com o vídeo do Spoletto [rede de culinária italiana]. Eles sempre trabalharam a marca, independente da negociação comercial", disse Maia, que complementou:

"Teve também aquela publicidade da Coca-Cola com os nomes nas latinhas. Depois teve um concurso da fantasia mais criativa do carnaval e ganhou uma menina que estava vestida com a latinha da Coca com o nome dela. O valor disso é completamente imensurável. As redes sociais têm muito isso. Quando o futebol suga uma marca para isso, está trazendo para a cultura popular."

Independiente não tem ligação com os sucos

Apesar do sobrenome igual, o Independiente Del Valle não tem qualquer ligação com os sucos. Seu nome é em função do clube ter sido fundado em 1958 na cidade de Sangolquí, no Equador, que fica num vale.