O que (ainda) falta para o retorno do público aos estádios no Brasil
O prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, anunciou na última sexta-feira o retorno do público aos estádios de futebol no próximo dia 4, com a partida entre Flamengo e Athletico-PR - marcada para o Maracanã. No entanto, tal discurso do político não basta para que a ideia seja colocada em prática. Restam conversas, reuniões entre diversos órgãos e uma série de ajustes em regras vigentes para que o torcedor, enfim, retome seu lugar nas arquibancadas.
O comunicado de Crivella, inclusive, surpreendeu participantes da reunião da última sexta-feira (18) onde a pauta foi debatida. Após o encontro, uma nova rodada de conversas foi marcada para a próxima semana. A ideia é incluir agora, além da Secretaria Municipal de Saúde e da Vigilância Sanitária, Polícia Militar, Corpo de Bombeiros, empresas que administram as linhas de trens e ônibus e responsáveis por toda a logística envolvida em uma partida. Somente, então, Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) e clubes envolvidos na ideia finalizarão o protocolo idealizado para o retorno.
Silêncio e cautela: CBF não crê em volta no dia 4
Tal protocolo será submetido à CBF. Ainda oficialmente calada, a confederação aguarda uma posição do Ministério da Saúde após enviar uma proposta de retorno gradual do público aos estádios antes de se movimentar no assunto.
Bem como no documento enviado à Brasília, a entidade mostra cautela e não acredita em um retorno já em 4 de outubro, com o jogo do Flamengo no Maracanã. Na visão de dirigentes da entidade, seria necessário ao menos mais um mês de debates e acordos com os poderes públicos de todos os estados envolvidos no Campeonato Brasileiro até que a ideia fosse executada.
Com o aval do Ministério da Saúde em mãos, a confederação conversará com clubes para alterar a regra número um da diretriz técnico do Campeonato Brasileiro, o documento que rege o torneio. "As medidas aqui estabelecidas levam em consideração que a retomada do futebol se dará sem público. Qualquer alteração nesse quadro será devidamente comunicada e este documento será ajustado se necessário for".
É justamente a partir desse documento que se sustenta o argumento da CBF diante do comunicado de Crivella, segundo apurou o UOL Esporte. A confederação defende que qualquer decisão relacionada ao seu campeonato precisa respeitar a diretriz em vigor - ou posterior alteração, cenário condicionado a conversas com clubes.
Clubes incomodados com conversas no Rio
Como a CBF não verbalizou tal pensamento, muitos clubes mostraram descontentamento com a possibilidade de um retorno precoce em 4 de outubro. Na visão de times como Corinthians, Palmeiras, Atlético-MG e Grêmio, seria inadmissível ter o retorno do público em apenas uma unidade da federação envolvida no Brasileiro, quebrando a isonomia da disputa.
Ao menos dois dirigentes da alta cúpula da CBF asseguraram à reportagem que não trabalham com a ideia de retomada em um estado enquanto outros ainda não tenham garantias do poder público para tal. Até por isso responsáveis pelo torneio na confederação não consideram a presença de público já em Flamengo x Athletico-PR uma opção razoável.
Diante disso, a aposta de envolvidos é de que a espera do torcedor supere as duas semanas - ideia inicial de prefeitura e federação do Rio.
Acordo inicial previa público em novembro
Além da possível quebra da isonomia, outro fato incomodou os clubes que questionam as conversas aceleradas no Rio de Janeiro. Para muitos deles, o Flamengo rompeu um acordo feito no início do Brasileiro. Em conversas e reuniões virtuais, dirigentes dos 20 times da série A planejavam solicitar um debate para que o público retornasse aos estádios em novembro, na virada do primeiro para o segundo turno.
A antecipação do debate na capital fluminense irritou dirigentes de clubes de São Paulo, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Ceará.
Mesmo com as discordâncias e a cautela da CBF no momento, as partes envolvidas acreditam em um retorno em breve. A expectativa geral é de público nos estádios ainda em 2020. Não bastam, no entanto, palavras do prefeito Marcelo Crivella. Faltam acordos e entendimentos em todas as cidades que recebem jogos do Brasileiro - São Paulo, Santos, Bragança Paulista, Porto Alegre, Curitiba, Belo Horizonte, Salvador, Goiânia, Recife e Fortaleza.
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