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Como Flamengo e Corinthians se opõem ao extremo na pandemia e política

Presidentes de Vasco e Flamengo ao lado do presidente Jair Bolsonaro em encontro de maio passado - Reprodução/Instagram Flávio Bolsonaro
Presidentes de Vasco e Flamengo ao lado do presidente Jair Bolsonaro em encontro de maio passado Imagem: Reprodução/Instagram Flávio Bolsonaro

Do UOL, em São Paulo

22/09/2020 04h00

Dois gigantes e dois pensamentos bem distintos. As posturas de Flamengo e Corinthians nos últimos dias reforçaram como os clubes mais populares do Brasil se distanciaram nos últimos meses, principalmente pelas visões diferentes em relação à pandemia do novo coronavírus e à política do país, com a aproximação rubro-negra ao governo de Jair Bolsonaro. Enquanto o Flamengo se colocou a favor do retorno do público aos estádio brasileiros, numa voz isolada, como mostrou o UOL Esporte, o Corinthians liderou o extenso grupo que se opõe à ideia.

O choque de ideias se deu, inclusive, publicamente. Andrés Sanchez, presidente do Corinthians, fez críticas à medida da prefeitura do Rio que definiu o retorno do público nos jogos disputados na capital fluminense para o dia 4 de outubro —a medida está temporariamente adiada pelo governo do estado do Rio de Janeiro.

"O Corinthians só aceita a volta do público aos estádios se todos os times da Série A tiverem a mesma oportunidade, independente do estado ou cidade. Se não forem as mesmas condições para todos, não entraremos em campo", escreveu Andrés em seu Twitter.

A resposta do Flamengo veio no dia seguinte, por meio de Marcos Braz, vice-presidente de futebol do clube. "Vai um pouquinho na contramão da essência do futebol a gente não ter público. Desde que tenha segurança. Tendo segurança, tem que ter público. Então, não me furtando da pergunta, acho que o Andrés está errado", disse.

Alinho e desalinho

No âmbito político, não há um choque direto entre Flamengo e Corinthians, mas a proximidade do clube carioca com o atual governo é recorrente, inclusive com aparições de Bolsonaro em estádio com a camisa do clube. No começo da pandemia, por exemplo, o presidente Rodolfo Landim se encontrou com Bolsonaro para tratar do retorno do futebol no Rio — àquela altura, a paralisação já atingia quase dois meses.

Em contrapartida, o Corinthians, além de manter distância, passou a ter mais dificuldades para negociar a dívida da Neo Química Arena. Em setembro do ano passado, a Caixa Econômica Federal notificou o clube pela dívida do estádio. Na mesma época, Bolsonaro fez uma piada sobre o assunto.

"Não teremos feijoada hoje à noite. A porcada vai tá feliz hoje à noite, tenho certeza disso. Se der o contrário, é bom não zoar, senão posso pegar o Itaquerão pra nós. Falou? É brincadeira", afirmou na ocasião.

Questionado sobre a declaração de Bolsonaro, Andrés, eleito deputado federal em 2014 pelo PT, corrigiu o presidente do país sobre o nome da Arena. "Não sei se é brincadeira, não reconheço Itaquerão, conheço a Arena do Corinthians, não me afetou em nada. Futebol é isso, é tiração de sarro", rebateu.

A passagem fez dirigentes corintianos suspeitarem de perseguição política, como mostrou o Blog do Perrone há um ano, em meio às negociações entre o clube e o banco estatal.

Outros episódios trouxeram à tona desalinho entre Corinthians e o governo federal. Em março do ano passado, mais uma piada causou desconforto. Dessa vez, o autor foi Paulo Guedes, ministro da economia, que também mencionou a dívida do estádio. "No Brasil é ao contrário: os recursos estão no topo. Então, se o presidente é Corinthians, surge o estádio do Corinthians. Ninguém consegue pagar aquilo lá [a Arena Corinthians]", disse. "E o Corinthians começa a ganhar Campeonato Brasileiro, porque todo jogo tem um pênalti roubado lá a favor deles", concluiu o ministro.

O clube alvinegro ficou incomodado com a postura de Guedes. A cúpula do clube definiu a declaração do político como "desvio de foco" para as metas que ele precisa entregar em Brasília e não consegue, segundo a avaliação corintiana.

No mesmo mês, o clube lembrou os 55 anos do Golpe Militar ao estender uma faixa com menção à Democracia Corinthians, além de colocar uma estátua de Sócrates em exposição antes de um jogo. Vale lembrar que Bolsonaro é apoiador do Golpe.

Por fim, mais recentemente, o Corinthians tratou de explicar rapidamente uma foto do ex-meia Marcelinho Carioca, um do maiores ídolos da história corintiana, ao lado de Bolsonaro, com a camisa alvinegra. O clube afirmou na ocasião que Marcelinho agiu sozinho.