Time da quarta divisão da Inglaterra pode ensinar muito aos brasileiros
Stevenage é uma cidade pequena no Reino Unido e conta com apenas 79 mil habitantes. O time local disputa a quarta divisão inglesa, mas virou uma sensação mundial nos últimos dias. É que o Burger King lançou uma campanha de marketing no ano passado, quando passou a patrocinar o clube. O objetivo era divulgar sua marca dentro do Fifa 20, o jogo de futebol eletrônico mais vendido do planeta.
A marca de fast food criou diversas ativações. Entre elas, iniciar o "modo carreira" com o clube na quarta divisão, subir para elite e contratar os principais astros do esporte. Quem fizesse gols com esses atletas e publicasse no Twitter, ganharia prêmios. Até mesmo lanches saiam de graça.
A visibilidade conquistada pode ser medida pelas imagens que circulam nas redes sociais. O que não falta é craque vestindo a camisa do clube, que é patrocinado pelo Burger King há quase dois anos. No vídeo compartilhado hoje, é possível ver, por exemplo, o sonhado trio Cristiano Ronaldo, Messi e Neymar atuando juntos, dando projeção ao Stevenage FC e à rede de hamburgueria.
Para quem acha que é só videogame, a visibilidade não ficou restrita. O Stevenage soube surfar a onda e teve recordes de vendas de camisa, que esgotaram. Além disso, viu um aumento incrível nas interações nas redes sociais.
Por que brasileiros não estão no jogo?
Enquanto isso, os clubes brasileiros sofrem para se integrar nesse mundo virtual e conversar, de verdade, com os torcedores e potenciais torcedores dentro desses jogos. Há uma enorme disputa entre Konami e EA Sports sobre o controle do futebol eletrônico mundial. O Fifa, que pertence a empresa norte-americana, é líder disparada de vendas e conta com os principais torneios do mundo. O Campeonato Brasileiro, no entanto, optou pelo Pro Evolution Soccer, o PES. Os japoneses têm postura agressiva e fecham com clubes que aceitam contrato de exclusividade.
Em 2020, Flamengo, Vasco, Corinthians, Palmeiras São Paulo fecharam com a Konami nesses moldes e contam com seus jogadores e estádios oficiais. Os demais times completam a liga, mas com atletas genéricos. O Fifa, por sua vez, conta com 15 representantes do Brasileiro — todos os que não assinaram com os japoneses. Nenhum desses clubes, no entanto, utiliza o nome real de seus atletas dentro do jogo.
O motivo: a EA Sports foi processada recentemente por alguns jogadores brasileiros (entre eles Everton Ribeiro e Fred, por exemplo) e prefere se resguardar nesse primeiro momento. É que no Brasil há uma lei que determina que o direito de imagem é exclusivo de cada atleta, que, por sua vez, poderia ceder para quem quisesse. O problema é que poucos times no Brasil parecem se importar com essa situação. O Palmeiras é um dos que luta para conseguir acordo mais justos, mas sofre para encontrar um parceiro nessa briga. O Alviverde, inclusive, recusou proposta da Konami justamente porque não quer contrato de exclusividade. Quer estar em ambos jogos.
O Alviverde tem o cuidado de colocar em contratos, quando jogador é contratado, que o clube fica com o direito de imagem para jogos e pode, portanto, fechar com qualquer uma das empresas — ou até com as duas. Algumas outras agremiações brasileiras seguem esse caminho, mas são pouquíssimas. E é justamente por isso que a EA Sports ainda teme em retornar com força ao cenário nacional.
A grande realidade brasileira, no entanto, é a falta de percepção para as possibilidades envolvidas. Os clubes até contam com pessoas que conhecem do assunto, mas ele está longe de ser uma prioridade e nada é resolvido. O principal problema é como fazer um acordo coletivo com os jogadores. Muitos atletas, inclusive, demonstram rejeição, por vários motivos.
O crucial deles, claro, é receber por isso. Outros, porém têm até mesmo a preocupação de não terem sua qualidade em campo replicada com justiça nos jogos. O fato é que os gamers brasileiros sofrem sem uma experiência mais completa. E os gamers estrangeiros simplesmente não têm a possibilidade de conhecer os craques que jogam por aqui.
Os clubes, por sua vez, perdem ótima oportunidade de dialogar com um público mais jovem e que cada vez mais se distância do futebol —em uma época em que a criação de um torcedor é importante, deixa-se de pensar na possibilidade de que esse amor pode surgir e se fortalecer em uma simulação de futebol. Enquanto isso, um time da quarta divisão da Inglaterra aproveita o hype e escancara que o básico está longe de acontecer pelas terras brasileiras.
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