Estreia de Assunção como diretor foi "do céu ao inferno" contra o Palmeiras
Marcos Assunção teve no Campeonato Paulista sua estreia como executivo de futebol. À frente do Água Santa, o ex-volante de 44 anos de idade brinca que foi do "céu ao inferno" diante do Palmeiras, o clube que diz ter a maior identificação como jogador. Da chance de avançar ao mata-mata, o time acabou rebaixado à Série A2.
"É muito estranho, porque você começa o jogo com essas duas possibilidades, e ou você está no céu ou está no inferno. Se ganha, vai para a segunda fase do Paulista, mas se perde, cai. Faltou para os nossos jogadores um pouquinho de experiência, ganhando por 1 a 0, pensar: 'aqui não passa mais nada, o jogo vai acabar'. Mas tomamos dois gols. Nós também não começamos bem, foram três derrotas seguidas que nos prejudicaram bastante", contou ao UOL.
O jogo contra o Palmeiras foi o último da equipe na competição, e o Água Santa abriu o placar no Allianz Parque, com Lucas Silva. Mas Ramires e Luiz Adriano, aos 42 minutos do segundo tempo, decretaram a virada do alviverde. Como a Ponte Preta venceu o Mirassol, a Macaca avançou, e o Água Santa foi para a A2.
"Foi uma experiência bacana, infelizmente a pandemia atrapalhou muito, porque antes estávamos em segundo lugar, nos preparando para a classificação. Eu era contra a volta do Campeonato Paulista, perdemos alguns jogadores, tivemos de contratar outros, mas infelizmente as coisas não saíram do jeito que a gente queria. Perdemos o treinador Pintado (para o Juventude), também. Não que o Toninho Cecílio não seja um grande treinador, é um cara de trabalho muito bom, mas faltou experiência aos nossos jogadores", acrescentou.
Ao término do Paulista, Assunção conversou com a diretoria do Água Santa para acertar sua saída. O diretor de futebol não estava confortável em retomar a rotina na Copa Paulista com a pandemia do coronavírus ainda sem controle no Brasil. Assim, voltou para Caieiras (SP), sua cidade natal, e deu sequência aos estudos no curso de executivo de futebol da CBF.
"Eu preferi me desligar e continuar estudando, até pela pandemia. As pessoas não sabem ao certo o que vai acontecer. Olha o exemplo do Flamengo, com toda a estrutura que tem, agora perdeu tantos jogadores (infectados). Imagine disputar a Copa Paulista, com dinheiro mínimo, e com quais medidas de saúde? É muito difícil, eu prefiro não correr o risco, tenho minha mãe que tem alguns problemas de saúde, então prefiro não me arriscar e ficar em casa 'de boa', tranquilo", justificou.
Já formado em gestão na Universidade do Futebol e na escola de negócios Trevisan, Marcos Assunção dá muito valor ao estudo. Durante sua preparação para a nova fase na carreira, participou do curso de coordenação de categorias da base da CBF e trabalhou expressão corporal. Seu foco é continuar a carreira nos bastidores.
"A gente vê muitos caras que são treinadores, aí vão para a parte da gestão, depois voltam a ser treinadores. Eu acho que o cara tem que decidir o que ele quer, como eu. Terminei minha carreira como atleta e comecei a fazer cursos. A gente tem que se aprimorar e focar em uma coisa. Eu quero ser diretor executivo de futebol, então por isso estou fazendo todos os cursos. Não quero ser treinador, não passa pela minha cabeça ser treinador", avisou.
Saudades de cobrar faltas
Aposentado desde 2016, Marcos Assunção tem certeza do futuro que deseja seguir, mas não deixa de olhar com saudades para o passado. Exímio cobrador de faltas, ele assiste aos jogos atualmente e lamenta por não poder fazer o que lhe gerou tanto sucesso ao longo da carreira como meio-campista.
"Eu vejo aí algumas cobranças de faltas e falo: 'Jesus! (risos)'. Vejo nas redes sociais muitas publicações de que fulano tem tantos gols de faltas, beltrano tem outros tantos. Aí eu vejo os caras com 40, 50 gols... se é para mostrar gol de falta, publiquei no Instagram só 70 meus (risos). E tem alguns perdidos por aí que não achei, mas se buscar a fundo, dá para encontrar outros. Eu lembro de alguns que não estão nesta lista", disse.
A relação com o Palmeiras
Marcos Assunção chegou ao Palmeiras já aos 33 anos de idade, depois de ter passado por Santos, Flamengo, Roma (ITA) e Bétis (ESP). Mas é no Verdão que o meio-campista conseguiu a maior alegria de sua carreira: o título da Copa do Brasil de 2012, em que foi o capitão e peça decisiva.
"Eu joguei em uma época que o Palmeiras não tinha muito dinheiro, onde diferentemente de hoje, a diretoria contratava jogadores sem nome, que se destacavam praticamente em equipes menores. Nunca fazíamos grandes contratações. E mesmo assim conseguimos ganhar uma Copa do Brasil. Foi o meu único título pelo Palmeiras, mas em termos individuais recebi títulos entre os melhores do Brasileiro, do Paulista, da Copa do Brasil também, fui eleito o melhor jogador da minha posição. Talvez por isso eu seja mais marcado no Palmeiras do que em outros times, como o Santos", analisou.
Entre 2010 e 2012, o ex-camisa 20 fez 145 partidas e 35 gols pelo Palmeiras - é o clube que ele mais marcou, seguido pelo Bétis, com 29. Mas nem tudo foi alegria. Depois do título, o Verdão viveu momentos complicados internamente, inclusive com desavenças entre Marcos Assunção e Valdivia. No fim do ano, o time caiu para a Série B.
"Eu nunca tinha caído, nunca tinha passado por isso. Eu achava que fazendo tudo que eu fiz, o time não iria cair, que com as infiltrações que tomei ia voltar, mesmo sem condições de jogo, e tentar ajudar o clube. Mas infelizmente não aconteceu", lamentou.
"Tivemos muitos jogadores machucados, eu estava com meu joelho 'estouradaço'. Vivia à base de infiltração já nas finais da Copa do Brasil. Thiago Heleno e Maurício Ramos também tiveram lesões e começamos mal o Brasileiro, perdemos algumas partidas pelo alto número de atletas no departamento médico, e no Brasileiro você só tem clássicos. Eu operei, era para voltar em 45 dias, mas veio o presidente (Arnaldo Tirone) e disse: 'Marcos, eu preciso de você, eu preciso de você, eu preciso de você'. Meu joelho inchou, comecei a tomar infiltração e quando não era isso, tinha de colocar uma agulha para arrancar o líquido do joelho e foi assim por quatro meses seguidos. Eu treinava a partir de quinta-feira, porque assim fazia tratamento no joelho e na segunda-feira tomava infiltração para tentar jogar na quarta ou domingo. A gente achou que ganharíamos jogos a qualquer momento, mas o Brasileiro não é assim. Se você não é focado o tempo todo, não consegue recuperar e foi o que aconteceu", detalhou.
Sobre Valdivia, em quem chegou a dar um soco no vestiário, Assunção hoje prefere contemporizar.
"Eu realmente discuti com o Valdivia no vestiário, como acontece em qualquer clube. A partir do momento que você está em um grupo e alguns jogadores pensam de modo diferente, vai dar atrito, mas logo em seguida foi resolvido. Não tenho nada contra o Valdivia, foi um dos jogadores que eu mais gostava de jogar, um dos mais habilidosos com quem trabalhei na carreira. Depois desse episódio nos distanciamos um pouquinho e a vida dos dois seguiu, mas colocamos um ponto final e acabou. A gente era profissional, trabalhava junto. Nunca tivemos uma amizade boa, mas também nunca tivemos uma amizade ruim. Era bem profissional", encerrou.
Filho de jornalista o ajudou a preparar aposentadoria
Marcos Assunção teve um único empresário ao longo da carreira: Ely Coimbra Filho, filho do jornalista Ely Coimbra. Foi ele quem o ajudou a preparar-se financeiramente para a aposentadoria como jogador de futebol.
"Eu tenho negócios e uso um exemplo: quando eu jogava, tinha o chuveiro e o ralo. O chuveiro caía a água, e o ralo sugava. Ou seja, por mais que o ralo puxasse, o chuveiro estava pingando ainda. Agora que parei de jogar, tem só o ralo, entendeu? Então quando eu parei de jogar cortei algumas coisas, algumas regalias, justamente para não ter nenhum problema financeiro. Quando eu parei, em 2016, sentei com o 'Elisinho' (Ely Coimbra Filho) para fazer uma lista de tudo que eu tinha e tudo que eu precisaria cortar. Isto me deu um equilíbrio financeiro bom", explicou.
"Eu sempre fui muito focado, desde que comecei no Rio Branco de Americana. Hoje dou uma vida boa para minha família, minha mãe, meus irmãos, meus filhos, com casa na praia, podemos viajar, ter um carro bom, pagar uma boa escolha para meus filhos, dar uma vida boa para a minha mãe", comemorou.
"Quero também falar do meu falecido pai, o seu Valtemir, que fez de tudo para que eu fosse jogador de futebol. Agradeço muito a ele e ao cara que me levou para o Rio Branco e que eu ajudo até hoje, que é o 'seu' Orzi França. Ele me levou para a primeira peneira no Guarani, que eu não passei, e um mês depois me levou para o teste em Americana. Até hoje eu ajudo ele com um dinheirinho todo mês. Quando falei com o Ely sobre cortar gastos, o Ely perguntou: 'o que eu faço aqui?'. E eu falei: 'você nem tem que perguntar, porque se não fosse ele (Orzi), a gente não estava vendo tudo isso'. É ter gratidão pelas pessoas que te ajudaram. Eu gosto ou não gosto, não sou meio termo. Eu moro no mesmo lugar, só mudei de residência, mas estou no bairro de Laranjeiras (em Caieiras), tenho meus amigos desde os 5, 6 anos de idade. Sou muito justo. Se o cara é meu amigo, eu gosto dele até o final, nunca vou deixar só. Sou parceiro", encerrou.
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