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Capitão lembra por que só dava entrevistas quando SP perdia: "deu certo"

Capitão no gramado do Canindé, onde brilhou com a camisa da Portuguesa - Arquivo pessoal
Capitão no gramado do Canindé, onde brilhou com a camisa da Portuguesa Imagem: Arquivo pessoal

Pedro Lopes e Vanderlei Lima

Do UOL, em São Paulo

06/10/2020 04h00

Conhecido no futebol como Capitão, Oleúde José Ribeiro nunca foi um jogador com grife, mas tem um currículo extremamente respeitável. Ídolo no Canindé, é quem mais vezes vestiu na história a camisa da Portuguesa, clube pelo qual quase foi campeão brasileiro em 1996, ficando com o vice-campeonato. Depois, o volante teve passagens por grandes clubes, como São Paulo e Grêmio.

Capaz de atuar como volante ou zagueiro, Capitão era valorizado por fazer bem o mais simples dentro de campo, como podem exemplificar seus apenas cinco gols em 342 jogos na carreira — como diriam os jovens atuais, um defensor "raiz".

Em entrevista ao UOL Esporte, o ex-jogador revela que tem saudades de tempos também mais simples no futebol brasileiro, crítica a tendência de treinos fechados e diz acreditar que o processo que levou à derrocada da Portuguesa no cenário nacional foi proposital.

"Eu sou a favor de uma relação mais informal com imprensa, o jogador aparece mais, fica mais em evidência", afirma. "Esse negócio de não gostar de mostrar o treino é papo furado. Se importasse tudo isso, todos os jogos seriam 0 a 0. Todo mundo treina escondido, ninguém vê o treino, não é isso? Aí, vai para dentro de campo, ninguém sabe o que o outro vai fazer. Eu entendo que devia mostrar o treino, o jogador ter mais a liberdade de falar com repórter ou jornalista."

Capitão não chegou a levantar nenhuma taça pela Portuguesa, mas 180 jogos e um vice brasileiro fazem dele um ícone da história do clube. Eram outros tempos, nos quais a Lusa brigava de igual para igual com os maiores do país. Após momentos de oscilação, a derrocada rubro-verde se acentuou em 2013, quando o clube foi rebaixado à Série B do Brasileirão por escalar o meia Heverton de forma irregular. Para o ídolo, nada aconteceu por acaso.

"Foi proposital, não adianta tapar o sol com a peneira, isso é notório. Todo mundo sabe disso. Como você vai colocar um jogador [Herverton] se, da minha casa, eu pego o celular eu abro aqui e sei quem pode jogar e quem não pode jogar", diz. "No nosso tempo, quando a gente começou era aquele história do fax, não é isso? O supervisor tinha que ficar no hotel esperando receber um fax da CBF. 'Chegou o Fax' (risos)".

Se hoje a situação da Lusa é desesperadora, com dívidas, fora do Campeonato Brasileiro e da elite do Paulistão, durante a década de 90 o clube passou perto de conquistar a maior glória de sua história. Capitão foi parte do grupo que perdeu a final do Brasileirão para o Grêmio em 1996.

"Fizemos 2 a 0 em São Paulo, e os gols que saíram depois lá não foram gols nos quais o Grêmio conseguiu envolver o nosso time. Foi uma cobrança de escanteio que nós tiramos, um erro nosso. Ali, mesmo perdendo de 1 a 0 nós seríamos campeões. No segundo gol, de novo, uma bola enfiada de lá do meio campo dentro da área, e o nosso zagueiro cabeceou a bola para o chão. Foram erros nossos mesmo, o Grêmio tinha uma baita equipe, mas nós que deixamos escapar o título entre os nossos dedos por erros que nós cometemos."

Capitão - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Imagem: Arquivo pessoal

Enfim campeão... mas no Morumbi

Além de atuar pela Portuguesa, o ex-volante também defendeu o São Paulo, onde se consolidou como zagueiro. No Morumbi, conquistou um título do Paulista. Em 1998, o veterano teve papel importante no sucesso de uma equipe repleta de jovens talentos — entre eles, o promissor goleiro Rogério Ceni.

"O São Paulo estava há cinco anos sem um título, o presidente Fernando Casal de Rey me convidou. Disse 'quando o time perder quem vai dar entrevistas é você, o Gallo, o Márcio Santos. Quando o time empatar e ganhar vão os garotos. Era um time jovem, com Denílson, Dodô, França, Rogério Ceni. Por isso o presidente disse 'vocês, mais experientes, vão segurar essa bronca'. Eu disse 'tudo bem, vamos encarar isso aí'. Eu fui para lá e deu tudo certo, fui campeão paulista."

Como nasceu o apelido

Capitão conta que nome peculiar 'Oleúde' o fez receber atenção demais da imprensa no início da carreira. Isso, segundo o ex-jogador, teria sido um dos motivos para o uso do apelido.

"Capitão é porque eu fui criado numa cidade no Paraná chamada Capitão Leônidas. Depois, eu fiz o teste no Cascavel, fui aprovado. Fiquei 30 dias nos juniores, o treinador separou o pessoal que ia ficar no profissional e eu estava entre eles. Aí, ele chegou e falou 'Capitão', porque eu como Oleúde estava dando mais entrevista do que os profissionais por causa do nome (risos). Achavam que era Hollywood, igual aos Estados Unidos, então por isso o Capitão".

Capitão será treinador?

Atualmente, Capitão se dedica a projetos pessoais, mas já trabalhou como olheiro e em categorias de base, estudou para ser treinador e avisa o mercado que está atualizado em caso de alguma oportunidade.

"Hoje, cuido dos meus negócios. Trabalhei na Portuguesa no sub-15, passei pelo São Bernardo também no sub-17, estive de coordenador no Água Santa no primeiro ano, fomos vice campeões contra a Matonense na A-3 do Paulista. Tive outros convites para assumir outros clubes, de menor expressão, mas tinha que ficar meio longe da minha esposa, da minha família e não ia compensar. Hoje eu só estou administrando os meus negócios, fiz curso de treinador, então se surgir alguma coisa boa, estamos apto e atualizado."