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Everton Cebolinha 2.0: o que a Europa e Jesus (já) somam ao xodó da seleção

Atualmente no Benfica, jogador de 24 anos está apenas na sexta convocação à seleção no ciclo para 2022 - Lucas Figueiredo/CBF
Atualmente no Benfica, jogador de 24 anos está apenas na sexta convocação à seleção no ciclo para 2022 Imagem: Lucas Figueiredo/CBF

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

08/10/2020 04h00

O jogo de amanhã (9) entre Brasil e Bolívia será o primeiro de Everton Cebolinha como jogador do futebol europeu com a camisa da seleção brasileira. Vendido pelo Grêmio ao Benfica há menos de dois meses, o atacante convocado por Tite às primeiras rodadas das Eliminatórias da Copa do Mundo já agregou ao seu futebol novidades em relação ao que o público nacional estava acostumado a ver no Sul.

O xodó da seleção tem quatro jogos oficiais em Portugal, um gol e duas assistências. Ele é dirigido por Jorge Jesus, campeão nacional e continental pelo Flamengo no ano passado, que o escala na mesma posição que Renato Gaúcho costuma fazer: bem aberto do lado esquerdo do ataque, com opção de cortar para dentro e chutar ou tabelar, além de levar a bola à linha de fundo para o cruzamento ou jogada individual.

Mas e então, o que mudou?

O UOL Esporte consultou dois especialistas táticos portugueses que já notam a ampliação do repertório de Everton graças à competitividade europeia. Duarte Tornesi, do jornal O Jogo, diz o seguinte: "Ele está evoluindo bastante em seu compromisso a nível defensivo. Cumpre o que Jorge Jesus quer dele". Nuno Madureira, do Canal 11, completa: "Acredito que Jesus vai cobrar muita intensidade defensiva dele nos jogos mais exigentes, até porque Grimaldo é um lateral muito ofensivo, que no ano passado foi muitas vezes explorado pelos adversários."

Éverton Cebolinha - Gualter Fatia/Getty Images - Gualter Fatia/Getty Images
Um gol e duas assistências em quatro jogos
Imagem: Gualter Fatia/Getty Images

Esse "compromisso defensivo" tornou Everton mais participativo na tentativa de retomada da posse de bola, com maior espírito coletivo. Ele já tem média de 1,3 recuperada de bola por jogo e evolui as estatísticas defensivas a cada jogo. Contra o Moreirense, na segunda rodada do Português, interceptou duas bolas na saída de jogo do adversário que se converteram em chances de gol para o Benfica.

Na frente, o que se espera é que consiga moldar seu jogo intuitivo à falta de espaço do futebol europeu, que tem sistemas defensivos mais organizados e não lhe permite campo livre para criar. Com recuperação e velocidade na partida à área adversária há mais chances que suas características de jogo causem desequilíbrio perto da área, como mostram os mapas de calor por Benfica e Grêmio, segundo dados da plataforma especializada em estatísticas Sofascore .

Mapa de calor de Éverton no Benfica - Reprodução/Sofascore - Reprodução/Sofascore
Imagem: Reprodução/Sofascore
Mapa de calor Grêmio - Reprodução/Sofascore - Reprodução/Sofascore
Imagem: Reprodução/Sofascore

"Ele foi um dos poucos a sobressair no naufrágio com o PAOK que custou a eliminação da Champions, mas surgiu num nível muito alto nos dois jogos seguintes, com um go; e duas assistências nas vitórias contra Famalicão e Moreirense. Do que eu vi no Grêmio ele joga de forma semelhante, da esquerda com tendência para movimentos interiores, procurando o pé direito para tabelinhas ou o chute frontal", diz Nuno Madureira.

Na seleção brasileira, Cebolinha soma 14 partidas e três gols. Todas as redes balançadas foram na Copa América de 2019, em que ele conquistou as torcidas dos estádios pelo Brasil e se tornou xodó do time de Tite. O atacante não participou dos últimos amistosos do ano passado para não desfalcar o Grêmio nas competições nacionais.

Creio que desde a Copa América, eu tenho evoluído bastante tecnicamente e taticamente, principalmente com minha chegada ao Benfica com o Mister [Jorge Jesus]. Ele sabe extrair aquilo de melhor que o jogador tem. Eu criei muitas chances de gol com finalizações e assistências, é uma adaptação que tenho tido no meu futebol, um lado bem mais armador que não tinha antes. Espero poder ajudar com o que tenho dentro da seleção."
Éverton, em coletiva na segunda-feira (5)

Agora, para as Eliminatórias, tem treinado como ponta pela direita, uma adaptação em seu padrão para que Neymar atue do outro lado com liberdade. Depois de cair nas graças, é hora de se consolidar. Assim também esperam os portugueses, como diz Duarte Tornesi.

"Ele está à altura das expectativas, os torcedores estão satisfeitos. Penso que vai evoluir mais, estar preparado para assumir lugar na seleção brasileira e não largar mais. Disputará neste ano a Liga Europa, que é uma boa oportunidade no alto nível europeu, e no Campeonato Português vai deitar e rolar, como vocês dizem."