Dono de pousada, ex-santista diz que erro de juiz em 95 'estragou a final'
1995 estará para sempre marcado na história de Camanducaia. Tudo foi muito rápido para o ainda jovem atacante, desde a sua subida e estreia no profissional do Santos com apenas 20 anos, no meio da temporada, até o jogo que poderia ter mudado (para melhor) a sua trajetória no futebol, já em dezembro: a final do Brasileiro contra o Botafogo.
No duelo de volta, realizado no Pacaembu, Camanducaia teve um gol legítimo anulado por Márcio Rezende nos últimos minutos da partida. Seria o fim da fila santista - que perdurava desde 1984, com o título paulista - e a consagração do atacante que, depois do Santos, não teve mais oportunidades entre os grandes do eixo São Paulo-Rio-Sul-Minas.
Hoje dono de uma pousada em Monte Verde (distrito de Camanducaia) e de uma franquia dos Meninos da Vila, o ex-atacante acredita que sua carreira teria sido diferente se Márcio Rezende não tivesse chamado para si a responsabilidade pelo lance e anulado o gol. Com o empate por 1 a 1 no Pacaembu, o Botafogo, que havia vencido no Rio por 2 a 1, levantou a taça.
"Eu comparo que poderia ter sido, por exemplo, o mesmo caso do Viola em 1988, contra o Guarani. Ele acabou entrando e fazendo aquele gol que deu o título ao Corinthians no Paulistão. O Corinthians foi campeão, ele acabou indo para a Europa [defendeu Valencia, da Espanha, e Gaziantetspor, da Turquia] e depois também pra seleção brasileira [inclusive fez parte do grupo tetracampeão em 1994]... Em 1995, eu estava com 20 anos, praticamente no auge, porque tinha arrebentado naqueles jogos das semifinais contra o Fluminense. Se desse o gol e o Santos fosse campeão com gol meu do título, com certeza a trajetória teria sido outra", disse Camanducaia em entrevista por telefone ao UOL Esporte.
De acordo com o ex-atacante, que hoje está com 45 anos, Márcio Rezende errou feio e estragou a decisão do Brasileiro. Além do seu gol anulado, ele cita também o tento impedido de Túlio que foi validado pela arbitragem.
"Infelizmente o Márcio Rezende teve uma tarde infeliz e acabou, em minha opinião, estragando a final do Campeonato Brasileiro. Foram erros que estavam fáceis de marcar: o primeiro gol do Túlio estava meio metro impedido, era só o bandeira levantar e o árbitro marcar; no meu gol, eu saí atrás do Leandro [volante do Botafogo] e fiz o gol, e o bandeira deu o gol. Só que aí o Márcio Rezende apitou, levantou o braço e falou que o impedimento era dele, 'a responsabilidade é minha, eu que vi o impedimento e ponto final'. Então foram erros que jamais poderia ter acontecido numa final de Brasileiro", recorda.
"Ele não tinha que levantar o braço e falar que a responsabilidade era dele. Ele tinha que olhar para o bandeira... Pra que tem bandeira então? O lance era do bandeira, só que ele não quis nem saber, não deu ouvidos pra nós, que o cobramos, e nem para o bandeira. Ele simplesmente levantou o braço, falou que o impedimento foi dele e que ele era a autoridade máxima dentro de campo", acrescenta Camanducaia.
Apesar do erro, o ex-santista diz não guardar mágoa de Márcio Rezende e prefere exaltar o time que até hoje é lembrado pelo bom futebol, mesmo ficando com o vice-campeonato. "Não tenho mágoa, raiva nenhuma do Márcio Rezende. Ele errou, assumiu. Acho que mágoa, raiva, fazem mal. A gente tem que saber lidar com este tipo de situação", diz.
"Infelizmente o árbitro não deixou o nosso time ganhar dentro de campo. Mas são coisas que aconteceram. O Márcio depois assumiu os erros publicamente, mas aí já era tarde e o Santos acabou sendo prejudicado. Mas o que ficou é um time que marcou época pelo estilo de jogo, um time jogando pra frente, um ataque de velocidade e que fazia muitos gols. Até hoje a gente sabe que ficou na lembrança do torcedor e da imprensa também", acrescenta o jogador, que encerrou a carreira em 2010 pelo Grêmio Osasco e ainda teve boas passagens por Figueirense (vice da Série B em 2001), Ceará (semifinalista da Copa do Brasil 2005), Ipatinga (semifinalista da Copa do Brasil de 2006).
Jogo para arrecadar fundos o fez ser visto pelo Santos
Um jogo beneficente para arrecadar fundos para um transplante de rim foi o responsável por Camanducaia chamar a atenção de olheiros da Baixada Santista. Isso ainda no ano de 1991.
"Eu fui criado na Companhia Melhoramentos [editora], a uns 20 km daqui [Camanducaia-MG]. Meu pai veio com 17 anos pra trabalhar nesta firma, onde tinha uma comunidade, e lá tinha um clube com campo de futebol, quadra de futebol de salão, e eu praticamente comecei jogando futebol lá, primeiro na quadra e depois fui pra campo. E todos os domingos tinham cinco times que vinham de São Paulo jogar", conta o ex-atacante.
"Quando eu tinha 15 anos, o Jabaquara de Santos veio fazer um amistoso para arrecadar fundos para um rapaz fazer um transplante de rim, e aí eu me destaquei no jogo e o diretor do Jabaquara conversou comigo depois do jogo e perguntou se eu não gostaria de fazer um período de avaliação lá no Santos. Eu falei: 'Lógico, o meu sonho é fazer um teste e dar início a minha carreira', e foi o que aconteceu. Isso foi no fim de 91, e em 92 recebi o convite do Santos para fazer a avaliação. Fiz teste no juvenil, acabei passando e aí fiquei 92 no juvenil em 92, nos juniores em 93 e 94 e, em 95, acabei subindo para o profissional do Santos", acrescenta o ex-santista.
Pousada e Meninos da Vila em Camanducaia
De volta a sua terra natal, Camanducaia continua ligado ao futebol. Dono de um campo de futebol society, ele recentemente adquiriu uma franquia da escolinha Meninos da Vila, onde inclusive dá aula. Além disso, também é dono de uma pousada em Monte Verde, cidade turística de Minas Gerais.
"Hoje eu voltei pra minha terra natal, tenho meus negócios, e tudo que ganhei foi através do futebol. Investi lá porque Monte Verde é um lugar turístico, onde tem, entre pousadas e hotéis, mais de 300 opções, e vi a possibilidade de investir; chama Pousada Agape. Pode ter certeza de que os hóspedes serão bem recebidos pela Maíra, minha esposa", diz Camanducaia.
"Além de lá, montei um society de gramado sintético, onde trabalho com a escolinha de futebol e alugo à noite para os adultos jogarem. Eu joguei e procurei fazer meus investimentos para, quando parasse, tivesse metade da vida para trabalhar, e a gente está com a correria do trabalho. Graças a Deus voltou o society na semana passada, por causa da pandemia. Adquiri a franquia do Santos faz um ano, e hoje tenho a responsabilidade de tentar preparar algum menino para que no futuro, quem sabe, seja outro atleta saindo aqui de Camanducaia para o futebol brasileiro e mundial", completa.
VEJA OUTROS TRECHOS DA ENTREVISTA:
Flamenguista, corintiano e, enfim, santista
Na realidade eu comecei como Flamengo, até pela camisa. Quando fui pra Aparecida do Norte com meu pai, vi algumas camisas e gostei da do Flamengo. Aí depois, quando cresci aqui por Camanducaia, que é próxima a São Paulo, acabei torcendo pelo Corinthians. E quando fui para o Santos, e por ter começado lá, acabei pegando um amor pelo clube, pelas pessoas que cuidavam de mim e dos outros meninos na concentração, e aí virei santista. Dali em diante acabei sendo santista e sou santista até hoje.
Sonho do pai realizado
Chegar aonde eu cheguei e jogar no Santos Futebol Clube, um time de tantas glórias e conquistas onde jogou o maior do mundo que é o Pelé... O meu pai era santista, e pra ele pode ter certeza de que era um privilégio ver o filho jogando no time dele, então só tenho a agradecer.
Outros destaques na carreira
Eu fiz um bom trabalho no Santa Cruz de Recife, também chegando na final do Pernambucano [1999], no Figueirense, em Santa Catarina, no Ceará... No Ipatinga nós chegamos em duas finais de Campeonato Mineiro, e na semifinal da Copa do Brasil [2006]. Eu também estive no Tigres do México, onde logo no meu primeiro ano acabei chegando à final do Campeonato Mexicano... Teve o Marília disputando a Série B do Brasileiro de 2003, quando nós quase subimos para a Série A; na época subiam só dois, e subiram Palmeiras e Botafogo, nós ficamos em terceiro e o Sport em quarto. Então foram alguns clubes onde eu acabei desempenhando um bom trabalho. No Ceará chegamos na semifinal da Copa do Brasil, fazendo uma grande campanha e eliminando Atlético-MG, Flamengo... No Ipatinga eliminamos o Botafogo na Copa do Brasil, o Náutico, o Santos... então foram equipes que deu pra fazer um grande trabalho.
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