Garantias política e salarial: os bastidores do sim de Felipão ao Cruzeiro
A notícia que surpreendeu o Brasil surgiu no meio da tarde de ontem (15), quando começou a circular nos bastidores um vídeo do presidente do Cruzeiro, Sérgio Santos Rodrigues, anunciando a contratação de ninguém mais, ninguém menos que Luiz Felipe Scolari, o Felipão.
Mas o que fez o pentacampeão do mundo com a seleção brasileira, que anteriormente já havia dito não aos dirigentes da Raposa, mudar de ideia repentinamente e acreditar no projeto de um clube que passa por grave crise financeira, que está na penúltima colocação da Série B do Campeonato Brasileiro, sem honrar compromissos salariais com jogadores e funcionários, e ainda por cima tem dívidas urgentes na Fifa?
O UOL Esporte apurou que alguns motivos fizeram com que Luiz Felipe Scolari optasse por arriscar no "projeto Cruzeiro". O treinador não abria mão algumas garantias primordiais e que foram aceitas pelos dirigentes azuis.
Lado político
Uma dessas garantias era a política. O fato de o clube não passar por período eleitoral nos próximos três anos foi um diferencial. O atual presidente cruzeirense, cujo primeiro mandato termina em 31 de dezembro próximo, acabou de ser eleito para comandar a agremiação cinco estrelas pelo próximo triênio (2021/2023). Esse detalhe agradou não só o experiente Scolari, mas também o seu staff.
O fato de trabalhar além do campo de jogo, exercendo função de manager, que é um sonho antigo de Felipão, foi promessa da diretoria estrelada ao treinador.
Parte financeira
Mas não bastava só o lado político, a questão financeira também era primordial. Sem dinheiro e com o caixa limpíssimo, o Cruzeiro conseguiu convencer Felipão a retornar ao clube dando garantias salariais ao treinador.
De fato, o horizonte do Cruzeiro é bem espinhoso, mas se antes algumas decisões da atual diretoria afastavam do clube um de seus maiores investidores, a negociação com o treinador serviu para reaproximar o parceiro da cúpula estrelada.
Um dos principais investidores, que desejava ter mais voz ativa dentro do clube, bancará o salário da comissão técnica do treinador. Informações preliminares dão conta de que o salário do comandante gaúcho estará dentro de uma realidade atual do Cruzeiro. Porém, gatilhos por premiação são mais "gordos", inclusive com bônus por acesso à elite do Brasileirão.
E o mecenas, responsável por arcar com o "custo Felipão no Cruzeiro", ainda prometeu quitar a dívida com o Zorya-UCR, cobrada na Fifa, e que atualmente gera o grande empecilho para novos registros de atletas.
O valor que os mineiros devem aos ucranianos é algo próximo de R$ 7,6 milhões, quantia referente à contratação do atacante Willian Bigode (hoje no Palmeiras), em 2014. Salário atrasado de atletas também foi uma pendência que Scolari pediu que fosse resolvida.
Boa relação
Além desses detalhes burocráticos, uma fonte disse ao UOL que a ida dos dirigentes do Cruzeiro a Porto Alegre para uma conversa olho no olho com Scolari e seu empresário foram cruciais para que o negócio fosse sacramentado. Além do presidente Sérgio Santos Rodrigues, o diretor de futebol Deivid e José Carlos Brunoro estiveram reunidos na capital gaúcha.
Ainda da conversa que selou o acordo, foi debatida a promessa por reforços. Inicialmente, um zagueiro e um atacante.
Chegada a BH
Mesmo oficializado como novo treinador do Cruzeiro, Scolari ainda não estará no banco de reservas no jogo de hoje (16), contra o Juventude, às 21h30, no Mineirão, pela 16ª rodada da Série B. Auxiliar da comissão fixa, Célio Lúcio vai comandar a Raposa, mas sob os olhares de um membro do time de trabalho de Felipão.
O auxiliar Carlos Pracidelli chega a Belo Horizonte nesta sexta-feira e deverá ajudar Célio Lúcio.
Ainda há uma pendência logística para se acertar. Se o novo treinador vem direto para Belo Horizonte no domingo, ou se vai de encontro com a delegação do time, que estará no Paraná para o jogo com o Operário, que será na terça-feira (20), em Ponta Grossa.
O outro auxiliar de Scolari, Paulo Turra, também terá sua chegada ao clube definida nos próximos dias.
Outros convites
Felipão não foi o único treinador procurado pelo Cruzeiro. A diretoria chegou a ter acordo alinhado com Umberto Louzer, atual treinador da Chapecoense, que depois de tudo combinado acabou declinando do convite. Lisca, do América-MG, Marcelo Chamusca, líder da Série B com o Cuiabá, Dorival Júnior, Tiago Nunes, demitido recentemente do Corinthians, e até Vanderlei Luxemburgo foram procurados.
Encontro com sócios cancelado
O encontro com Luiz Felipe Scolari alterou completamente a agenda de ontem do presidente do Cruzeiro. Sérgio Santos Rodrigues, que voltava de Atibaia, no interior paulista, onde os jogadores estavam em uma espécie de mini inter-temporada, tinha um encontro marcado com sócios-torcedores mais abonados do Cruzeiro. Com os adeptos da categoria Diamante, que pagam mensalidade de R$ 1 mil. A reunião aconteceria em uma tradicional churrascaria de Belo Horizonte.
A equipe que atende essa ala dos sócios-torcedores entrou em contato avisando do cancelamento do encontro por causa de "compromisso emergencial" do presidente, que era a negociação cara a cara com Felipão.
Uma nova data será agendada para essa reunião do dirigente com os torcedores.
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