"PQP, pra fora!" Narração viralizou, mas jogo de Pato Branco nunca existiu
"Está na marca fatal, Zezinho pronto para a cobrança do pênalti. Vamos lá, meu garoto. Pato Branco está com você. É o clube indo pela primeira vez para a primeira divisão", diz o narrador. "Olha aqui, eu acho que depois da cobrança, o juiz vai acabar o jogo", informa o repórter no campo de jogo. "Vamos lá, Zezinho. É Pato Branco batendo o coração, batendo o coração. Partiu Zezinho. Apontou, atirou.... Puta que pariu! Para fooora!".
Se você tem mais de 20 anos e gosta de futebol provavelmente já ouviu esta narração nas redes sociais. A emoção, o desapontamento e o desabafo - em forma de palavrão- do narrador de rádio ao descrever a desastrada saga do jogador Zezinho, que, nos segundos finais da partida, perdeu o pênalti, que levaria o seu time à primeira divisão, viralizou e até hoje gera curiosidade.
No Youtube, diversos vídeos reproduzem a narração. Alguns se propõem até mesmo a contar "a verdadeira história" do caso, dizendo inclusive quem era o adversário e o campeonato, que não ficam claros na narração. Um dos vídeos, que criou uma animação de vídeo-game para a narração tem mais de 5 milhões de visualizações.
O problema é que apesar do sucesso na internet, a narração não é verdadeira, o jogo jamais existiu e o Pato Branco nunca teve um jogador apelidado de Zezinho no elenco.
Mas afinal, quem é o responsável por ela? Ninguém nunca soube a identidade do criador do primeiro vídeo a viralizar há mais de uma década. Mas não foi por falta de tentativa. Vários jornalistas tentaram encontrar o gênio por trás da arte, mas a busca gerou uma grande fake news.
A locução é atribuída a Inelci Pedro Matiello, o maior narrador de Pato Branco, cidade com quase 83 mil habitantes no interior do Paraná. Mas ele garante que não tem nada a ver com a história.
"Até hoje ninguém sabe quem é o responsável. Até procurei, coloquei na internet, na rádio. Pedi para se identificar, para vir a Pato Branco. Seria algo muito legal. Poderia até ter ganhado dinheiro em cima disso, né? A história é simples e 'bombou' de maneira incrível. Ele nunca apareceu", disse Matiello ao UOL Esporte.
"É uma grande 'fake news', dizem que fui eu, mas não fiz nada disso. Quem me dera tivesse tido essa criatividade porque estaria cobrando cachê. Até o Faustão me convidou para ir lá, mas não fui eu. Gostaria que tivesse sido eu", completou.
A única certeza de Matiello é que o autor do vídeo tinha pleno conhecimento da história do clube da cidade. É que o Pato Branco, time fundado em 1979, vive a realidade de jogar a divisão de acesso e lutar por uma vaga na elite do futebol paranaense.
"O Pato realmente disputou várias vezes a segunda a divisão, isso aconteceu. Porém, o Pato não teve, ao longo da sua história, nenhum jogador chamado Zezinho. Isso é uma criação. Nenhum pênalti decisivo dessa maneira foi perdido também. O cara fez essa narração sabendo do histórico, e a coisa viralizou", diz Matiello.
Fama nacional e internacional
Até mesmo a forma como Matiello teve acesso ao vídeo pela primeira vez foi curiosa. Ele estava na Rádio Celinauta, onde trabalha até hoje, e recebeu a ligação de Milton Neves. O apresentador e colunista do UOL Esporte havia recebido a informação de que o companheiro de profissão era o responsável pela narração e tinha objetivo de levá-lo para São Paulo.
Matiello, claro, explicou a situação, mas Milton Neves não acreditou. "Ele desconfiou que eu não estava falando a verdade por algum motivo. Aí tive que narrar o gol para ele que aceitou: "É, não é você, não".
Mesmo sem ter feito a narração, Matielli ganhou notoriedade nacional e exterior por causa dela.
"Fui procurado por pessoas de Buenos Aires, Chile e até da Europa. Alguém disse que a narração era minha e tive essa procura, mas não fui eu, não. O que viralizou foi o "puta que pariu", né?", disse.
Caso promoveu cidade e bronca com Alexandre Pato
Entre muito mistério, algumas certezas. Uma delas é que o 'caso Zezinho' divulgou e muito Pato Branco. Matiello lembra que o vídeo rodou o mundo e levou o nome da cidade para todo canto.
"Teve uma vez que fui à Holanda e o gerente do hotel conhecia a região aqui. Quando falei que era de Pato Branco ele sorriu e comentou sobre a narração. E olha que nem tinha falado que era narrador. Ele conhecia a região e a narração do pênalti perdido. Incrível", disse.
O narrador, inclusive, diz que todo o episódio fez muito mais pelo povo que Alexandre Pato, que ganhou o apelido justamente por causa do seu local de nascimento. O jogador que já defendeu clubes como Internacional, São Paulo e Milan, está sem clube desde agosto após rescindir o contrato com o Tricolor paulista.
"Para mim essa é a maior publicidade que uma cidade já recebeu. Não são poucos os casos de pessoas que passaram a conhecer Pato Branco por causa dessa narração. O pênalti perdido pelo Zezinho divulgou muito mais a cidade do que o Alexandre Pato, que é um enganador, não joga nada", diz Matiello.
Segundo o narrador, a família de Pato é conhecida e o pai era funcionário da prefeitura e trabalhava pintando as ruas. Mas o atacante fracassou ao honrar o nome da cidade natal.
"Mas o Pato fracassou, só quer saber de mulher, aí se separa, tomou dinheiro dele. Depois se envolve com filha do Berlusconi na Itália. Esqueceu do futebol", completou.
Pato Branco entra em crise e não disputa competições desde 2012
O Pato Branco Esporte Clube foi fundado em 1979 em uma fusão de dois clubes da cidade. Caiu para a segunda divisão do Paranaense já na sua primeira participação, em 1980. De lá para cá, luta para se manter na elite do futebol estadual. Disputou apenas duas competições oficiais na década de 1980 e chegou a encerrar suas atividades entre 1993 e 1998.
A sala de troféus da agremiação tem apenas três conquistas: dois campeonatos da segunda divisão do Paraná, em 1981 e 1986, e o título da terceira divisão estadual, em 2009.
A última conquista, inclusive, renovou o interesse de torcedores da cidade. No ano seguinte, no entanto, o clube foi novamente rebaixado para a terceira divisão. O baque foi tanto que o time só voltou a disputar uma competição em 2012. Desde então, a agremiação praticamente mantem as portas fechadas, participando apenas de torneios amadores.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.