Caso Daniel: quais perguntas permanecem sem resposta dois anos após o crime
No dia 27 de outubro de 2018, o meia-atacante do São Paulo Daniel Corrêa foi espancado e morto depois de participar de uma festa de aniversário em São José dos Pinhais, na região metropolitana de Curitiba. Seu corpo foi encontrado parcialmente degolado e emasculado, em uma plantação de pinheiros da cidade. Mas, dois anos depois do crime, ainda existem questões abertas na tragédia.
O crime chocou pela crueldade aplicada pelo comerciante Edison Brittes, que assumiu o crime, alegando ter matado o atleta para defender sua mulher, Cristina, que teria sido atacada por Daniel. Os detalhes e as circunstâncias do assassinato foram tema da segunda temporada do podcast "Futebol Bandido", uma produção original do UOL Esporte que você pode ouvir aí em cima. Os podcasts do UOL estão disponíveis em uol.com.br/podcasts e em todas as plataformas de distribuição. Você pode ouvir Futebol Bandido, por exemplo, no Spotify, na Apple Podcasts e no Youtube.
Dois anos depois do crime, sete pessoas foram denunciadas por algum grau de participação no assassinato, mas apenas Edison Brittes permanece preso. Eduardo da Silva, David Vollero, Ygor King, Allana Brittes, Cristiana Brittes e Evellyn Perusso respondem em liberdade por diferentes crimes. Havia a previsão do julgamento pelo júri popular acontecer no segundo semestre deste ano, mas a pandemia da Covid-19 mudou a pauta de julgamentos da Justiça paranaense.
A seguir, listamos seis questões que permanecem em aberto dois anos depois e que certamente serão motivo de debate durante o julgamento do caso.
Os envolvidos do Caso Daniel
Onde foi parar o celular de Daniel?
Daniel estava com o celular no momento em que foi flagrado por Edison Brittes no quarto onde Cristiana Brittes dormia e foi com esse aparelho que o jogador mandou as últimas mensagens aos amigos. Mas o celular, que seria uma peça importante para as investigações, nunca mais foi encontrado.
Réus e testemunhas não esclareceram o destino do aparelho. Allana Brittes, a aniversariante daquele dia, e sua amiga Evellyn Perusso relataram que o celular foi destruído por outro convidado, Eduardo Purkote, o que nunca foi provado. A polícia esperava ter acesso ao celular para verificar outras eventuais mensagens que a vítima possa ter trocado antes de morrer. Edison ficou calado ao ser questionado sobre o assunto pela polícia.
Alguém entregou a Edison a faca usada para matar Daniel?
A faca do crime também nunca foi encontrada. Edison afirma que a jogou em um lago próximo ao local em que deixou o corpo do jogador na manhã de 27 de outubro de 2018. Uma das principais questões ainda em aberto sobre o crime é se alguém entregou a arma ao réu confesso enquanto Daniel era espancado.
Essa foi uma das perguntas feitas pela polícia e pelo Ministério Público aos convidados da festa. O que se sabe é que a faca foi vista já na casa dos Brittes. Algumas testemunhas dizem que Edison foi buscar a arma na cozinha antes de arrancar seu carro preto com Daniel no porta-malas. Já Evellyn Perusso disse que o convidado Eduardo Purkote é quem foi à cozinha buscar a faca para o pai de Allana. Se isso fosse confirmado, poderia indicar algum tipo de participação do rapaz no crime. No entanto, o Ministério Público não aceitou a versão, e Evellyn acabou denunciada por falso-testemunho.
O que aconteceu no carro para Edison decidir matar Daniel?
Os réus afirmam que, ao colocarem Daniel no porta-malas do carro e partirem com ele pela cidade de São José dos Pinhais, a intenção não era matá-lo, mas apenas "capá-lo" ou "dar um susto" nele. Mas, de acordo com Eduardo da Silva, algo no semblante e no comportamento de Edison mudou no meio do caminho. Em seu depoimento à Justiça, o rapaz afirmou que Edison ficou agitado após ver algo no celular. Ele não soube dizer o que Edison viu e nem qual celular ele manuseava. Os investigadores levantaram a hipótese de Edison estar com o celular da vítima e nesse momento ter visto as fotos e mensagens em que Daniel falava sobre Cristiana (as fotos acima fazem parte do processo e mostram Daniel e Cristiana). Mas como o celular do jogador nunca foi encontrado, a questão permanece em aberto.
Edison também se calou ao ser questionado sobre o assunto.
Daniel foi emasculado antes ou depois de sua morte?
O pênis do jogador foi encontrado em uma árvore dias depois do achado do cadáver. O laudo dos legistas que analisaram o corpo não foi capaz de definir com certeza o momento da emasculação. Esse detalhe será importante para o julgamento porque se for demonstrado que Edison cortou o órgão antes de matar o jogador, poderia ficar caracterizado o uso de tortura, um dos qualificadores do crime de homicídio. O homicídio qualificado tem pena dobrada: de 12 a 30 anos de prisão.
Edison matou Daniel sozinho?
Edison confessou ter matado Daniel. Os outros três réus, Eduardo da Silva, Ygor King e David Vollero, assumem terem espancado o jogador, mas negam o assassinato. Apenas Eduardo da Silva relatou o que teria acontecido na Colônia Mergulhão, para onde os quatro levaram Daniel no porta-malas do carro de Edison.
A história tem importantes lacunas a serem preenchidas. Apenas Edison participou do momento do assassinato? Os outros três rapazes que o acompanharam de carro apenas assistiram? E depois do crime, o corpo do jogador foi arrastado ou carregado até o local onde foi encontrado mais tarde? Por quem?
Por que Edison usava o celular de um criminoso assassinado?
Nos dias que se seguiram ao desaparecimento e morte de Daniel, Edison ligou para a família do jogador para prestar solidariedade. A polícia descobriu depois que essa ligação foi feita a partir da linha cadastrada no nome de um homem que havia sido condenado por tráfico de drogas e assassinado em 2016. O réu confesso de Daniel tinha conexões com pessoas acusadas ou condenadas por crimes graves. O Ministério Público e a polícia disseram que investigariam as origens dessa linha telefônica e por que ela era usada por Edison. Mas isso não ficou esclarecido até hoje.
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