Quase barrado, DJ do Atlético-MG 'vira a voz da torcida' no Mineirão vazio
Em circunstâncias normais, o jogo de amanhã (8) entre Atlético-MG e Flamengo, pela 20ª rodada do Campeonato Brasileiro, poderia entrar na lista de maiores públicos do novo Mineirão. Afinal, frente a frente estarão, além de dois rivais históricos, o terceiro colocado Galo e o vice-líder Fla.
Mas devido à pandemia do novo coronavírus não é possível que a torcida faça a festa na arquibancada. Por isso, caberá a um homem exercer a força de uma legião de atleticanos. E ele é Maurício Maoli, o DJ do Galo.
Peça que se tornou fundamental desde a retomada dos jogos sem público no Brasil, os DJ's ganharam muito espaço dentro de clubes de futebol. E Maoli foi o agraciado com a responsabilidade de ser a "voz da massa" durante os jogos do Atlético-MG como mandante.
O DJ do Galo
Em conversa com o UOL Esporte, Maurício Maoli abriu o jogo e contou detalhes do trabalho em dias de jogo do Galo no Mineirão. Dos perrengues às comemorações, o DJ precisou ir além da montagem de suas pick-ups, do ligar e desligar máquinas ou apertar botões de mixagem.
"Não existia essa função, nunca existiu no mundo a função de DJ da torcida. Existe animador que antes dos jogos ficam animando os torcedores no intervalo, mas simulação, torcida virtual, não existia. Não havia um modelo para fazer igual, uma experiência bem-sucedida de trabalho anterior. Tive que aprender na marra, correndo o risco de errar", disse.
Acostumado a grandes eventos, mas com público diferente do futebol, agitando festas diversas, inclusive casamentos, Maoli contou como recebeu o convite para ser o representante da torcida no estádio.
"O convite surgiu na reta final do Campeonato Mineiro, no retorno do futebol em Belo Horizonte. O Atlético-MG, durante a pandemia, começou a se aproximar mais do torcedor, como todos viram, teve o lançamento do Manto da Massa, lives em treinamentos... Sabendo da importância da massa, que sempre esteve com o time nos bons e maus momentos, a diretoria não queria que a torcida ficasse fora. Mesmo que os torcedores não pudessem estar presentes, eu fui o escolhido para representá-los", contou.
Barrado na porta do Mineirão?
No primeiro dia de trabalho por muito pouco o DJ não foi barrado na porta do Mineirão. Na verdade, ele até chegou a receber o aviso de que não estava autorizado a entrar no estádio, mas a diretoria do Atlético-MG fez um grande esforço para que Maurício fosse um dos integrantes da comitiva atleticana contra o Corinthians, primeira partida em casa no Brasileirão.
"A Confederação Brasileira de Futebol (CBF) tem um protocolo muito rigoroso de entrada nos estádios. Como a delegação é grande, me disseram que estava difícil a CBF liberar, e realmente não conseguiram colocar-me na delegação. Disseram que meu nome não estava autorizado a entrar no Mineirão, eu estava preparando para ir embora, mas o presidente Sérgio Sette Câmara ligou para a administradora do estádio e disse que fazia questão da minha presença. Entrei faltando dez minutos para o jogo começar e montei muito rápido os equipamentos. Foi o meu maior perrengue até agora", contou com risadas.
Solta o som, DJ
Quem acha que o trabalho dos DJs durante a pandemia é só apertar botõezinhos para emitir os efeitos sonoros está enganado. Justamente por não ter existido função parecida nos jogos antes da pandemia o trabalho teve que ser bem meticuloso.
"Mesmo para um DJ acostumado a tocar em grandes festas, essa transição foi difícil. Em festa você tem entre uma música e outra cinco, quatro minutos para pensar. Já o som da torcida, não. Tive que tirar áudio de vídeos, porque os clubes não possuem acervo de gravação da torcida. Tirei áudio de grandes jogos com a torcida mais animada. E esses vídeos são curtos. Peguei material após 2010, pois os celulares melhoraram, os áudios eram captados de melhor forma, sem chiados e boa qualidade. Foi dessa forma que eu baixei vários vídeos da torcida e construí esse acervo especial de mais de 70 sons de torcida e efeitos", contou.
O que o DJ tem em seu acervo?
Curiosamente, os sons gravados por Maoli são bem específicos e conhecidos dos atleticanos, sem, claro, os palavrões e cânticos mais pesados, que são proibidos.
"Tenho um acervo de efeitos sonoros como comemoração de gol, quando a bola passa próximo ao gol, o uh, efeito de aplausos para incentivar os jogadores quando fazem uma jogada difícil ou roubam bola importante, quando o goleiro faz defesa difícil. Tem o efeito dos torcedores batendo palmas antes de uma falta. Quando fui contratado me pediram apenas apoio. Não é permitido colocar vaias, cânticos ofensivos e homofóbicos. O clube está sendo muito cauteloso com o meu trabalho. Os torcedores até mandam sugestões, mas muita coisa não é viável por causa das aglomerações. Tem muita ideia criativa", revelou.
E usando a criatividade, Maoli utilizou um vídeo gravado durante recepção de torcedores à delegação do Atlético-MG no Mineirão. "O que eu fiz recentemente foi usar áudios da rua de fogo. Ficaram bem legais, essa interação também é muito legal. O momento bom do Atlético-MG também ajuda. Muita tem gente acha que é o DJ do Mineirão, mas não. O DJ é do Atlético-MG", disse.
Ligado no jogo
Assim como os profissionais que atuam como DJ precisam entender o movimento da pista de dança, no estádio não é diferente.
"Tem que estar muito conectado com o jogo. Eu me sinto participante do espetáculo. O som é muito alto para quem está no estádio. Sem som da torcida seria muito estranho, a partida ficaria fria. Os jogadores como estão dentro de campo, concentrados com o futebol, a sensação que eles têm é como se tivesse torcida. E o sentido da audição aguçado. Os cantos são muito sincronizados. Como já aconteceu de o Atlético-MG começar a partida levando gol, eu já coloco a música 'o Galo é o time da virada'. Os efeitos sonoros têm que ser disparados em tempo real, na hora exata, para ficar bem real. O sincronismo tem que ser muito eficaz para parecer mesmo. Tenho que colocar o canto da torcida no momento certo e ao mesmo tempo preciso disparar o efeito", fala.
"Tem que ter uma concentração extrema. Fico sozinho, sem ninguém do meu lado, perto dos camarotes. Fico isolado e bem concentrado mesmo. Antes mesmo de a partida começar eu fico concentrado. No intervalo, eu fico atento para o momento dos jogadores voltarem ao campo. É bem por aí", pontuou.
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