Convocação de Pedro faz de Tite vilão e reacende mal-estar por calendário
A convocação de Pedro para a seleção brasileira que jogará semana que vem pelas Eliminatórias gerou revolta na torcida do Flamengo. O centroavante, peça fundamental do Rubro-Negro, desfalcará a equipe em confronto decisivo contra o São Paulo pela Copa do Brasil —e Everton Ribeiro já tinha sido chamado. A conta do conflito de uma data Fifa com partidas importantes do calendário nacional caiu, mais uma vez, no colo Tite, e reacendeu um mal-estar que se arrasta nos últimos anos no futebol brasileiro.
Não existe qualquer margem para questionamento, do ponto de vista técnico, da oportunidade dada a Pedro. O atacante vem tendo grandes atuações em 2020, e já soma 20 gols em 36 jogos. A seleção tampouco terá pela frente amistosos: os jogos contra a Venezuela, no dia 13, e Uruguai, dia 17, são importantes na disputa por uma vaga em 2022.
Nada disso serviu, entretanto, para aliviar a pressão sobre Tite. Na sexta-feira, dia do anúncio da convocação do atacante, aparecia entre os trending topics to twitter uma hashtag com ofensas ao técnico. Paralelamente, teorias da conspiração de que o chamado teria sido deliberado, pela simpatia do treinador com o eixo paulista do futebol, circulavam entre torcedores.
A exposição de Tite como o vilão que desfalca times brasileiros em momentos cruciais é antiga, assim como seu incômodo com ela. Há tempos interlocutores do treinador não escondem o mal-estar causado pela situação que se repete. A avaliação é de que o comandante não pode ser apontado como responsável por problemas apontados há anos no calendário nacional. Assim como não deveria deixar de seguir o planejamento técnico da seleção, abrindo mão de chamar os atletas em melhor momento e que melhor se encaixam no seu time, principalmente em jogos competitivos como os das Eliminatórias.
Para pessoas próximas a Tite, pelo fato dele dar entrevistas coletivas a cada convocação, sendo sempre questionado sobre a assunto, ele acaba pressionado a responder sobre um problema que, pelo cargo que ocupa, não pode solucionar —seja mudando o calendário, seja deixando de convocar os atletas que considera merecedores para preservar clubes. Assim, muitas vezes, vira o rosto de um problema que não criou.
"Quando a seleção joga, não tinha que ter jogo de time. Continuo convicto. Isso, para mim, não vai mudar ao longo do tempo. Eu faço as convocações e faço com bastante pesar. Porque eu não queria. Continuo com a mesma opinião. Eu sei que o Manoel Flores [diretor de competições da CBF] está tentando ajustar. Mas vocês sabem mais que eu e eu não quero entrar nestes aspectos. Mas esse problema aconteceu com todos os clubes, quase todos os clubes. Eu tenho isso claro e continua igual", disse Tite, em outubro do ano passado, antes de amistosos da seleção contra Nigéria e Senegal.
Um ano depois, pouca coisa mudou, e Tite voltou à berlinda. Resolver esses conflitos foi uma das bandeiras do presidente Rogério Caboclo ao assumir a CBF no passado: "A partir de 2020 não haverá jogos no Brasil nessas datas (datas Fifa)", disse, em sua posse. A solução ainda não veio.
Pessoas ligadas à cúpula da CBF ressaltam que a pandemia do novo coronavírus criou uma situação excepcional, e tirou qualquer possibilidade de margem para manobras em relação ao calendário. As Eliminatórias que estavam marcadas para começar em março tiveram seu início somente em outubro.
As justificativas são verdadeiras, mas o fato é que os problemas já apareciam antes da pandemia. No calendário original, uma semana de novembro previa, na terça-feira, eliminatórias da Copa; na quarta-feira, rodada do Brasileiro da Série A; no sábado, final da Libertadores; no domingo, rodada do Brasileiro. Ajustes poderiam ser feitos, mas é uma programação que já nascia problemática.
O Brasil enfrenta a Venezuela no dia 13, em São Paulo, e depois segue para Montevidéu para encarar o Uruguai no dia 17. O Flamengo encara o São Paulo nos dias 11 e 18, pelas quartas de final da Copa do Brasil; entre os dois confrontos, jogará contra o Atlético-GO no dia 14, pelo Brasileirão.
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