Como Flamengo cedeu à pressão e demitiu Domènec Torrent
A relação de Domènec Torrent com o Flamengo durou pouco. Anunciado no fim de julho, o catalão foi demitido ontem (9), após sofrer mais uma goleada no Campeonato Brasileiro — desta vez para o Atlético-MG — e ser alvo de protestos que se avolumavam com o passar dos dias. Diante do cenário, a diretoria do Rubro-Negro decretou a saída do comandante e já fechou hoje (10) com Rogério Ceni, como seu substituto.
Dúvidas desde a chegada
Desde a negociação com o Flamengo, Dome nunca conseguiu ser unanimidade entre membros da diretoria e torcedores. O espanhol integrava uma lista que tinha outros técnicos europeus e, inicialmente, não era prioridade. O acerto foi ganhando forma com o passar do tempo e diante de algumas conversas não irem à frente, como nos casos dos portugueses Carlos Carvalhal e Leonardo Jardim.
Assim, a chegada de Dome à Gávea foi envolta de certa desconfiança em relação a um técnico que vinha de apenas um trabalho à beira do gramado após romper a parceria com Pep Guardiola, de quem foi auxiliar durante mais de uma década.
Começo ruim
Domènec foi o escolhido para a difícil missão de substituir o português Jorge Jesus, que conseguiu empilhar títulos na passagem pelo Brasil. As derrotas para Atlético-MG, na estreia, e Atlético-GO logo de cara, porém, fizeram com que o cartão de visitas do catalão não fosse dos melhores. O treinador viu, então, o trabalho já ser criticado em pouco tempo.
Rodízio
Uma das estratégias adotadas por Dome foi o rodízio no time titular, algo que ia na contramão do pregado por Jesus na passagem pelo Fla. A ideia de fazer o elenco "girar", aliado à ausência de atuações convincentes, foi até mesmo motivo de brincadeiras entre os próprios torcedores. Maior ídolo da história do Fla, Zico foi um dos que criticou e disse que "quem gosta de rodízio é churrascaria".
"Demora muito tempo para o treinador conhecer o elenco? Claro que não, pô! Pelo amor de Deus! Um mês, com um time desse. Quem gosta de rodízio é churrascaria. Cara, não vem com essa história. Em um mês você sabe quem é seu plantel. Você tem tudo na mão hoje em dia", disse, em comentário feito em seu canal no YouTube.
Enquanto isso, o treinador defendia a necessidade de se ter tempo para trabalhar e colocar em prática os pilares da forma de jogar.
Defesa mal
Jogo após jogo o Flamengo mostrava falhas no sistema defensivo, setor que outrora indicava segurança. Com Dome à beira do gramado, foram algumas duplas de zaga escaladas, com 36 gols em 24 partidas. As goleadas para São Paulo (4 a 1) e Atlético-MG (4 a 0), duelos em que o Rubro-Negro tomou "uma loucura de gols", como dito por Dome, expuseram uma equipe que se tornou frágil.
Mais que isso, os oito gols sofridos fizeram com que a time da Gávea se tornasse a segunda defesa mais vazada do Brasileiro, à frente somente do lanterna Goiás — o Fla foi vazado 29 vezes no torneio, quatro a menos que o Esmeraldino.
O comandante, por sua vez, tirou a culpa da "linha defensiva" e afirmou que a marcação era responsabilidade de todo o time.
"Quando ganhamos ou perdemos, ganhamos ou perdemos todos. Não vamos focar só na linha defensiva. Não são só os laterais e os zagueiros que precisam defender. Todos têm de defender. Não podemos culpar só os defensores, todos erramos. Temos de defender todos, trabalhamos para isso. Antes desses dois jogos que jogamos muito mal defensivamente, acho que estávamos focados, sofríamos gols, mas não essa loucura de gols que sofremos em dois jogos. Todos temos de ajudar a defender e todos temos de ajudar a atacar", disse, em entrevista coletiva no último domingo (8).
Sintonia com elenco no estilo de jogo
A ruptura do estilo de jogo de Jesus para o de Dome não "deu liga". Com o que ficou conhecido como "jogo posicional", o Flamengo não conseguiu engrenar e ser a equipe avassaladora de 2019.
Muitos jogadores pareciam atuar de forma diferente e com propostas distintas às do ano passado. Técnico e elenco não demonstravam falar a mesma língua, o que se refletia em campo.
Pressão
As recentes derrotas de forma acachapantes foram o estopim para que a pressão sobre Dome aumentasse, tanto interna quanto externamente. Já desde o revés para o São Paulo que membros da diretoria e grupos políticos pediam respostas mais contundentes da cúpula. O tropeço de 4 a 0 para o Galo fez com que a situação ficasse insustentável.
Pouco depois do apito final, muitos rubro-negros utilizaram as redes sociais para pedir a saída do treinador. A proximidade do duelo com o Tricolor paulista, amanhã (11), pelas quartas de final da Copa do Brasil, teve um grande peso na avaliação da diretoria. Havia o temor de que um novo placar negativo e elástico pudesse acontecer, o que tornaria a classificação às semifinais algo ainda mais difícil.
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