Técnico morto na Arábia era fã de axé e treinou de Vampeta a Vini Jr.
Carlos Amadeu, que morreu vítima de ataque cardíaco na Arábia Saudita, era um dos mais importantes treinadores de base do futebol brasileiro. No currículo, trabalho no Vitória, no Bahia e ma seleção sub-17 e sub-20. No dia a dia, histórias mil de um ex-lateral esquerdo que se tornou técnico de nomes como Vampeta, Daniel Alves, Vini Jr., Eder Militão, Rodrygo e Mateus Tetê.
Amadeu faleceu depois de treino no Al Hilal, onde estava desde setembro e comandava o time sub-23. No Brasil, amigos e ex-colegas não acreditaram de primeira na notícia.
A incredulidade com o falecimento é herança da imagem que Amadeu deixou em todos com que conviveu. Ativo, cuidadoso com alimentação e saúde, o treinador havia levado esposa e filho ao novo endereço na semana passada. A vida na Arábia Saudita engrenava.
"Ele até tinha recebido outras propostas, mas escolheu ir para o Al Hilal. O projeto era bem sólido e ele estava feliz demais lá", contou Erasmo Damiani, ex-coordenador da seleção brasileira e responsável pela contratação de Amadeu.
Amadeu ganhou o mundo depois de se tornar unanimidade no Brasil. O destaque apareceu no final da década passada, durante o Campeonato Brasileiro sub-20 no Rio Grande do Sul. À frente do Vitória, chamou atenção pelo estilo de jogo e perfil na área técnica.
Três anos mais tarde, o Rubro-negro ganhou a Copa do Brasil sub-20 e o treinador ficou ainda mais em evidência. Em 2015, veio o convite para assumir a seleção brasileira sub-17. Na categoria, ganhou o Sul-Americano e foi terceiro lugar no Mundial.
Lista pesada de ex-alunos
Quem trabalhou com Carlos Amadeu define o treinador como extremamente didático e com viés pedagógico forte. Ou seja, era um professor de futebol.
"Amadeu era, talvez, a melhor representação do que nós podemos considerar professor para alto rendimento. Foi o cara que mais conseguiu trazer didática, o docente mais fiel ao aprendizado e com preocupação em transferir informação de maneira real e efetiva aos comandados", disse Raul Fachini, ex-supervisor das seleções de base.
A lista de alunos que passaram pelas mãos do mestre engloba diversas gerações. Na base do Vitória, trabalhou na formação de Vampeta, campeão mundial em 2002. Também participou do processo de desenvolvimento de Daniel Alves, no Bahia. Mais recentemente, treinou Vini Jr., Paulinho, ex-Vasco, e outros nomes de peso da base do futebol brasileiro.
Arthur Maia, formado no Vitória, precisa aparecer na lista. O meia natural de Maceió trabalhou com Amadeu em Salvador e estava no voo da Chapecoense, que caiu no interior da Colômbia em novembro de 2016. A morte de Maia abalou Amadeu.
Inovador na sub-17
Durante Sul-Americano sub-17, no Chile, Amadeu teve a ideia de engajar ainda mais o elenco na preparação. O treinador incentivou os jogadores a buscarem informações sobre os adversários e locais onde iriam atuar. Os relatórios informais eram apresentados antes da preleção.
"Aquilo uniu o grupo e foi realmente diferente, um trabalho inovador", relembrou Fachini. "Ele não era preocupado em parecer ser. Era preocupado com o conteúdo", acrescentou.
Fã de Ivete e quase surdo
Em entrevista ao Globoesporte.com durante o Sul-Americano sub-20, no ano passado, Amadeu revelou que tinha 30% de audição em um dos ouvidos e no outro quase nada. Por isso, usava aparelho auditivo e até brincava que em jogos com mais críticas podia desligar o 'amigo' para não escutar a torcida reclamar.
Nascido em Salvador, Carlos Amadeu se dizia fã de Caetano Veloso, Ivete Sangalo, Daniela Mercury, Durval Lélis e do bom axé. Em entrevista publicada pelo Footure, criticou a falta de respeito do futebol brasileiro com a própria história.
"A história rica do Zagallo nós não temos registrada e tem mais: Luxemburgo e Felipão, por exemplo. Como não vamos respeitar caras multicampeões. O Felipão foi campeão de Copa do Mundo, finalista de Euro com Portugal. Não se respeitam os profissionais nos principais meios", disse Amadeu.
Família segue no futebol
Lateral esquerdo de carreira breve, fez parte do plantel do Bahia que venceu o Campeonato Brasileiro de 1988. Uma lesão no braço exigiu três cirurgias e encurtou a vida nos gramados. Pelo menos com as chuteiras. Começou cedo a era como treinador.
Amadeu comandou o Vitória na Série B de 2019 e passou pelo Bahia em 2020. Ele deixa a esposa Dora, os filhos Mateus, de 15 anos, e Ricardo Lemos. O herdeiro mais velho, Ricardo, atualmente é treinador sub-15 e auxiliar técnico sub-20 do Vitória.
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