Raio-x: seleção roda pouco, mas resgata Arthur e consolida Everton Ribeiro
Por causa da pandemia, a seleção brasileira entrou em campo apenas quatro vezes em 2020, pelas primeiras rodadas das Eliminatórias da Copa do Mundo do Qatar. Os resultados não poderiam ser melhores: quatro vitórias, 12 gols marcados e apenas dois sofridos.
Para além dos números e marcas atingidas estão as análises sobre a montagem do elenco neste ciclo até 2022. Neste sentido, o segundo período de jogos do ano carregou uma série de particularidades, como a surpreendente volta de Arthur ao grupo de atletas e aos jogos, os nove problemas que o técnico Tite teve com lesões e Covid-19 desde a convocação, a consolidação de Everton Ribeiro como titular e também a pouca rodagem do plantel nas vitórias sobre Venezuela (1 a 0) e Uruguai (2 a 0). Confira abaixo um raio-x sobre a seleção:
Arthur volta no melhor nível
O volante da Juventus não foi convocado para os dois primeiros jogos do ano, contra Bolívia e Peru. Na época, Tite argumentou que ele tinha acabado de se transferir e não era momento, mas são públicos os problemas de comportamento que teve no mesmo período. Ele voltou a aparecer nessa lista, o que foi muito contestado por torcedores e parte da imprensa, e foi titular contra o Uruguai porque Allan se machucou.
No maior teste ele entregou bom desempenho, com o gol marcado, além de 93% de precisão nos passes, boa articulação de movimentos dividindo setor com Douglas Luiz e 80% de duelos pessoais vencidos pelo chão. Foi o mesmo Arthur da Copa América que rendeu defesa de Tite nos últimos meses.
Eu sabia que não vinha passando por um bom momento [na última convocação], não vinha jogando no meu clube. É claro que é uma decepção, queremos estar sempre com a seleção e sabemos que a concorrência é grande, mas busquei fazer meu melhor e trabalhar no clube para voltar até aqui."
Tite só escala 17 jogadores
Tite perdeu nove jogadores desde a convocação: Gabriel Menino, Éder Militão e Casemiro, por diagnósticos positivos para Covid-19, e os lesionados Neymar, Philippe Coutinho, Rodrigo Caio, Pedro, Fabinho e Allan. Deles, Pedro e Allan atuaram contra a Venezuela e não puderam ir a campo no Uruguai. Com o grupo remendado, a seleção não rodou tanto os jogadores nesta janela.
Foram acionados Alex Telles, Éverton Cebolinha, Pedro e Lucas Paquetá no primeiro jogo e, na outra partida, Cebolinha e Paquetá voltaram a entrar, enquanto Bruno Guimarães fez sua estreia com a Amarelinha. Nos dois compromissos abriu-se mão das cinco substituições permitidas.
Assim, um bom número de jogadores envolvidos no processo não jogou um minuto sequer: Alisson, Weverton, Guilherme Arana, Diego Carlos, Felipe, Vinicius Júnior e Thiago Galhardo. Passaram batido.
Everton Ribeiro é destaque
O meia do Flamengo foi titular nos dois compromissos das Eliminatórias e participou da construção das jogadas dos três gols. Contra a Venezuela, Paquetá recebeu e passou de primeira para Everton Ribeiro, que se deslocava pela direita e cruzou para Renan Lodi. Na segunda trave, o lateral devolveu para o centro e Firmino escorou no contrapé do goleiro venezuelano.
Já diante do Uruguai, no primeiro gol, ele recebeu passe de Firmino, girou o corpo rápido e tocou curto para o cruzamento de Danilo. No meio da área, Gabriel Jesus rolou para Arthur bater e contar com desvio antes de a bola entrar. Minutos depois, Everton cobrou curto pela esquerda, viu Renan Lodi fazer o arco na área e Richarlison aparecer entre os zagueiros para acertar o cantinho do gol de Campaña.
Tite ainda explicou que no segundo jogo ele precisou mudar o posicionamento para uma região onde se sentisse "mais confortável". Ele estava jogando como meia central e foi deslocado para o lado direito: "É um jogador criativo, pé de pano, com uma qualidade técnica grande, num plano mais atrasado e com jogadores agudos, agressivos, à frente dele. Isso deu evolução à nossa equipe."
A nova posição, aliás, foi justamente o que animou Ribeiro nos últimos dias. Em conversas com pessoas próximas, ele não escondia a preferência por atuar pela faixa direita do ataque.
Mais à vontade e com boas atuações, o jogador que nunca escondeu seu projeto de retornar ao futebol brasileiro para voltar a ser lembrado na seleção começa, enfim, a se estabelecer na equipe. E dessa vez com a camisa 10.
Alisson fica ameaçado?
O goleiro do Liverpool não foi convocado para os dois primeiros jogos porque estava lesionado e não saiu do banco de reservas contra Venezuela e Uruguai porque foi preterido por Ederson. O titular do Manchester City teve atuações sólidas, mesmo sem ser tão exigido, pois os adversários acertaram só uma finalização a gol em dez tentativas. Ederson também ajudou no jogo com os pés, com 35 toques na bola e precisão nos passes.
Tite deu sequência de jogo a dois goleiros que fazem parte do ciclo até o Qatar e deixou em dúvida a titularidade de Alisson, que parecia incontestável até então. O próximo capítulo dessa disputa pelo gol da seleção será só em março de 2021.
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