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Psicológico, dep. médico e defesa: queda expõe problemas e pressão no Fla

Leo Burlá

Do UOL, no Rio de Janeiro

19/11/2020 04h00

A derrota por 3 a 0 para o São Paulo e a consequente eliminação na Copa do Brasil aumentaram a temperatura no Flamengo e trouxeram ainda mais à tona problemas que afetam a equipe nos últimos tempos.

Com mais um tropeço, a troca de peças no miolo de defesa mostrou que o problema está mais no sistema do que exatamente nos nomes. Com Thuler e Léo Pereira, o Fla voltou a ficar exposto e os erros de posicionamento custaram caro. O problema, que já era recorrente com Domenèc Torrent, foi herdado por Rogério Ceni, que terá muito trabalho para estancar o vazamento. Em três jogos no comando do novo técnico, o Rubro-Negro sofreu seis gols e marcou apenas duas vezes.

A última vez em que o time deixou o campo sem sofrer um gol sequer já faz um bom tempo. No dia 28 de outubro, o time bateu o Athletico por 1 a 0. De lá para cá, o Flamengo sofreu 16 gols em seis partidas. Neste mesmo recorte, o conhecido bom desempenho ofensivo também não apareceu, já que o time marcou só seis vezes.

Some-se a isso a falta de concentração que já era assunto frequente de Dome. O elenco não conta com a figura de um psicólogo e o assunto divide opiniões no Ninho.

"O problema está na cabeça. Nós controlamos o jogo, sofremos o gol e aí o time sofre muito. Isso é notório no lado psicológico. Mentalmente temos de ser fortes. Quando tudo está bom é fácil, mas quando tudo está difícil é que a gente precisa do apoio da torcida. É hora do torcedor abraçar esses caras", disse Ceni.

A performance irregular também se explica pelo cenário atípico e o calendário mais apertado que o normal, mas há questões internas para serem sanadas. Em uma temporada marcada pela pandemia, os rubro-negros têm sofrido demais com as lesões e o departamento médico vive cheio. Contra o Tricolor, Ceni não pode contar com Rodrigo Caio, Filipe Luís, Diego, Pedro e Gabigol. Desgastado após a participação nas Eliminatórias Sul-Americanas, o chileno Isla não foi nem para o banco. Em situação similar, Everton Ribeiro, que esteve à disposição da seleçao brasileira, começou entre os suplentes e entrou na etapa final no Morumbi.

O estafe da área científica do clube teve dificuldades para se adaptar ao estilo de Dome e sua comissão e também foi afetado por chegadas e partidas. O tempo de recuperação de atletas tem sido maior do que o desejado, visto que Rodrigo Caio ilustra bem essas dificuldades. Desde que voltou lesionado da seleção, o zagueiro não defende a equipe e sua última atuação como rubro-negro foi em 22 de setembro, quando o Fla venceu o Barcelona (EQU) por 2 a 1.

"Temos de valorizar quem está no campo tentando. Vocês melhor do que eu sabem das dificuldades que estamos enfrentando nesse momento", acrescentou o comandante.

Na ordem de grandeza estipulada pelo clube, a Copa do Brasil era a conquista menos importante dentre as três taças em disputa, porém o tropeço também tem reflexo nos cofres. Com o revés, o Fla deixa de embolsar R$ 7 milhões por não ir às semifinais e dá adeus à chance de arrecadar até R$ 61 milhões a mais. Em um ano de perdas financeiras e com o clube disposto a fazer uma investida milionária por Pedro, por exemplo, a falta destes recursos pesam.

Após ver o sonho do tetra adiado, o Rubro-Negro se mantém vivo na Libertadores e no Brasileiro. No entanto, o time vê a pressão por conquistas aumentar. Com um pouco mais de respiro no calendário, Ceni terá mais tempo para trabalhar e a cobrança virá na mesma medida. No sábado (21), a equipe recebe o Coritiba, às 19h, no Maracanã, pelo Brasileirão, e tenta encerrar um jejum de vitórias no torneio que vem desde a goleada por 5 a 1 contra o Corinthians, em 18 de outubro.

Já a partir da próxima terça (24), uma batalha em Buenos Aires e um novo capítulo da odisseia pelo tri continental. Às 21h30, os atuais campeões da Libertadores encaram o Racing, pelas oitavas de final. Uma semana depois, brasileiros e argentinos definem no Maracanã quem avançará às quartas. Uma eventual queda tornaria o ambiente ainda mais pesado e colocaria em xeque o time que encantou o Brasil no ano passado.