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Casagrande chora ao falar da morte de Maradona e cita dependência química

Do UOL, em São Paulo

25/11/2020 14h07Atualizada em 25/11/2020 16h28

O comentarista Walter Casagrande chorou ao vivo duas vezes ao falar sobre a morte de Diego Maradona. No Jornal Hoje, na TV Globo, Casão lembrou do passado de ambos com a dependência química. O ex-atacante voltou a abordar o tema das drogas no Seleção SporTV e também ficou emocionado. "Poderia ter sido comigo", disse.

"Eu fiquei muito chocado. Eu sou um dependente químico e quando um dependente químico por causa da consequência da droga, é uma derrota para todos os dependentes, não só para ele. Eu sofri muito na minha vida por isso. Minha família foi que me salvou. Fiquei internado um ano e sei a dor e dificuldade que o Maradona deve ter passado. Eu corri risco de morte várias vezes, como ele. E quando eu recebo uma notícia dessa, de alguém com quem eu joguei, que eu conheci, acompanhei esse desespero e ele acaba morrendo, na minha cabeça a minha história e essa frase: 'Poderia ter sido comigo'. Foi com ele hoje, mas poderia ter sido comigo há muitos anos", afirmou Casão, no Seleção SporTV.

"Está bem difícil. Joguei na mesma época que ele na Itália, com o irmão dele, tive bastante contato. Sempre me tratou muito bem. Sempre tive essa preocupação com o problema da dependência química, que eu também tenho e me tratei", disse Casagrande ao vivo no Jornal Hoje, da Globo.

"Sempre fiquei revoltado com quem estava ao redor dele. Quem está ao redor está vendo que ele está indo para o fundo do poço, destruindo a vida dele. E ninguém faz alguma coisa para evitar isso? Eu fico chocado pela perda de um grande jogador, um cara que conheci e gostava muito e por um dependente químico porque eu sofro muito quando morre um dependente químico. É muito duro", continuou.

Ataques nas redes sociais e cobrança ao governo

No SporTV, o comentarista ainda se disse incomodado com o fato de ser perseguido nas redes sociais por conta da dependência química - que ele enfatizou ser uma doença, diferente do que muitos dizem. Casão disse que muitas pessoas misturam isso em meio a críticas ao seu trabalho.

"O que mais mexe comigo é que ainda tem pessoas que não entendem que a dependência química é uma doença, que é grave, que não tem cura, que muita gente fala que quem usa droga é vagabundo. Que é só trabalhar ou ganhar um dinheiro, que para de usar. Eu canso de ouvir nas redes sociais ataques, em que me chamam de 'viciado', 'drogado'. Eu fui mesmo. Assumo. E assumo que sou um dependente químico, mas lutei para estar onde estou hoje, sóbrio. A minha maior loucura é estar sóbrio", afirmou.

Casagrande ainda cobrou o governo por medidas de combate e prevenção às drogas. O comentarista afirmou ainda que não consegue receber a notícia da morte de Maradona e pensar no argentino como apenas um jogador de futebol, mas como alguém que foi derrotado pelas drogas.

"Eu sofro muito por ver o Estado sem preocupação com as pessoas que sofrem com isso e nem preocupação em prevenir as crianças antes de trombar com esse fantasma e nem a preocupação em salvar vidas de quem a droga já dominou. Quando eu vejo uma coisa dessas, eu não consigo ver o Maradona jogador de futebol. Isso chegou muito forte para mim. Foi a morte do ser humano para o dependente de drogas. Isso me machuca muito. Eu estou bastante chateado, triste. Eu não sei mais o que falar", disse Casagrande bastante emocionado.

"Eu espero muito mesmo daqui para a frente ver a entrevista de um jogador de futebol, de um músico, de um cineasta ou qualquer pessoa que tem problema sério com droga, dizendo que conseguiu se recuperar. É difícil ver que Amy Winehouse morreu por causa de droga, que o Maradona morreu por isso. É só derrota. E essa derrota é de todos. Qualquer dependente químico poderia estar nessa situação. Eu não sou diferente de quem está na cracolândia. Não tenho vergonha que sou igual a eles", continuou.

"Sonho com o dia que vou participar de um programa com outras pessoas falando sobre a vitória, sobre a quase morte. É uma vitória temporária, não posso vacilar. A minha vitória é hoje. Espero alguém encontrar o mesmo caminho que o meu porque o caminho que o Maradona encontrou é o mais fácil na droga: é a morte. A vida é o mais difícil", finalizou.

Morte de Maradona

Diego Maradona foi um dos maiores jogadores de futebol de todos os tempos e morreu na manhã de hoje, aos 60 anos, após sofrer uma parada cardiorrespiratória. Ele estava em sua casa, em Tigre, cidade vizinha de Buenos Aires. A informação foi confirmada pelo biógrafo do jogador.

A saúde de Maradona já estava precária desde o início do mês, quando ele foi operado de um hematoma subdural e depois, por decisão familiar e médica, permaneceu hospitalizado devido a uma "baixa anímica, anemia e desidratação" e um quadro de abstinência devido ao vício em álcool.