Jogador inglês xingou companheiro que pegou camisa de Maradona na Copa-86
De volta do Estádio Azteca, era difícil acreditar no que surgia diante dos olhos. Ainda suada, a camisa azul era o símbolo da sua maior derrota na carreira e do seu país desolado do outro lado do Atlântico. O número 10 às costas afundava ainda mais o dedo na ferida, que parece até hoje não cicatrizar: poucas horas antes, era aquele uniforme que Diego Maradona havia vestido ao fazer dois dos gols mais icônicos da história da Copa do Mundo, rumo ao título mundial de 1986, no México.
A Inglaterra havia sido eliminada pela Argentina nas quartas de final por 2 a 1, com um gol de mão e outro em que o craque enfileirou um batalhão de ingleses desde o meio de campo, entre eles Peter Reid, então jogador do Everton. Ao chegar no hotel, o companheiro de seleção e de quarto, Steve Hodge, o surpreendeu ao tirar da mala o fardamento que tinha trocado com o maior algoz esportivo da sua pátria, morto na última quarta-feira (25), aos 60 anos, vítima de uma parada cardiorrespiratória.
Ainda revoltado naquele momento pela maneira com que Maradona havia alcançado a bola antes do goleiro Peter Shilton no primeiro gol, Reid não ficou nada feliz com o que viu.
"O clima no vestiário era de total decepção e indignação pelo que aconteceu, então Steve manteve a camisa em segredo até chegarmos no quarto", lembra Reid ao UOL Esporte. "Quando ele mostrou, fiquei de boca aberta e falei algumas coisas para ele que não posso repetir agora (risos). Mas vamos dizer que Steve tomou uma excelente decisão, apesar de tudo."
A relíquia está exposta no Museu Nacional de Futebol, em Manchester, o maior espaço do tipo no mundo. Ainda dono da peça, Hodge evita o assédio da imprensa.
A mão de Deus
Reid foi um dos primeiros a correr para esbravejar com o árbitro tunisiano Ali Bin Nasser, após a jogada do gol que abriu o placar, à margem da regra. No segundo, o camisa 16 até tentou parar Maradona no meio de campo, mas a habilidade e a velocidade de Diego superaram não só Reid, como meio time inglês.
"Parecia que eu estava em câmera lenta, correndo contra o vento', compara. "Todos sabíamos que o Maradona praticamente não tinha o pé direito, mas o esquerdo era absolutamente extraordinário, de qualidade técnica gigantesca. A visão de jogo também era sensacional, e ele era muito forte fisicamente para a estatura que tinha. Muito veloz e com controle de bola perfeito."
"No primeiro gol ele trapaceou, o não deveria ter sido validado, mas o segundo foi um lance de gênio. Por mais chateado que aquele resultado me deixou, ele merece todo o reconhecimento possível pelo jogador que ele foi, um dos melhores que já passou por esse planeta, absolutamente fantástico", acrescentou.
O reencontro com o carrasco aconteceu há cerca de dez anos, quando Maradona era técnico do Al Wasl e morava em Dubai. Nos Emirados Árabes para uma conferência sobre negócios do esporte, Reid se lembra com carinho da conversa descontraída entre eles.
"Ele foi bastante simpático e atencioso, claro que brincou sobre os gols dele contra nós, disse que foi a mão de Deus que encostou naquela bola. Respondi que aquela não era o meu Deus e caímos na risada", recordou.
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