Torcedor que anda 60 km para ver Sport espera convite para prêmio da Fifa
Uma rotina nada comum levou Marivaldo da Silva, um torcedor do Sport morador da cidade pernambucana de Pombos, à Fifa. Fanático pelo clube, há três anos ele caminha 60 km pelo acostamento de uma rodovia para ver os jogos do time na Ilha do Retiro. A história concorre ao Fifa Fan Award 2020, prêmio dedicado a torcedores que o Brasil já ganhou com Silvia Grecco, a mãe que narra os jogos ao filho Nickollas em jogos do Palmeiras.
A premiação está marcada para o próximo dia 17. A festa será virtual em 2020, por causa da pandemia do novo coronavírus, mas Marivaldo espera um convite para, ao menos, conhecer a sede da entidade, em Zurique. Enquanto espera, o torcedor de 49 anos contou sua saga ao UOL Esporte, em entrevista por telefone. As caminhadas pelo acostamento da BR-232, do município de Pombos a Recife, renderam mais de 6.000 km e uma série de histórias acumuladas. Tudo começou em 2017, quando ele decidiu acompanhar todos os jogos do Sport no estádio mesmo morando longe e sem ter dinheiro para transporte público.
"Minha situação sempre foi precária. Um dia, olhei e falei: 'Deus me deu duas pernas, disposição e saúde. Não vou perder mais nenhum jogo em casa'. Isso não é promessa. Eu me sinto bem, não tem vaidade", contou Marivaldo, que mora com a mãe em Pombos e trabalha como faz-tudo em uma residência da cidade.
O torcedor do Sport também vai aos jogos sem a garantia de entrar no estádio. Na porta, ele costuma receber ajuda de outros torcedores para conseguir acesso às arquibancadas. "Temos mais gente boa do que ruim no mundo. Sempre aparece um anjo para dar um ingresso", contou Marivaldo, que desde o início da pandemia assiste às partidas do Sport em um bar de Pombos.
Doações e caronas são negadas
Depois de sua história ficar conhecida, Marivaldo já recebeu doações de bicicletas, convite para caronas e alimentação gratuita em postos de gasolina. Marivaldo recusou tudo. Segundo ele, esse não é o intuito das caminhadas. "De 2017 até hoje nunca fiquei no meio do caminho. Mas a bike pode quebrar, não é? E aí, o que eu faria?", questionou Marivaldo, que abriu uma exceção certa vez, quando precisou de água perto do município de Vitória de Santo Antão.
"Uma vez a dona de um restaurante da estrada me ofereceu comida. Ela disse que era só entrar e comer, não precisava pagar. Nunca parei lá para comer, porque não gosto disso. Eu parei uma vez para encher a minha garrafa, só", frisou.
Para vencer os 60 km, Marivaldo precisa de pouco mais de dez horas. Na volta, quando o jogo acaba tarde às quartas-feiras, ele costuma ficar em um mercado 24 horas próximo à Ilha do Retiro. Quando o sol nasce, o torcedor inicia a caminhada rumo a Pombos. Caronas, nesse caso, são até aceitas, mas costumam ser raras.
Ele usa um par de tênis simples. O primeiro deles já desgastou a ponto de ser jogado no lixo. Em relação à alimentação, Marivaldo costuma caminhar com biscoitos e água.
Hábito antigo
As caminhadas até os jogos do Sport na Ilha do Retiro começaram quando Marivaldo morava em Olinda, cidade vizinha a Recife. À época, duravam no máximo duas horas. Foi nessas circunstâncias que o torcedor viu o Sport ser campeão da Copa do Brasil de 2008. Para entrar na Ilha naquela ocasião, Marivaldo conseguiu comprar um ingresso a R$ 25, depois de o jogo começar.
As andanças fazem parte da vida de Marivaldo desde a infância. "Sempre fui bem, tenho bom preparo físico. Sempre gostei de andar, fui criado no interior, sempre ia a pé, dificilmente tinha transporte. Foi um hábito que mantive, não é nada forçado", ressaltou.
Na Fifa, Marivaldo concorre com o escocês James Anderson, que doou milhões de libras para o avanço do futebol feminino e de base, além de torcedores colombianos que ajudaram a arrecadar doações me meio à pandemia do novo coronavírus. A votação é aberta, pelo site da entidade.
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