Santos: Fernando Silva diz que ajudou a montar time de Neymar em 2010-11
O UOL Esporte inicia hoje sua série de entrevistas com os seis candidatos à presidência do Santos para o triênio 2021-2023. A eleição está marcada para o dia 12 de dezembro.
Na primeira entrevista da série, o candidato Fernando Silva, da "Chapa 1 - O Santos Pode Mais", respondeu às perguntas feitas pela reportagem — que serão padrão para todos os postulantes à presidência.
Silva afirmou que merece os votos dos sócios porque participou da montagem do time de 2010-2011, a equipe de Neymar e o período mais vitorioso do clube após a 'Era Pelé'.
Entre as ideias do candidato da Chapa 1, destaque para o programa de sócios com duas categorias voltadas para o torcedor que reside longe da cidade de Santos, bem como o fortalecimento do Peixe nas redes sociais por meio de investimento na Santos TV.
Confira a íntegra da entrevista do UOL Esporte com o candidato Fernando Silva.
UOL: Como a chapa pretende pagar as dívidas do Santos? É possível desbloquear o clube na Fifa a curto prazo?
Fernando Silva: Existem quatro pilares para o processo de recuperação financeira do Santos: 1) equilibrar as contas, 2) reestruturar as dívidas, 3) ser eficiente no gasto e 4) crescer receitas.
A primeira ação a tomar é entender os custos e despesas e ajustá-los de forma a torná-los compatíveis com as receitas recorrentes. Não é possível gerir o clube contando sempre que venderemos atletas que ajudem a pagar as despesas correntes. É por isso que vemos todos os anos atrasos de salários.
Mas gastar apenas o que se arrecada é insuficiente, pois as dívidas são enormes e estão nos sufocando. Precisamos gastar menos e de forma eficiente, para que sobre dinheiro.
Sobre as dívidas, teremos que promover uma reestruturação completa do passivo, alongando seu perfil e propondo fluxos de pagamento compatíveis com a realidade do clube. Teremos que buscar auxílio em empresas especializadas em reestruturação de dívidas, que nos auxiliem na construção desse processo. E não podemos ter ilusões: neste momento a venda de atletas precisa compor parte importante dos recursos que pagarão as dívidas.
Tudo isso e ainda precisaremos nos adequar às regras do Fair Play Financeiro, o que nos coloca ainda mais pressionados a seguir um roteiro de austeridade.
Não será um processo rápido nem fácil.
UOL: Passa pela cabeça da chapa realizar empréstimos pessoais a juros 'zero' ao clube para sanar dívidas?
FS: Trabalharemos com pessoas que são referência no mercado financeiro. Elas ajudarão o Santos a ter credibilidade novamente, e isso inclui a negociação na taxa de juros. Em 2010, quando assumimos o clube com o Laor (Luis Álvaro de Oliveira Ribeiro) foi assim também. Logo na primeira semana, já tínhamos negociado taxas e prazos das dívidas do clube.
UOL: Qual é o projeto para as categorias de base? O que pensa sobre as mudanças feitas recentemente por Orlando Rollo, com a contratação de ex-jogadores com identificação com o clube, mas pouca experiência, para os cargos de treinador?
FS: A base hoje tem problemas em todos os seus pilares fundamentais: Captação, formação e transição. Saber fazer esse diagnóstico, enxergar o que se esconde de vícios nesse mundo a parte que é a base já é um desafio para poucos.
O clube está parado no tempo, precisamos reativar a captação de novos atletas fortemente.
Assim como no profissional, criar um setor de inteligência que integre o lado de dentro do clube, as nossas necessidades, com o mundo do lado de fora. Intensificar o trabalho dos observadores externos com abrangência nacional, com o apoio e coordenação analistas internos.
Todas as movimentações são fontes de captação: Competições oficiais, torneios amadores, avaliações próprias, parcerias com projetos, prefeituras, além das próprias franquias Meninos da Vila, para as quais pretendemos torná-las parceiras captadoras mais ativas e eficientes, além da criação de núcleos estratégicos pelo país, para acelerar e facilitar processos.
Na formação atual do clube, está clara a descontinuidade e a ausência de sintonia com nosso histórico DNA. Cada treinador em cada categoria tem que seguir um processo metodológico alinhado com nossa filosofia e conceitos de modelos de jogo.
Além disso, aprimorar os atletas em detalhes de seus fundamentos e desenvolver ferramentas para o desenvolvimento cognitivo. Para a transição, infelizmente, o clube criou o sub-23 para sabotar a si próprio.
Dezenas de contratações ao longo de alguns anos que embarreiram a subida dos jovens da base, muitos, foram perdidos. Perdas mensuráveis no que se gastou e incalculáveis no que se perdeu.
Somos a favor do sub-23 como categoria preferencialmente de transição e excepcionalmente para oportunidades do mercado, prospectadas através de inteligência e não o oposto como temos visto.
Além disso, soma-se a isso, o que dissemos na resposta sobre contratações para o profissional, ou seja, futebol integrado, significando sintonia fina entre base e profissional, para o aproveitamento mais ajustado no momento evolutivo adequado dos jovens e para evitarmos contratações desnecessárias. Tudo isso com uso de tecnologias e inovação.
É importante salientar que a necessidade de melhoria da nossa estrutura física é senso comum. Temos avaliado várias possibilidades que cremos que poderão nos ajudar, mas é preciso ter responsabilidade e fazermos escolhas nesse caso, com cautela e critérios técnicos, ao longo dos primeiros meses de gestão.
Sobre as contratações do atual presidente, é difícil pensar apenas no departamento de formação. O Rollo contratou muitas pessoas sem nenhuma necessidade. Quando assumirmos o clube, analisaremos quem é bom para o Santos. Em todas as áreas. Precisamos trabalhar com os melhores profissionais em todos os contextos.
UOL: É a favor de que o Santos tenha equipes de outros esportes, como basquete e futsal?
FS: Eu sou a favor até de uma equipe de E-Sports! O Santos precisa voltar a ser representado em diversas modalidades. Mas para isso acontecer, precisamos colocar a casa em ordem e buscar investidores e parcerias com prefeituras para o retorno de outras modalidades.
UOL: Quais são as metas esportivas para o triênio?
FS: Queremos ser campeões! Nosso foco é recolocar o Santos no seu devido lugar dentro e fora de campo. É claro que não conseguiremos conquistar todos os títulos, e não será da noite para o dia, mas tenho certeza de que conseguiremos formar uma equipe competitiva que nos trará algum troféu.
UOL: Entre montar um time forte apostando em ganhar títulos para pagar os gastos e ter um time mais fraco que fique dentro do orçamento que o clube prevê, qual o candidato escolheria?
FS: Eu prezo muito pelo equilíbrio. Podemos ter um time competitivo sem gastos exorbitantes. Não podemos cair na armadilha de gastar mais do que arrecadamos por ilusões de títulos. Precisamos ter um bom planejamento e um time unido e com peças estratégias. Somente a partir daí conseguiremos equilibrar as contas e os nossos objetivos.
UOL: Como aumentar o número de sócios? Qual é o projeto da chapa para o programa Sócio Rei?
FS: Uma das características que diferencia o Santos da maioria dos outros grandes Clubes é não ter um Clube Social. Entretanto, o Clube, enquanto Instituição, já tem vários "Relacionamentos Sociais" e não somente pode como deve ter muitos mais. Um exemplo de Relacionamento que já existe é a Secretaria Social que atende basicamente o Sócio Rei.
Mas e as próximas categorias de Sócios que vamos criar? O Sócio à Distância e o Sócio Digital? Está claro para nós que, com uma torcida nacional, o Santos não pode restringir nossos Planos de Sócio a planos focados essencialmente em programas de desconto em ingressos. Isso não faz muito sentido para atrair um Sócio fora do Estado de São Paulo, daí já estarmos pensando em quais ofertas e valores podemos entregar para um Sócio à Distância. Outra iniciativa importante no nosso Plano de Gestão é fazer do Santos um Clube cada vez mais sintonizado com a era Digital. Lá em 2010, durante a nossa Gestão, o Santos iniciou um Projeto Inovador chamado Santos TV. O seu sucesso diz algo muito interessante para nós: O Clube não é mais apenas um Clube de Futebol, ele é também um Produtor de Conteúdo. E o que fazem os Produtores de Conteúdo? Eles criam audiências cativas para seus conteúdos e monetizam sues veículos. Nós vamos fazer isso com o Sócio Digital.
UOL: Como gerar mais renda em meio aos desafios da pandemia?
FS: Um dos exemplos que citei na última resposta é a criação de conteúdo. A Santos TV é parte fundamental desse projeto de captação de recursos, principalmente com a torcida fisicamente longe do clube.
Também já conversamos com algumas empresas que demonstraram interesse em se aproximar do clube em caso de vitória da nossa gestão. São pessoas que conhecem a seriedade e a qualidade de nosso trabalho. A equipe da Chapa 1 trará de volta a credibilidade que o Santos perdeu nas últimas três gestões com Odílio, Modesto e Peres.
UOL: O que pensa sobre a nova Vila no projeto com a WTorre. Onde o Santos jogaria durante a construção nos dois cenários: durante e após a pandemia?
FS: Nós acreditamos que o "Santos pode mais"! E pode mais não somente nos três anos que virão, mas também nos próximos 100! Com a mesma força que tem competido nos últimos 108 anos e ainda mais!
Para isso, é fundamental posicionar o clube de forma competitiva e profissional, especialmente no atual cenário do futebol mundial. E entendemos que o assunto estádio é estratégico a longo prazo. Para estarmos bem posicionados neste tema, devemos levar em conta três pontos fundamentais: 1- Aspecto esportivo; 2- Resultado financeiro e 3- relacionamento com o torcedor.
A nossa Vila Belmiro é centenária, nosso templo, nossa casa, mas infelizmente do jeito que está, ela não pode mais ficar. Temos um estádio que não atende à demanda dos grandes jogos e que falha no oferecimento de conforto quando comparamos com as novas arenas. A soma desses fatores dificulta o aumento da média de público e o incremento da receita de bilheteria.
Um estádio moderno e confortável, com capacidade de público significativamente maior do que a atual capacidade da Vila, tem potencial para ampliar a presença feminina e das famílias nos jogos, possibilitando ao Santos acessar um potencial maior de receitas, que serão fundamentais para nos manter competitivos nas próximas décadas.
Nesse momento, o que propomos é um Santos protagonista, para não só fazer o projeto que cabe no terreno atual, mas analisar as possibilidades e, principalmente, as necessidades do clube para que essa competitividade possa prevalecer.
Com relação ao projeto que envolve o Santos e a WTorre - aliás, muito bonito por sinal —, a chapa O Santos Pode Mais entende que é necessário aguardar pela apresentação do modelo econômico proposto, ainda que acreditemos que o andamento do negócio seja benéfico ao clube.
Sabemos que a WTorre é uma empresa séria, experiente e com relevante know-how para ser um parceiro importante na construção de um novo Santos, mas que, naturalmente, visa os seus interesses também. É preciso entender, com mais detalhes, o plano de negócio proposto por eles.
Por fim, as tratativas sobre uma nova arena para o Santos devem ser conduzidas da forma mais profissional possível e livre de política, visando um grande incremento das receitas do Santos e da WTorre.
Nós, da chapa O Santos Pode Mais, temos uma equipe capacitada e experiente que saberá conduzir o negócio e garantir que os interesses do Santos estejam preservados.
Precisamos ter a certeza de que este será um projeto que atenderá os objetivos econômicos e esportivos do Santos, tornando-se um fator decisivo para que nosso clube seja cada vez maior e vitorioso.
UOL: O que pensa sobre o trabalho de Cuca e seria ele o técnico caso o candidato seja eleito?
O Cuca tem feito um trabalho muito importante para o time. Precisamos agradecer a ele por esse esforço. Eu não posso falar sobre seu futuro porque ainda não estamos no clube e não conversamos frente a frente. Eu preciso ouvi-lo também.
UOL: Quais os planos para cargos altos como a Gerência de Futebol? É mandatório que tais profissionais tenham identificação com o clube ou o candidato é a favor da contratação de profissionais de mercado mesmo que não tenho identificação?
FS: O plano para os cargos altos é o mesmo para qualquer cargo dentro da nossa Administração: o da profissionalização. Precisamos ter as pessoas certas nos lugares certos e não ficar criando puxadinhos para acomodar apoiadores políticos de ocasião. Por isso, independentemente da identificação, a decisão será guiada pelo profissionalismo e competência das pessoas.
UOL: Quais os planos para o CT Rei Pelé e, principalmente, o CT Meninos da Vila das categorias de base?
FS: Eu adoraria ter recursos para fazer uma gigante transformação nos CTs a partir do primeiro momento, mas temos que ser honestos: o clube não terá recursos para fazer isso em 2021. Temos, sim, que ser muito zelosos com a manutenção dos nossos equipamentos, mas não vou ficar fazendo promessas eleitoreiras.
Como temos repetido desde que anunciamos a nossa Chapa para eleição deste ano, embora necessário, não basta só investir em estrutura física se o trabalho da Base não for bem aproveitado. Meu sonho é integrar as instalações das categorias de Base às instalações do Futebol Profissional/Futebol Feminino e com nosso plano de CONCEITO DO FUTEBOL INTEGRADO.
Para isso contamos com a Lei do Incentivo, além de já estarmos em contatos com prefeitos para buscar o espaço necessário na Baixada Santista. Nossa proposta para Base passa pela integração com o Futebol Profissional, em conceitos e em fluxo de utilização, de modo que a transição seja racional, sem precipitações e bloqueios que gerem perdas pessoais ou financeiras enormes ao clube.
Iremos trabalhar em diversas frentes para aumentar a nossa capacidade de captação de novos talentos, passando por parcerias e franquias. Tudo isso será embasado pela implementação de conceitos e modelos de jogo que já são marcas do nosso DNA.
Precisamos reforçar o entendimento em todas as áreas do Clube e da torcida de que a Base não pode ser somente fruto de necessidade, mas, sim, de uma convicção. A Base tem papel fundamental na História e no Orçamento do Santos e um novo CT é estratégico para melhor formação e aproveitamento dos nossos raios, incluindo raios no time feminino.
UOL: Por que o santista deve votar em você? O que te faz estar preparado para esse cargo?
FS: A resposta é muito simples: Eu ajudei diretamente a montar os times de 2010 e 2011, época mais vitoriosa do Santos pós-era Pelé. Além das conquistas no campo, incluindo times feminino e fustal, equilibramos as contas do clube e conseguimos parceiros que bancaram a permanência do Neymar por um bom tempo. Se Neymar estivesse no Santos hoje, teria sido vendido mais rápido do que o Rodrygo.
Nenhum dos outros candidatos tem a vivência de clube que eu tenho. Eu tenho plena confiança na minha bagagem de vestiário, de lidar com treinadores e jogadores.
Além disso, a equipe da nossa chapa é repleta de profissionais de ponta em todas as áreas. Basta só pesquisar quem é César Grafietti, Bruno Maia, Eduardo Tega, Luiz Fernando Moraes, Fernando Fleury, Celso Loducca e mais outros componentes. É um time de peso!
UOL: A gestão Peres foi marcada por várias decisões controversas. Na visão do candidato, qual foi o maior erro da gestão e que o candidato nunca, em hipótese alguma, repetiria?
FS: Difícil nomear o maior erro da gestão Peres, as quero ressaltar dois aqui: um foi entregar as chaves do clube nas mãos de um treinador. O Sampaoli fez o que quis com o clube. CT, departamentos, funcionários. Tudo foi mexido pelo treinador e o presidente ficou na mão dele. Isso não pode acontecer.
Outro ponto é algo que já estou executando: não fazer acordos políticos. A Chapa 1 - Santos Pode Mais é composta por pessoas da minha confiança, pessoas gabaritadas para trabalhar pelo Santos. A junção do Peres com o Rollo prova que acordos políticos dão muito errado. Olha como o clube está hoje. Eu já estou "vacinado" quanto a isso e é algo que não vai se repetir.
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