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Caso Ninho: Flamengo convoca empresa para investigar acusação de propina

Bandeira do Flamengo em frente ao CT Ninho do Urubu. Clube apura possível pedido de propina por obras no local - Ricardo Moraes/Reuters
Bandeira do Flamengo em frente ao CT Ninho do Urubu. Clube apura possível pedido de propina por obras no local Imagem: Ricardo Moraes/Reuters

Leo Burlá e Pedro Ivo Almeida

Do UOL, no Rio de Janeiro e em São Paulo

04/12/2020 04h00

O Flamengo convocou (veja aqui) o proprietário da empresa Anexa Energia, José Augusto Lopes Bezerra, para ajudar a esclarecer as denúncias de que uma "pessoa que se dizia influente junto à diretoria" do clube pediu pagamento de propina para a companhia durante obras contratadas para o Ninho do Urubu.

Na briga que as partes travam na Justiça, a Anexa acusa o Flamengo de romper unilateralmente o contrato de prestação de serviços após a empresa não conceder vantagem indevida para assegurar a manutenção da relação contratual mantida com o clube.

A Anexa fora contratada pelo Rubro-negro imediatamente após o incêndio que matou dez jovens no alojamento das categorias de base no centro de treinamento, em 8 de fevereiro de 2019. O objetivo era preparar um laudo sobre as condições do local e verificar outras instalações que eram utilizadas. Após a produção de diversas vistorias e serviços de adequação, a relação foi rompida no segundo semestre do mesmo ano.

O Flamengo disse ter rompido pois os serviços não eram realizados. A Anexa rebateu e disse que realizou até mais do que o combinado e que parou de receber pelo que foi feito e também não recebeu a quitação de uma dívida anterior. Tudo após negar a proposta de propina.

Após mais de um ano de discussões na esfera jurídica e sem um acordo a partir das cobranças da Anexa, o Flamengo se mostrou preocupado mesmo foi com a história da propina. E abriu uma comissão de sindicância interna para "apurar eventual falta cometida por colaboradores do clube".

Flamengo se preocupa

Trecho de convocação de comissão interna do Flamengo - Reprodução - Reprodução
Trecho de convocação de comissão interna do Flamengo a responsável pela Anex
Imagem: Reprodução

Na última terça-feira, o presidente dessa comissão e diretor jurídico do Flamengo, Antonio Panza, emitiu uma carta de convocação solicitando que José Augusto Lopes Bezerra definisse uma data para comparecer ao clube a fim de ajudar na investigação e "esclarecer os fatos alegados em juízo".

O documento obtido com exclusividade pelo UOL Esporte (veja aqui) ainda mostrava a vontade do clube em debater a "possibilidade de apresentação de provas documentais que comprovem as alegações".

Por e-mail, o empresário proprietário da Anexa Energia respondeu que "apoia incondicionalmente a apuração interna do clube", mas ressaltou que as provas só serão produzidas na presença de um Juiz durante audiência na 6ª Vara Cível da Comarca da Capital - RJ. (veja a resposta na íntegra aqui)

E-mail de resposta da Anexa ao Flamengo após pedido de colaboração em apuração sobre propina - Reprodução - Reprodução
E-mail de resposta da Anexa ao Flamengo após pedido de colaboração em apuração sobre propina
Imagem: Reprodução

A briga na Justiça

A Anexa ajuizou ação indenizatória e alega que houve quebra unilateral do contrato de prestação de serviços. A firma cobra na Justiça reparação dos danos materiais e o próprio Flamengo, em aditivo datado de 26 de julho, reconhece que não havia quitado todo o valor devido.

"Ademais, a ação indenizatória que é movida contra o clube busca a reparação dos danos que foram causados pelo rompimento contratual sem justa causa", pontuou o empresário.

Problemas no Ninho desde antes do incêndio

No dia 9 de setembro de 2020, o UOL Esporte revelou que o Flamengo sabia de problemas elétricos em alojamentos da base do Ninho do Urubu - o mesmo onde morreram dez meninos em fevereiro do ano passado.

Correspondências internas de maio de 2018 trocadas entre os então responsáveis pelo dia a dia do CT apontaram aos dirigentes do Flamengo as "não conformidades" das instalações e "suas gravidades", mostrando que os seguidos autos de infração da Prefeitura não eram os únicos problemas para o funcionamento do lugar como dormitório.

Os problemas na parte elétrica foram verificados semanas antes. A partir disso, foi chamado um técnico de segurança do trabalho do clube para a realização de uma inspeção no local. Tal visita ocorreu no dia 10 do mesmo mês de maio, com novo relatório técnico feito no dia seguinte e enviado a responsáveis rubro-negros.

Com dez fotos e imagens que detalhavam especialmente as citadas "gambiarras" no quadro elétrico atrás do alojamento da base (contêineres) - local do incêndio trágico -, o relatório chamava a atenção pela observação final.

"As irregularidades abaixo não serão tratadas no momento, pois, conforme informação, o local será demolido e substituído por novas instalações até o final do ano de 2018, deixando claro que caso haja fiscalização e autuação o argumento mesmo que evidente não justifica a irregularidade, ficando a critério do órgão fiscalizador a penalidade ou intervenção".

Riscos de incêndio em CT profissional

No dia 19 de novembro deste ano, o UOL Esporte também mostrou que o módulo dos profissionais foi inaugurado com risco de incêndio. Segundo laudo datado de março de 2019 e obtido com exclusividade pela reportagem, o local inaugurado em novembro de 2018, após investimentos de mais de R$ 23 milhões, também apresentava "riscos críticos".

O documento de 27 de março de 2019, assinado pela Anexa Energia, foi elaborado após vistorias realizadas nos dias 19 e 26 daquele mês. A empresa foi contratada pelo Flamengo para produzir um parecer após a tragédia que tirou a vida de dez jovens atletas do clube e analisar o restante das instalações do Ninho do Urubu.

Utilizado pelo time profissional à época e festejado com um dos espaços mais modernos do continente, o prédio apresentava diversos riscos. Ao menos cinco dos 25 itens avaliados apresentaram um grau de risco "crítico" na classificação dos especialistas — "aquele que provoca danos contra a saúde e segurança das pessoas e meio ambiente, com perda excessiva de desempenho e funcionalidade, causando possíveis paralisações, aumento excessivo de custo, comprometimento sensível de vida útil e desvalorização imobiliária acentuada".