Futebol feminino: por que só Corinthians e Santos usam nome nas camisas?
O futebol feminino progrediu nos últimos tempos, especialmente no último ano, com a obrigatoriedade da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) que exige dos clubes da Série A a criação de times da modalidade. Recentemente, a seleção equiparou a diária de salários dos jogadores e jogadoras. Porém, detalhes importantes, e que fazem diferença, como a personalização das camisas com o nome das atletas, ainda não foram cedidos aos elencos profissionais dos times de elite.
Acompanhando as partidas de futebol do Campeonato Paulista e do Brasileirão, é possível perceber a falta da nomeação das jogadoras nas camisas. Nos comentários das transmissões e nas redes sociais dos clubes, torcedores reclamam e reivindicam a personalização. Apenas Corinthians e Santos têm os nomes das jogadoras na parte posterior do uniforme.
Rita Bove, meia do Santos, reforça a importância da representatividade que a personalização traz para as jogadoras:
"A partir do momento que você entra no vestiário e tem aquele espaço que é reservado somente para você, com o número da sua camisa, o seu nome nas costas, a foto de fundo, é uma sensação única. Você vê que tem uma importância, que você está marcando a história ali dentro do clube. Você acaba sendo representada, aquilo passa a ser sua marca, a torcida te reconhece, o pessoal que acompanha de casa reconhece e sabe que você usa aquele número, que você é a fulana ou a sicrana. É uma representatividade muito grande para nós enquanto atletas poder ter ali seu nome registrado junto ao nome do clube, que é o mais importante. Mas saber que você faz parte dessa história, que você está registrado ali, é uma sensação indescritível."
Em entrevista ao UOL Esporte, Alessandro Rodrigues, diretor de futebol do Santos, diz acreditar que é inadmissível que grandes clubes não estampem os nomes das jogadoras nas camisetas.
"Não tem como um clube do tamanho do Santos, do Corinthians, do Palmeiras, não ter nomeação. O que acontece, você marca aquelas peças no começo do ano, personaliza com os nomes delas, você não vai poder usar para outra jogadora, mas também nem pensaria em reutilizar. Não é um gasto relevante para o departamento, não personalizar seria uma economia muito pequena. A gente sente que é importante no auxílio da construção de uma marca. Não temos nenhuma obrigação contratual de fazê-lo, a gente faz pela preferência das atletas e pela comercialização das peças", analisou.
O Corinthians, por sua vez, utiliza a personalização das camisas desde 2018, ano em que criou uma gestão especial para o futebol feminino. O clube acredita na importância da personalização. Cristiane Gambaré, diretora do Alvinegro, explicou os motivos que levaram a decisão:
"Esse foi um pedido do presidente do clube, Andrés Sanchez, que também entendia ser justo a equipe utilizar os mesmos moldes de personalização, ou seja, nome e número, da camisa da categoria adulta no futebol masculino."
Ainda sobre a importância, o clube considera a valorização para a comercialização dos uniformes: "O fato de personalizar ou não é algo muito pessoal dos clubes, de acordo com suas necessidades, conceitos e até tradições. No nosso caso, vemos como uma forma de aproximar o torcedor do time. Além disso, pode ser uma forma a mais de ativação, já que o torcedor pode comprar a camiseta de sua atleta preferida, com nome e número dela na camiseta", completa Cristiane Gambaré.
O que dizem São Paulo e Palmeiras?
Palmeiras e São Paulo, que subiram para a Série A1 do Campeonato Brasileiro este ano e chegaram às semifinais da competição, por enquanto apenas utilizam a numeração, sem os nomes.
Procurada pela reportagem, a diretoria do São Paulo afirmou não utilizar a personalização por conta da reutilização dos uniformes: "Não colocamos nome por questão de grade de material, por não haver quantidade suficiente disponível para colocar os nomes e atender o profissional e a base feminino".
A diretoria do Palmeiras alegou seguir a regulamentação dos campeonatos: "O Palmeiras cumpre os regulamentos das competições e, além disso, também optou por fazer numerações fixas para as atletas e um corte feminino nas camisas".
Times de tradição no futebol feminino, mas com menos poderio econômico que as potências paulistas, a Ferroviária manifestou à reportagem não usar nomes entre homens e mulheres por conta dos patrocinadores:
"A Ferroviária não tem nome estampado nos uniformes em nenhuma das modalidades, tanto masculino quanto feminino, porque o espaço na traseira da camisa é destinado a patrocinadores. A utilização do nome dificultaria a venda destes espaços. Os nomes são usados em competições cuja utilização é obrigatória, como a Libertadores Feminina."
Já o São José considera o gasto da personalização importante para o departamento, mas faz parte do planejamento futuro utilizar a nomeação das jogadoras. "Consideramos importante a parte do financeiro, mas a questão não tem a ver, é questão de opção. Porém, faz parte do planejamento futuro colocarmos os nomes delas nas camisas", manifestou o clube, em nota à reportagem.
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