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R. Agostinho, candidato no Santos: "Ninguém conhece o torcedor como eu"

Ricardo Agostinho, candidato à presidência do Santos - Reprodução
Ricardo Agostinho, candidato à presidência do Santos Imagem: Reprodução

Eder Traskini

Colaboração para o UOL, em Santos

07/12/2020 04h00

O UOL Esporte segue hoje (7) sua série de entrevistas com os candidatos à presidência do Santos para o triênio 2021-2023. A eleição está marcada para o dia 12 de dezembro.

Na segunda entrevista da série, o candidato Ricardo Agostinho, da "Chapa 3 - Transforma Santos", respondeu às perguntas feitas pela reportagem — que serão padrão para todos os postulantes à presidência. Fernando Silva, candidato da Chapa 1, já falou com a reportagem.

Agostinho afirmou que nenhum dos candidatos conhece o torcedor do Santos como ele, já que ele foi coordenador da embaixada do Santos em São Paulo nos últimos três anos. Para Agostinho, sua chapa merece o voto do associado não só por ele, mas pela qualidade de sua chapa — que promete um projeto para os próximos 30 anos do Peixe.

Entre as ideias da "Transforma Santos", destaque para a intenção de construir um novo CT para o time profissional masculino, passando o CT Rei Pelé para as categorias de base e o CT Meninos da Vila para o futebol feminino.

UOL: Como a chapa pretende pagar as dívidas do Santos? É possível desbloquear o clube na Fifa a curto prazo?

Ricardo Agostinho: Não só é possível, como é necessário. Vamos fazer. O Santos não pode correr o risco de punições e precisa voltar a ser visto como um clube confiável por seus parceiros no mundo todo. A base de qualquer renegociação passa pela credibilidade. Se o credor tiver segurança de que vai receber, de que a gestão é séria, ele vai querer fazer um acordo. E nós temos um comitê de Inteligência da mais alta qualidade. E vamos ter o Álvaro Simões, uma pessoa muito respeitada no sistema bancário internacional. Ele será o nosso negociador.

UOL: Passa pela cabeça da chapa realizar empréstimos pessoais a juros 'zero' ao clube para sanar dívidas?

RA: Isso não será feito, porque não resolve e inevitavelmente vai gerar um conflito de interesses no futuro. A história do clube nos mostra isso. O Santos precisa ser gerido de forma profissional. E misturar dinheiro pessoal com dinheiro do clube é o oposto de profissionalismo. Historicamente clubes que usam dinheiro pessoal dos seus presidentes acabam tendo uma grande piora nas finanças e não o contrário. Isso já aconteceu com o Santos. Não precisamos de mecenas de ocasião, mas de planejamento e responsabilidade.

UOL: Qual é o projeto para as categorias de base? O que pensa sobre as mudanças feitas recentemente por Orlando Rollo, com a contratação de ex-jogadores com identificação com o clube, mas pouca experiência, para os cargos de treinador?

RA: O Santos é um clube com uma tradição muito especial nas categorias de base. Seus maiores ídolos foram formados no clube e precisamos retomar esta vocação de forma organizada. Por isso, a categoria de base, tanto do masculino como do feminino (que pretendemos estruturar), precisa ter grandes profissionais e ser gerida de uma forma técnica, sem política, nem apadrinhamentos. Limitar o percentual de empresários nos futuros contratos já é algo que estudamos também.

É importante uma interação entre os ídolos e os garotos que estão em formação. Mas o mais importante é a competência no trabalho. Os ídolos não devem ser contratados apenas por esse fato, mas estamos dispostos a investir na formação deles. Sobre as mudanças, pensamos que elas devem ser sempre feitas com cuidado e aos poucos. É preciso dar continuidade ao trabalho. Os profissionais devem ter um sentido de carreira. E o clube deve valorizar a construção de uma cultura de trabalho e de uma melhoria permanente. Se trocar tudo a cada administração, perde-se junto o conhecimento que está com eles - sem falar dos custos das demissões, que sempre são altos.

UOL: É a favor de que o Santos tenha equipes de outros esportes, como basquete e futsal?

RA: Sim, certamente. Isso ajuda a fortalecer a marca e a aproximá-la de outros públicos. O futsal, com certeza, está completamente dentro dos nossos planos. Além de ser um caminho natural para o campo, como sabemos e já testemunhamos, pode ser reestruturado com relativa agilidade e um investimento viável. Já tivemos o maior jogador da história com nossa camisa e precisamos retomar isso, seja montando uma equipe competitiva ou revelando novos craques. O basquete não é nossa prioridade agora. Mas, com o crescimento que planejamos para o clube, pode ser que no futuro venha a ser considerado, assim como outras modalidades olímpicas.

UOL: Quais são as metas esportivas para o triênio?

RA: O Santos é um clube que sempre precisa disputar os títulos das competições que disputa. Ganhar depende de uma série de fatores, mas precisamos estar entre os primeiros. Nós acreditamos que o caminho é manter uma cultura de trabalho e um ambiente que propicie uma melhoria contínua.

UOL: Entre montar um time forte apostando em ganhar títulos para pagar os gastos e ter um time mais fraco que fique dentro do orçamento que o clube prevê, qual o candidato escolheria?

RA: Em primeiro lugar, não vejo que a gente precise escolher uma das opções. Podemos perfeitamente ter as duas. Basta a gente parar de desperdiçar tanto dinheiro em más contratações, demissões intempestivas e contratos malfeitos. E um ponto é certo: o Santos não vai gastar mais dinheiro do que arrecada. Isso não resolve todos os nossos problemas, mas é uma premissa. Também já vimos muitas vezes como essa história termina.

UOL: Como aumentar o número de sócios? Qual é o projeto da chapa para o programa Sócio Rei?

RA: O Santos historicamente trata muito mal os seus sócios. Preocupa-se apenas com a arrecadação e nem cuida disso direito. Como resultado, o torcedor acaba também tendo uma relação monetarista conosco. Quando o time vai mal, ele para de pagar. Precisamos chamar os sócios-Rei para dentro do clube, fazê-los sentir que todos fazemos parte da mesma comunidade. Um programa mais amplo, abrangente, adaptável a todos os bolsos e com benefícios proporcionais é o que precisamos. Com todo respeito a outros clubes que figuram entre os de maior torcida no Brasil, pelo tamanho e importância que tem, o Santos não pode contentar-se com um quadro estagnado em 22 mil associados.

UOL: Como gerar mais renda em meio aos desafios da pandemia?

RA: Essa é a pergunta que o mundo todo faz e nós pensamos nesta resposta a cada ação planejada para os primeiros meses de gestão. No nosso caso, o caminho é trabalhar para o aumento de credibilidade do clube, oferecendo a quem acredita em nós a segurança de uma gestão estável e profissional, ações consistentes de marketing, uma equipe competitiva e distância do noticiário de escândalos. Com isso, poderemos criar e vender bem novas propriedades, vender melhor os nossos jogadores, aumentar o número de sócios e ampliar nossas vendas e patrocinadores.

UOL: O que pensa sobre a nova Vila no projeto com a WTorre. Onde o Santos jogaria durante a construção nos dois cenários: durante e após a pandemia?

RA: O ditado diz que não devemos deixar passar um cavalo selado. Já fizemos isso uma vez e precisamos aproveitar agora. Durante a obra, provavelmente vamos ter de jogar em São Paulo. Durante a pandemia, vamos procurar um local que tenha uma boa estrutura e gramado. E depois dela um estádio, que poderá ser o Allianz Parque, o Canindé, o Morumbi e Barueri. Aí vai depender da vontade da torcida e da negociação dos valores de aluguel.

UOL: O que pensa sobre o trabalho de Cuca e seria ele o técnico caso o candidato seja eleito?

RA: Não temos motivos para trocar o técnico só porque vencemos a eleição. Trocar é sempre caro e não necessariamente traz melhores resultados. E o Cuca sem dúvida está fazendo um bom trabalho. Vamos dar tempo para nós nos conhecermos e no futuro se pensarmos numa troca isso terá de estar bem amadurecido.

UOL: Quais os planos para cargos altos como a Gerência de Futebol? É mandatório que tais profissionais tenham identificação com o clube ou o candidato é a favor da contratação de profissionais de mercado mesmo que não tenho identificação?

RA: É claro que a identificação com o clube seria desejável, mas o mais importante mesmo é a competência. Tivemos gerentes de futebol que eram notoriamente ligados a outros clubes e fizeram grandes trabalhos aqui. E tivemos santistas que não foram tão bem. O importante é o foco no resultado.

UOL: Quais são os planos para o marketing? Como aproveitar o potencial identificado nas redes sociais do Santos, sempre com números expressivos, e também como aproveitar a marca Santos no exterior?

RA: O Santos é um dos clubes mais conhecidos no mundo. Todo mundo gosta da gente. Nós temos uma história como poucos clubes, que teve Pelé, Robinho, Neymar e muitos outros craques. Quando eu viajo, sempre me pedem para trocar a camisa do Santos. O Santos tem um potencial muito grande. Precisamos ampliar o plano de sócios para quem mora fora, oferecendo brindes, uma forte comunicação com o clube, uma rede de distribuição e a garantia de que quando ele vier à Vila, vai ter um bom lugar esperando por ele.

UOL: Quais os planos para o CT Rei Pelé e, principalmente, o CT Meninos da Vila das categorias de base?

RA: Pretendemos construir um novo CT, exclusivo e moderno, para o profissional masculino. Já estamos monitorando áreas da Baixada Santista e no nosso Grupo de Inteligência vai nos ajudar a atrair investidores. Com ele pronto, o CT Rei Pelé passará para as categorias de base; e o CT Meninos da Vila será exclusivo do futebol feminino.

UOL: Por que o santista deve votar em você? O que te faz estar preparado para esse cargo?

RA: Em primeiro lugar, nos últimos três anos, eu exerci a direção da Embaixada do Santos em São Paulo com muito sucesso. Ampliamos o número de sócios, fizemos eventos com milhares de torcedores, colocamos ídolos do passado em contato com os sócios. E durante esse período eu conheci o Santos em profundidade. Além do mais, nenhum candidato conhece os torcedores e a arquibancada como eu.

Dito tudo isso, eu acho que o santista não deve votar em mim por só minha causa, mas por causa do nosso projeto e da nossa equipe. O nosso grupo é de uma qualidade que nunca houve na história do clube e provavelmente nunca na história do futebol do Brasil. Montamos um projeto para os próximos 30 anos, para qualquer presidente que venha no futuro, ainda que não seja do nosso grupo. Vamos deixar um legado que vai perdurar. E sou candidato com dois compromissos: não serei candidato à reeleição; e nas reuniões do CG meu voto vai ter peso um. Não vou impor minha vontade. Se o CG decidir contra o que eu penso, vou acatar. Como presidente serei um servidor do Santos e não um rei.

UOL: A gestão Peres foi marcada por várias decisões controversas. Na visão do candidato, qual foi o maior erro da gestão e que o candidato nunca, em hipótese alguma, repetiria?

RA: A gestão do Peres cometeu tantos erros que é até difícil escolher um. Um dos principais, sem dúvida, foi a falta de critério na contração e venda de jogadores. Aceitamos valores altos demais para os atletas dos outros, que algumas vezes nem chegaram a jogar, e vendemos as nossas joias por valores baixos, em alguns casos até ridículos. Várias contratações viraram calotes e arruinaram nossa credibilidade e quase nos proporcionou uma punição na Fifa. Acho que se pode dizer que todos os erros têm a mesma raiz: são fruto de uma gestão personalista, de uma pessoa despreparada técnica e emocionalmente, cercada de auxiliares que também não eram adequados. Foi por isso que tanta gente boa o largou no meio do caminho. O eleitor merece saber que faremos o oposto. Vamos decidir em equipe e não há grupo de pessoas mais preparadas no futebol brasileiro do que os que estão comigo.

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