Rueda sobre emprestar dinheiro ao Santos: "Sou contra. Só há uma exceção"
O UOL Esporte segue hoje (8) com a série de entrevistas com os candidatos à presidência do Santos para o triênio 2021-2023. A eleição está marcada para o próximo sábado (12).
Na terceira entrevista da série, o candidato Andrés Rueda, da "Chapa 4 - União pelo Santos", respondeu às perguntas da reportagem — que serão padrão para todos os postulantes ao cargo. Fernando Silva, da chapa 1, e Ricardo Agostinho, da chapa 3, já falaram com o UOL Esporte.
Rueda recentemente fez um empréstimo ao Santos para possibilitar o pagamento da dívida do Peixe com o Hamburgo (ALE), que ameaçava fazer o clube perder pontos no Brasileirão. Um dos membros do Comitê de Gestão da chapa, Walter Schalka, foi quem negociou com os alemães.
Apesar do empréstimo, Rueda afirmou que é "totalmente contra" o fato de dirigentes colocarem dinheiro do próprio bolso no clube. Ele explicou que, em sua opinião, isso pode ser feito em caráter de exceção, quando há uma iminente "perda irreparável". Confira a entrevista completa:
UOL Esporte: Como a chapa pretende pagar as dívidas do Santos? É possível desbloquear o clube na Fifa a curto prazo?
Andrés Rueda: O que tem de ser feito com a dívida é fácil. Primeiro, não pode gastar mais do que arrecada. É o caminho sem volta para você falir em qualquer empresa, até em pessoa física. Se você ganha dez e gasta 15, você começa buscando a diferença no mercado financeiro. Usa o cartão, o cheque especial, depois faz um financiamento, até uma hora que o mercado financeiro fala: para você não empresto mais. O que acontece: o oficial de Justiça bate na porta e diz: vim buscar seu carro, tomar sua geladeira, seu fogão. No clube, quem é o oficial de Justiça? É a Fifa! Quando a situação toma essa proporção de dívidas não pagas, a Fifa vem e pune o clube. Agora, você vai perder pontos, vou rebaixar você de série do campeonato que participa, vou proibir você de competições internacionais. Ou seja, é o caos! Primeira coisa é equacionar despesas com receitas. Isso vai doer na carne, mas se não fizer isso, não tem como.
A gente teve quase R$ 400 milhões de receita em 2018 e 2019, mas acontece que foram mal gastos, jogados no ralo. Falam que foi para o fluxo de caixa. Resultado: sumiu o dinheiro, não compramos ativos que pudessem representar alguma coisa agora e estamos nessa dívida e nessa situação terrível.
Sobre as dívidas a curto prazo, a primeira ação é sentar com os seus credores e dizer não tenho condições de pagar. Vamos renegociar prazos e juros e fazer o que fizemos com o Hamburgo. Lembra que a dívida original era 4 milhões e 700 mil euros e no final a gente conseguiu negociar e pagar 3 milhões e 100 mil euros. Um milhão e 600 mil euros de desconto na dívida, mostrando que em credibilidade, acordo feito é acordo honrado. Você indo nessa linha, consegue atenuar essa pressão que existe do valor sobre o Santos.
UOL: Passa pela cabeça da chapa realizar empréstimos pessoais a juros 'zero' ao clube para sanar dívidas?
AR: Sou totalmente contra a ideia de dirigentes colocarem dinheiro do próprio bolso no clube. Isso é uma demonstração de amadorismo. Essa regra só admite uma exceção: quando a falta de dinheiro levaria o clube a uma perda irreversível. Em dois momentos distintos, o Santos vivia esse tipo de situação, por isso decidi emprestar dinheiro em 2015 e agora em 2020, para que o clube acertasse a dívida com o Hamburgo e não perdesse pontos no Campeonato Brasileiro. O torcedor deve escolher a nossa chapa se considerar que somos a equipe mais preparada para este desafio que será administrar o clube no próximo triênio. Eu, pessoalmente, tenho certeza disso, pois confio nas pessoas que estão ao meu lado.
UOL: Qual é o projeto para as categorias de base? O que pensa sobre as mudanças feitas recentemente por Orlando Rollo, com a contratação de ex-jogadores com identificação com o clube, mas pouca experiência, para os cargos de treinador?
AR: Na situação em que estamos, nos primeiros anos a base será a principal geradora de receita para nos tirar do atual sufoco financeiro em que nos encontramos. Essa é a realidade prática. Urgente, tem de ter uma infraestrutura para poder atender os atletas. É vergonhoso, com tanta receita que nossa base gerou, não ter um espaço de primeiro mundo para poder ter seu desenvolvimento. Não digo só campo, você tem de ter todo o alojamento para jogadores. Na base existem muitos que estão longe da família. Tem de ter suporte, espaço para tratamento médico, recuperação, sala de reuniões, entretenimento. Comportar a base como deve ser comportada.
Como sempre digo: o Santos carece de processos. Precisa ter claro o que se espera e quais são os procedimentos. Na base não está claro como os atletas são captados. A gente perdeu os olheiros que tinha no Brasil inteiro, perdeu o vínculo com as escolinhas. A gente sabe que, no fundo, tem coisa errada. Temos de corrigir isso. O Santos tem de ter de ter processos do começo ao fim em cada etapa. Como capta jogador, como é feita a peneira, como a base tem de ser treinada, qual o preparo físico que espera para cada categoria. E com isso começa a ter um jeito do Santos ser.
UOL: Quais são as metas esportivas para o triênio?
AR: O Santos FC tem a obrigação de entrar em todos os campeonatos que disputa para ser campeão. Então, esta será a nossa meta esportiva: conquistar títulos, o que, infelizmente, não acontece no clube desde 2016. Tenho muita confiança e esperança que seremos campeões de competições importantes no próximo triênio.
UOL: Entre montar um time forte apostando em ganhar títulos para pagar os gastos e ter um time mais fraco que fique dentro do orçamento que o clube prevê, qual o candidato escolheria?
AR: Essa pergunta coloca um dilema que, na minha opinião, não existe. Cumprir o orçamento é obrigação de qualquer entidade e, no caso do Santos FC, também temos o dever de entrar em todas as competições esportivas para ser campeão. Ou seja, tenho certeza que a nossa gestão cumprirá os orçamentos anuais e lutará por todos os títulos.
UOL: Como aumentar o número de sócios? Qual é o projeto da chapa para o programa Sócio Rei?
AR: O primeiro passo e mais importante é ouvir o sócio. O clube já foi até a torcida e seus sócios e perguntou: o que vocês querem? É primordial escutar, ter canal para ouvir seu sócio e sua torcida. Na nossa campanha criamos um APP [aplicativo] onde realizamos pesquisas e abrimos um canal direto com o torcedor para apresentar ideias. O Santos, até hoje, não tem um APP. Nossa ideia é logo nos 100 primeiros dias fazer uma ampla pesquisa com o sócio para poder implementar melhorias no programa Sócio Rei.
O sócio, o torcedor ou o simpatizante precisa ser visto como cliente. Precisamos saber o que ele quer e valoriza. Com base nisso, partiremos para a produção dos mais variados produtos, sejam relacionados a jogos, ingressos, material esportivo, experiências etc. Hoje, o mecanismo funciona ao contrário. Oferecemos o mínimo possível e só sobrevivemos porque o consumidor de futebol é o mais fiel entre todas as indústrias pesquisadas. Ele não muda de produto! E isso não é bom, pois fez a indústria toda se acomodar. Ficamos muito para trás no Brasil. Temos uma visão muito clara de onde queremos levar o clube. Nossa missão a médio e longo prazo é levar o Santos a que seja novamente um dos principais players do futebol na indústria do entretenimento.
UOL: Como gerar mais renda em meio aos desafios da pandemia?
AR: Uma das principais maneiras é por meio de uma loja virtual eficiente. Um lugar que venda e entregue rapidamente, em qualquer lugar do mundo, todos os produtos oficiais do clube. É uma vergonha, mas hoje isso ainda não acontece: temos pouca diversidade de produtos, muitas vezes não se tem opções de tamanho, não se faz entrega no Brasil, só se ouve reclamações de nossos torcedores.
Além disso, precisamos monetizar mais a nossa presença digital. Tudo ficará mais claro quando o clube ouvir o que o torcedor quer. Por isso que faremos uma pesquisa ampla com nossos associados nos primeiros 100 dias de 2021.
UOL: O que pensa sobre a nova Vila no projeto com a WTorre? Onde o Santos jogaria durante a construção nos dois cenários: durante e após a pandemia?
AR: O projeto da WTorre é fantástico. Muda o patamar do clube quanto ao conforto da sua torcida. Muito interessante a empresa que está por trás, pois a WTorre tem experiência. O que foi apresentado agrada e é o que a gente gostaria de ter um dia. É muito aderente ao modelo que falamos da indústria do entretenimento, onde tem de ter espaços de convivência, parte alimentar bem resolvida, vaga para quase mil carros. Projeto arquitetônico é muito agradável de se ver.
O único ponto que me preocupou é na parte comercial do negócio em si. Coloquei duas dúvidas para eles. A gente seria obrigado a jogar somente na arena? O caso do Santos é peculiar. Tem torcidas em Santos e São Paulo. Tem de ter liberdade de escolha de jogar na arena ou não. Outro ponto na proposta inicial deles é que queriam cobrar de R$ 10 a R$ 15 por torcedor que frequente o estádio. A gente já parte de um ingresso de no mínimo R$ 20, que seria R$ 15 para eles, mais custo de seguro, Federação, e isso fugiria um pouco da política que a gente quer implementar de popularizar o acesso ao estádio para a nossa torcida.
Agora, nada de impeditivo. Tem de sentar na mesa, o Santos com pessoas do lado de cá, defendendo os interesses do clube, e chegar um bom entendimento para todos. O projeto em si é muito aderente para o que imagina para o futuro do clube. Estou confiante de que esse projeto irá adiante.
UOL: O que pensa sobre o trabalho de Cuca e seria ele o técnico caso o candidato seja eleito?
AR: Não falamos em nomes e sim em perfis. Tem de ser um técnico que goste de jogar para frente, com DNA ofensivo, como a torcida quer. Se não for assim, não serve. Tem de gostar de jogar com a base. O Santos precisa sim da sua base para ajudar no campo e financeiramente. Precisamos de um técnico parceiro, que entenda a situação financeira do clube e não reclame na imprensa na primeira derrota do time, falando que pede jogador e a diretoria não traz. A gente está traçando perfis em todas as áreas e na hora certa vai no mercado e vê quem se encaixa. E o Cuca tem muita coisa desse perfil. Neste momento, o Cuca está bem aderente a esse perfil.
UOL: Quais os planos para cargos altos como a gerência de futebol? É mandatório que tais profissionais tenham identificação com o clube ou o candidato é a favor da contratação de profissionais de mercado mesmo que não tenho identificação?
AR: Vamos traçar sempre o perfil do que queremos, dando sempre prioridade em igualdade de condições para quem tenha identificação com o clube. Não é o momento para se falar em nomes, até por respeito a todos os profissionais que estão se dedicando ao Santos atualmente.
UOL: Quais são os planos para o marketing? Como aproveitar o potencial identificado nas redes sociais do Santos, sempre com números expressivos, e também como aproveitar a marca Santos no exterior?
AR: Um dos problemas realmente é saber o que é marketing e o que é comercial. Para o Marketing, a questão mais relevante de curto prazo é repaginar a nossa marca, que vem sendo sistematicamente arranhada. Tem de passar credibilidade. Em paralelo, tem uma função muito forte, que é atender o sócio e a torcida, sabendo o que eles querem. Tem de ir no seu cliente. O sócio, além de ser o dono do clube, é um cliente. Entender o que eles querem para abraçar o Santos. É fundamental.
Em paralelo, abrir rapidamente fontes novas de receita. Ter um e-commerce, onde tenha toda a sua linha de vestimenta e não só isso, todos os produtos licenciados, desde canetinha até uma geladeira com o símbolo do Santos. Onde você, de qualquer parte do mundo, possa entrar, escolher cor, tamanho tipo, fazer seu pedido, pagar pelo cartão, da maneira que for. Onde a gente fature, receba e entregue. Essa é uma fonte que, se for bem explorada, será muito significativa. E outra fonte que a gente espera monetizar é conteúdo. O mundo está mudando, futebol está mudando. Está deixando de ser uma partida de 90 minutos. O público quer consumir conteúdo, saber o que acontece. Transmitir futebol de base, feminino, tudo que tenha direito.
UOL: Quais os planos para o CT Rei Pelé e, principalmente, o CT Meninos da Vila das categorias de base?
AR: É fundamental que o Santos FC ofereça uma estrutura de primeiro mundo aos seus atletas profissionais e das categorias de base. Para garantir a realização deste objetivo, reservaremos uma porcentagem das receitas extraordinárias, como venda de atletas, para investimento em nosso patrimônio. Quando formalizarmos esse modelo no Conselho Deliberativo, todas as futuras gestões do clube precisarão seguir esse encaminhamento, o que garantirá uma manutenção adequada e uma modernização constante dos nossos CTs pelas próximas décadas.
UOL: Por que o santista deve votar em você? O que te faz estar preparado para esse cargo?
AR: Experiência de vida e tudo o que eu construí na minha profissional me levam a crer uma capacidade de gestão muito interessante. Já fui funcionário, diretor, empresário, sempre com sucesso. A empresa que eu toquei tinha um faturamento muito similar ao clube e isso, no meu entendimento, somado à minha disponibilidade de tempo, me leva a acreditar que tenho total condições de gerenciar nosso clube.
Tudo na vida são experiências que você acumula e vão te dando o seu jeito de ser. Eu tive aprendizado de suportar pressão. Isso é normal, faz parte. Você adquire na vida. Uma pessoa que nunca passou por isso, ela não aguenta.
Mas, como sempre falo, um presidente não pode gerir o clube sozinho. O Santos precisa de executivos capazes e experientes para sair da crise atual. Estamos convidando para o Comitê de Gestão pessoas com extrema capacidade de gestão, que já se destacaram e se destacam em suas áreas. Nossas escolhas são feitas estritamente por critérios técnicos. Um exemplo é o Walter Schalka, CEO da Suzano, a maior empresa de celulose do mundo, e que já demonstrou, no caso do Hamburgo, uma capacidade muito grande de negociar, renegociar dívidas, buscar credibilidade. É o que o clube precisa, gente com capacidade de execução.
UOL: A gestão Peres foi marcada por várias decisões controversas. Na visão do candidato, qual foi o maior erro da gestão e que o candidato nunca, em hipótese alguma, repetiria?
AR: Tentar governar sozinho o clube, sem estar preparado para isso, desrespeitando o estatuto do clube e gastando muito mais do que a receita permitia.
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