Entenda a "aula" em que Sabella explicou como travou o Barça de Guardiola
Após a morte do treinador argentino Alejandro Sabella, aos 66 anos, na última terça-feira (8), viralizou na internet um vídeo em que ele explica em detalhes como preparou o Estudiantes para competir com o todo-poderoso Barcelona na final do Mundial de Clubes de 2009. Em frente a uma lousa, Sabella fala e desenha as ideias táticas que passou para os jogadores e que ajudaram o time de La Plata a levar o duelo até a prorrogação.
Para quem não lembra, aquela foi uma das finais mais parelhas entre um sul-americano e um europeu em tempos recentes no Mundial. O Estudiantes saiu na frente aos 37 minutos com um gol de Boselli, hoje no Corinthians. O Barça de Guardiola, que ganhou nada menos que seis títulos naquele ano, só conseguiu empatar no sufoco, com Pedro, aos 44 do segundo tempo. Na prorrogação, Messi definiu a vitória por 2 a 1 e o título do Barça.
O UOL Esporte destrincha a explicação de Sabella e ilustra com imagens da partida como as ideias do treinador surtiram efeito e travaram o jogo do Barça naquela final. Confira:
1 - A defesa com cinco jogadores
"Fizemos linha de cinco, mas com uma particularidade: os laterais jogavam avançados. Jogávamos com três defensores centrais", explicou Sabella. A preocupação do treinador, segundo ele, era neutralizar a principal jogada ofensiva do Barça: a flutuação de Messi da direita para o centro. Vale lembrar que, naquela temporada, Messi jogou principalmente como ponta direita, com Ibrahimovic como centroavante.
Sabella diz que Messi costumava arrastar um zagueiro para fora de posição e deixava Ibra no mano a mano com o outro defensor. Com a linha de cinco atrás, isso não aconteceu. O zagueiro pela esquerda, Germán Ré, colou em Messi o tempo todo e perseguiu o argentino pelo campo; mas os outros dois, Desábato e Cellay, continuavam tendo superioridade numérica sobre Ibrahimovic.
2 - Igualdade numérica no meio-campo
"Onde o Barça era forte? Normalmente os times jogavam em 4-4-2 contra o Barcelona, e no centro do campo ficavam três do Barça contra dois do rival. Assim, não tiravam a bola deles". Assim Sabella explicou a opção por manter sempre três meio-campistas centrais (Braña, Benítez e Verón), para ter igualdade numérica no setor mais forte do Barça.
Sem o lesionado Iniesta, o meio-campo do Barça teve Busquets, Xavi e Keita na final. Normalmente, Braña colava em Keita, Benítez perseguia Xavi e o capitão e veterano Verón, um pouco mais avançado, vigiava Busquets. Mas havia variações, com Braña recuando um pouco mais para proteger a zona em que Messi jogava. Neste caso, Enzo Pérez, que jogou mais adiantado, voltava para ajudar os meio-campistas. Falando em Enzo Pérez...
3 - A tripla função de Enzo Pérez
Sabella explica que usou um de seus jogadores de maior fôlego, Enzo Pérez, em uma tripla função. O camisa 8 jogou mais adiantado, praticamente com um atacante ao lado de Boselli, mas tinha várias tarefas táticas a cumprir. A primeira era travar a saída do Barça pela esquerda com o lateral Abidal, que era mais defensivo que Dani Alves pela direita (quem cuidava do brasileiro era o ala esquerdo do Estudiantes, Díaz).
Além disso, Pérez também precisava se infiltrar na zaga do Barça, no espaço deixado entre Puyol e Abidal, atacando a área para receber passes em profundidade. "Foi assim que nos primeiros 20 minutos tivemos duas chances", lembra Sabella. Por fim, como já mencionado, Pérez às vezes recuava para ajudar o trio de meio-campistas na marcação, principalmente quando Keita conseguia avançar com a bola pela esquerda.
4 - Marcar Piqué e deixar Puyol livre
A última explicação tática de Sabella envolveu a forma de marcar a saída de bola do Barcelona. A opção foi concentrar a marcação em Piqué, que tinha mais qualidade de passe, e deixar Puyol mais livre. Normalmente, Boselli fechava Piqué, enquanto Pérez se preocupava com Abidal. Assim, Puyol, mais limitado com a bola, era obrigado a sair jogando.
Com os meio-campistas do Barça também marcados de perto, o resultado foi um festival de chutões e lançamentos, bem mais do que o normal para a equipe de Guardiola. A ausência de Iniesta também contribuiu, é claro, mas o fato é que as estratégias de Sabella conseguiram anular a criatividade do Barça — o gol de empate saiu depois de um chuveirinho na área que Piqué, que virou atacante no desespero, escorou para Pedro marcar. No tempo extra, Messi marcou de peito e enterrou o sonho do Estudiantes.
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