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Ex-mulher de Alê Oliveira detalha abusos: "Tá vendo o que me fez fazer?"

Tereza Santos, ex-mulher do comentarista Alê Oliveira - Reprodução/Instagram
Tereza Santos, ex-mulher do comentarista Alê Oliveira Imagem: Reprodução/Instagram

Pedro Lopes

Do UOL, em São Paulo

11/12/2020 14h15

Tereza Santos registrou o primeiro boletim de ocorrência contra o então marido, o comentarista esportivo Alê Oliveira, em 2008. A polícia ainda seria acionada mais uma vez naquele ano, e outras quatro vezes nos onze anos seguintes do relacionamento, como revelado ontem pelo UOL Esporte. Hoje, Tereza conseguiu na Justiça uma medida protetiva que impede que o ex-marido se aproxime a menos de 300 metros dela e tente contatá-la. A ação judicial, referente a um boletim registrado nesse ano, ainda está em curso.

Em entrevista exclusiva à reportagem, Tereza descreveu a relação com o comentarista e afirmou que sofreu ofensas e humilhações frequentes durante todo o relacionamento. Hoje ela admite ter riscado o carro de Alê após ter sido alvo de mensagens do ex-marido e espera, por meio das redes sociais, ajudar mulheres a compreender que podem estar em relacionamentos abusivos e devem buscar uma rede de proteção.

UOL Esporte: você registrou seis boletins de ocorrência contra o Alê Oliveira em 11 anos. Como é viver um relacionamento assim por tanto tempo?

Tereza Santos: "Um relacionamento abusivo, até você entender que está dentro, é difícil. Eu vou fazer 44 anos, o machismo está aí. Venho de uma criação 100% machista, tive um pai machista. Aconteciam abusos que hoje a gente sabe que são abusos, mas que eram compensados com o 'ah, é a personalidade dele', 'ele trabalhou muito hoje', 'está nervoso'. Você cresce com essa visão, traz isso para a vida, e aí quando o cara te ofende, o cara te humilha, te cerceia, você pensa 'ah, hoje ele estava bravo, mas ele me ama muito'. 'Ele está mandando eu tirar a saia porque está preocupado só'.

Depois que você se separou você passou a falar mais abertamente sobre assunto e inclusive a dialogar com outras mulheres. É algo que você pretende seguir fazendo?

"Desde que eu me separei, abri o Instagram e montei o papo afiado para falar de relacionamento abusivo, de liberdade da mulher, exatamente por causa disso. As mulheres têm dificuldade de entender que estão dentro do relacionamento abusivo. Quando entendem, não conseguem sair, estão dependentes financeiras, emocionais e não têm uma rede de apoio. Os próprios familiares, quando ela relata, dizem "mas ele é tão legal, você está louca". Ninguém acredita em você, como vai sair dali? Você mesma se questiona. Os casamentos antigamente não duravam mais porque tinha mais amor, duravam porque tinha o silêncio.

O Alexandre, ao se defender, disse que eram ofensas mútuas. Vocês discutiam muito?

"A sociedade coloca a mulher em uma situação muito doida. Claro que uma mulher não é 100% vítima, claro que houve embates verbais meus com o Alexandre, é óbvio. Um cara que te ofende com frequência. Eu ia ficar só chorando? Eu já teria morrido se fosse assim."

NOTA DA REDAÇÃO: Em posicionamento enviado ontem ao UOL Esporte, Oliveira disse: "o término do meu casamento me fez demonstrar que meu relacionamento não foi saudável, mas claramente houve excessos de ambos os lados" e "Afirmo que nunca houve agressão física ou ameaça disso - mas sempre agressões verbais mútuas, quase sempre por questões financeiras e ciúmes". O posicionamento é reproduzido na íntegra no final da matéria.

Às conversas às quais tivemos acesso mostram ofensas pesadas dele a você, xingamentos, ameaças (em uma mensagem, Oliveira chama de Tereza de "p... burra" e "jumenta". Em outra, de "covarde". Em áudios, a acusa de estar roubando, e, à advogada da ex-mulher, Thaysa Pinheiro, diz "tenho outros caminhos, mas não quero usá-los porque quero permanecer no bem"). Isso acontecia durante todo o relacionamento?

"Ele sempre foi assim. Aí chegava no outro dia, 'eu te amo', 'fiz isso porque sou louco por você, você me deixa fora'. 'Tá vendo o que você me faz fazer?'. 'Todo mundo gosta de mim'. E era verdade, ele é uma pessoa carismática, sedutora, engraçada. E aí você pensa 'ah, ele tem razão, sou eu mesmo'. 'Ele tem razão, melhor não usar saia, ele fica preocupado comigo se eu uso saia'. Começa a ficar alienada, começa a ficar doente, triste, a chorar, ter princípio de depressão, porque aquela pessoa não é mais você".

Nas conversas ele também a ataca falando sobre dinheiro e faz ameaças...

"Existiam ameaças constantes, por eu ser assessora dele e o dinheiro ser da família. Trabalhávamos juntos, mas na hora das brigas era 'você não trabalha p... nenhuma, eu sou o cara, o personagem, e você só atende telefone e pega o dinheiro'. E ele deu várias entrevistas, inclusive para o UOL, dizendo que eu era a mãe, a companheira, a parceira". (A reportagem teve acesso a um áudio enviado por Oliveira a Tereza durante o casamento, em 2018. Nele, durante uma discussão sobre o trabalho da mulher como assessora e agente, o comentarista a acusa de roubo, diz que o dinheiro dela irá acabar e ele seguirá sendo quem é, e termina dizendo 'já você...' e dando gargalhadas)".

Na ação judicial também há registros dele a atacando pelas fotos que você posta em redes sociais. A preocupação com a forma que você se vestia era constante?

"O fato de eu colocar uma foto de biquíni nas redes não me desqualifica como pessoa, como mulher, como mãe. Ele batia muito nessa tecla. E continua até hoje, são sete meses de separação, deveria ter acabado. Tudo o incomoda, as fotos que posto, as coisas que falo. Enquanto eu era casada com ele eu tive mil seguidores, pois o combinado era manter meu Instagram fechado. Uma foto não diz absolutamente nada. Sabrina Sato, Juliana Paes, Aline Riscado postam foto de biquíni e estão desqualificadas como mãe, como apresentadora, como profissional por colocarem uma foto de biquíni? Após o divórcio dele ele direcionou lives dele para o público pornô, com atriz pornô. Ele pode porque ele é homem".

Hoje você não mantém mais qualquer contato com ele?

"Depois da separação bloqueei ele em tudo, cortei o contato, para que o círculo vicioso não se repetisse. Abusadores não sabem que são abusadores, repetem um padrão".

Para se defender e dizer que existiam ofensas mútuas, ele mostrou um vídeo no qual você aparece riscando o carro dele no condomínio onde vivem. É você mesmo no vídeo?

"Eu risquei mesmo o carro. Foi no dia em que ele mandou um áudio para minha filha. Foram anos de ofensas, eu não aguentava mais já. Claro que não justifica, não justifica nada, mas eu não aguentei. Eu era considerada uma doida, ele não me reconhecia como nada, não reconhecia o que eu fiz pela carreira dele, não me reconhecia como mulher, não me reconhecia como mãe. Até na televisão, sempre me pintava como o demônio, falando que eu tinha tomado um apartamento dele. Eu fiquei saturada"

Hoje você tem uma medida protetiva na Justiça que impede que ele se aproxime de você e te contate. O que você ainda espera conseguir?

"A mulher é sempre muito desacreditada, sempre vem a história de que quer fama, quer dinheiro. Eu não queria nada. Eu só quero que isso termine, que eu consiga viver com minha filha, que ele trate tudo judicialmente sem expor mais minha filha nas redes sociais porque hoje ela é minha única preocupação".

Veja na íntegra o posicionamento enviado por Alê Oliveira à reportagem ontem:

"É sabido que, nesta semana, surgiram nas redes fatos expondo a mim e à minha família, contendo informações parciais sobre o meu divórcio.
Não sou santo, como nenhum santo há na relação que tive - e que se desfez.
O término do meu casamento me fez demonstrar que meu relacionamento não foi saudável, mas claramente houve excessos de ambos os lados.
Boletins de ocorrência devem ser vistos como são: relatos unilaterais interessados. E, nesse ponto, há desses boletins lançados tanto contra mim que nunca foram para frente, assim como há outros por mim registrados contra minha ex-esposa.
Afirmo que nunca houve agressão física ou ameaça disso - mas sempre agressões verbais mútuas, quase sempre por questões financeiras e ciúmes.
Áudios parciais que vazaram foram descontextualizados de quando e como foram falados, em uma covarde tentativa de sugerir agressões físicas e/ou ameaças. Em um deles, quando no início do processo de separação afirmei que iria separar as contas correntes do então casal, utilizei o termo de efetuar uma "sangria" (termo comum a qualquer comerciante que se refere ao procedimento de retirada não programada de dinheiro do caixa). A discussão era, como sempre, financeira e a interpretação dada a isso é um factóide.
Retirado do seu contexto, a colocação nas redes sociais foi manobra estudada e bastante maliciosa para sugerir uma realidade que jamais houve. É uma atitude de desespero face ao calor de um litígio judicial que está em curso.
Meu carro foi, recentemente, riscado (com imagens que comprovam o fato e devido registro junto autoridade policial); compras foram feitas sem utilização utilizando mecanismos de segurança de meu cartão de crédito (o que já foi objeto de registro policial e terá consequências); áudios de ameaças foram enviados para mim; mas isso é matéria para ser entregue aos tribunais.
Desde a tomada de iniciativa de me divorciar, passei a ser atacado de todas as formas, mas o que pegou, mesmo, foi a manobra de me afastar de minha filha. Utilizar uma adolescente como moeda de barganha é algo absolutamente condenável.
Por isso o meu justo desabafo. A questão patrimonial não deveria interferir na relação pai x filha. Mais uma vez deixo claro: absolutamente todos os relatos de agressões que teriam feito jamais sugerem quaisquer violências físicas, senão ALEGAÇÕES de ofensas verbais - que sempre foram MÚTUAS. O único elemento que possa sugerir isso foi tirado de um contexto de discussão sobre gastos e finanças pessoais. É uma covardia e um discurso que "joga" para as redes sociais.
Todas as denúncias não se converteram em qualquer processo, com exceção da feita recentemente, que está em curso e será respondida.
As redes sociais estão repetindo uma briga de casal que ocorre como desdobramento do divórcio e com a discussão sobre a guarda e visitação com minha filha. Estou em desconstrução e cometi alguns excessos, até em razão das circunstâncias deste fim de relacionamento que resumo acima.
Encaminho para publicação, com essa nota, inúmeras imagens de postagens feitas pela minha ex-esposa me tendo como exemplo de marido, pai e padrasto, tirada de momentos felizes que vivemos. Tempos em que, por vez ou outra, tivemos desavenças e boletins de ocorrência e percalços, tirados de ânimos exaltados.
Eu torno a desabafar: sinto falta de minha filha e nunca deixarei de lutar contra todas as forças que tentam (e conseguem) afastá-la."