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Em áudio, Robinho tenta impedir conversa de vítima com amigo no Facebook

Adriano Wilkson e Janaina Cesar

Do UOL, em São Paulo e Milão

14/12/2020 04h00

O atacante Robinho se mostrou preocupado ao saber que um de seus amigos estava conversando pelo Facebook com a mulher que o acusa de estupro, mostra a transcrição de um áudio anexada ao processo que levou a sua condenação, na Itália. O documento foi obtido com exclusividade pelo UOL Esporte.

O jogador e o amigo Ricardo Falco foram condenados em segunda instância, na última quinta-feira (10), a nove anos de prisão por violência sexual coletiva, crime que teria acontecido em 2013, em uma boate de Milão. Na época ele atuava pelo Milan. Sua defesa afirmou que vai recorrer à terceira e última instância. Contratado pelo Santos, ele aguarda a resolução do caso em liberdade, no Brasil.

Um ano depois do encontro na boate, Robinho telefonou a um dos amigos que estavam no Brasil. E relatou que a vítima havia descoberto o nome de todos os envolvidos no ato. Ela teria então passado as informações à polícia, que tentava interrogá-los. A conversa foi gravada com autorização judicial.

Esta reportagem omite o nome dos companheiros de Robinho que não estão sendo processados pela Justiça italiana.

Robinho: "Agora a questão é o seguinte, mané. A questão é que o [amigo 2] ficou trocando maior ideia com a mina, a mina foi pelo Facebook pegou todo mundo, pegou tu, eu falei: 'Como que a mina sabe, como que o cara sabia o nome de vocês?'"

Amigo 1: "Que isso cara, então alguém que deu, e foi o [amigo 2]."

Robinho: "É, eu quero falar com o [amigo 2], mano, pro [amigo 2] sacar bagulho de Facebook porque os caras estão investigando e não é brincadeira, não."

A transcrição foi anexada ao processo pela defesa do atacante, que alegou erros de tradução da língua portuguesa para a italiana. No documento, constam a transcrição do áudio original e uma tradução para o italiano, feita pelo tradutor Adriano Lellis Gaiotto.

Um dia depois do encontro na boate, a mulher, que comemorava seu aniversário de 23 anos, passou a conversar com ao menos dois amigos de Robinho pelo Facebook. Os amigos tentavam convencê-la de que a relação sexual havia sido consensual, embora a vítima insistisse que estava muito alcoolizada para dar consentimento.

Através de tecnologias de geolocalização, a polícia descobriu que, enquanto conversava com a vítima, um dos amigos estava na rua em que Robinho morava na Itália. Quando as investigações chegaram mais perto de si, Robinho se mostrou irritado com o bate-papo.

Robinho: "Eu falei 'Cara! Se esse bagulho sair na imprensa vai me foder', aí, resumindo, falou que perguntou de você, falou que tinha seu nome, seu telefone, porque o [amigo 2] ficou falando com a mina pelo telef... pelo Facebook mano..."

O jogador tentou entrar em contato com o amigo para que ele parasse de conversar com a vítima.

Amigo 1: "Mas, mas, Neguinho, [...] ainda falei pro [amigo 2] 'mano, esquece isso aí', quer ficar batendo papo.

Robinho: "Exato. Mas então eu quero tentar falar com ele, mas eu não consigo falar com ele, eu preciso [...]"

Em outro trecho, Robinho afirma acreditar que seu nome só foi envolvido na denúncia depois que a vítima conversou com seus amigos pela internet, já que a mulher não teria conhecimento sobre quem ele era. No entanto, ela afirmou à Justiça que já conhecia o atacante brasileiro, pessoalmente, desde antes do encontro em 2013.

Robinho: "Mano, o [amigo 2] deu maior mole de ficar querendo resenha com a mina, de ficar de ideinha, de pá, por causa do Facebook a mina pegou todo mundo, porque até então a mina só ia falar que conhece o Jairo [músico que tocou na boate] e o Ricardo, porque ela não conhece ninguém, ela não me conhece, meu telefone ela não tem."

Conversas gravadas foram fundamentais para condenações

A polícia, o Ministério Público e a Justiça consideraram "auto incriminatórias" as conversas gravadas entre Robinho e seus amigos. Ao lado do depoimento da vítima e de testemunhas presentes na boate, as transcrições, traduzidas para o italiano, foram as principais provas produzidas pelas investigações.

Robinho e seus advogados têm argumentado que elas foram tiradas de contexto ou mal traduzidas. O jogador sustenta que recebeu sexo oral de maneira consensual, que não fez sexo com penetração e que, portanto, não praticou o crime de estupro.

A publicação das conversas privadas do jogador, em outubro, causou uma onda de indignação e levou patrocinadores a pressionarem o Santos. O clube resolveu suspender o contrato com o atacante, até que o caso tenha um desfecho.